Sexta, 31 de agosto de 2018
Ontem o próprio ministro da educação, Rossieli Soares, no momento da divulgação dos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), reconheceu o estado de falência do ensino médio no Brasil. Sua palavras foram lapidares:
?O ensino médio está no fundo do poço. É inaceitável que mais de 70% dos estudantes do ensino médio estejam no nível insuficiente tanto em língua portuguesa quanto em matemática, após 12 anos de escolaridade?.
O título da notícia no próprio site do Ministério da Educação assusta:
Apenas 1,6% dos alunos do Ensino Médio têm aprendizagem adequada em Português
Assim como a notícia repercutiu em todos os grandes meios de comunicação:
Veja - ?O ensino médio está no fundo do poço?, diz ministro da Educação
Istoé - Brasil completa 20 anos sem avanço no ensino médio
UOL - Só 9 estados crescem em português e matemática no ensino médio
Aí vem a pergunta óbvia: Se o ensino médio está arruinado, como é que o MEC, ignorando essa realidade, tem autorizado quase que diariamente a abertura de novas faculdades em todas as áreas?
E não existe estudantes com a base mínima necessária para o ingresso no nível superior, porque o Ministério chancela a abertura de novas instituições quase todos os dias de forma ininterrupta e frenética?
O Blog Exame de Ordem acompanha a abertura de faculdades de Direito, o que é um tema afim, mas sabe-se que a expansão, da forma como tem sido feita, afeta doso os ramos do conhecimento:
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A ostensiva guerra do MEC contra os Conselhos de Classe
A impressionante realidade do ensino superior privado no Brasil
Iniciada a era do desmonte do ensino superior no Brasil
Como o MEC e o CNE autorizam mais vagas se os egressos do ensino médio NÃO TÊM CONDIÇÕES de cursar o ensino superior?
É nítida a mais completa ausência de uma política pública educacional no país. Ensino médio e superior estão desconectados, sendo que o ensino superior NÃO SERVE hoje para formar os profissionais do futuro, pelo simples fato (público e notório) que a preocupação está simplesmente em lotar salas e não em formar.
Como formar um público que não domina a língua portuguesa e os rudimentos da matemática?
Como esse público entra nas faculdades?
Com base em que o Ministério da Educação permite a absurda expansão de instituições, especialmente agora em 2018?
Não é, sem a menor sombra de dúvida, em função das estatísticas e dados do ensino médio.
O MEC e o CNE deveriam ser OBRIGADOS a revelar os estudos e critérios que chancelam a abertura indiscriminada de novos cursos.
Deveriam ser obrigados a produzir estudos para verificar o tamanho do universo de ANALFABETOS FUNCIONAIS que estão na graduação hoje.
O resultado, tenho certeza, seria assombroso.
Dados de 2012 já mostravam um quadro vergonhoso:
Estadão - No ensino superior, 38% dos alunos não sabem ler e escrever plenamente
De lá até hoje nada foi feito.
Sem a menor sombra de dúvida, faculdades que aceitam em seus quadros analfabetos funcionais deveriam ser fechadas.
A verdade é que uma auditoria séria deveria ser feita no âmbito do CNE e do MEC. A atual conjuntura é simplesmente escandalosa, desconectada da realidade e serve para atender outros interesses que não o da educação em si e da população.
Está tudo errado e os dados publicados ontem pelo Inep escancaram isso de forma insofismável.
Onde estão o TCU e o MPF nessas horas?
Onde está a OAB para judicializar essa questão?
Está na hora de parar o que estão fazendo com milhões de estudantes, que entram no ensino superior com a esperança de um futuro melhor e saem apenas com um canudo na mão e sem o domínio de nenhuma competência real para o exercício profissional.
Não existe um esquema de concentração de renda mais cruel do que este.