Sete sérias considerações sobre a prova online da OAB

Segunda, 19 de abril de 2021

Sete sérias considerações sobre a prova online da OAB

Este texto é resultado de uma séria reflexão sobre o futuro da prova da OAB, especialmente após ser divulgado que há reais estudos em andamento quanto a torná-la uma prova online.

OAB vai anunciar possível solução tecnológica para o Exame de Ordem

Informações importantes sobre o Exame de Ordem

Após refletir com calma sobre o anúncio, não posso deixar de manifestar minha PREOCUPAÇÃO quanto a implementação da prova da OAB no formato online.

Há de se considerar o posicionamento da Ordem no sentido de que eventual prova online não seria aplicada ao menos nas próximas duas edições, o que retiraria o principal motivo de sua aplicação neste momento: conseguir superar as dificuldades impostas pela pandemia.

Considerando isto, a prova online apresenta SÉRIAS desvantagens para os candidatos e, em especial, um risco para a CREDIBILIDADE do Exame.

E aí reside minha maior preocupação: a credibilidade do Exame vir a ser afetada, o que seria um passo IMENSO para os (muitos) detratores da prova terem fortes argumentos para acabar com ela.

Lembro-me bem quando o Dr. Marcus Vinícius Furtado Coelho, ex-presidente da OAB, disse que o Exame de Ordem era uma das coisas mais sérias do Brasil. E ele estava certo!

E é séria porque a OAB impõe um forte rigor em sua aplicação. Apesar dos problemas ocorridos a cada edição (problemas de natureza conteudista), próprios de um processo seletivo complexo e aplicado para centenas de milhares de candidatos todos os anos, o Exame de Ordem inegavelmente é algo muito sério.

A prova online tem o potencial de colocar o Exame de Ordem sob risco.

E de que forma?

1 - Eu NÃO acredito em uma prova aplicada em um espaço sem controle 

Uma prova aplicada em um espaço não controlado pela responsável pelo certame é um convite IMENSO à fraude

É inevitável!

Como uma prova online, feita apenas pela internet, com os candidatos em suas casas ou quaisquer outros locais de sua escolha, garantiria uma proteção contra tentativas de burla?

Eu simplesmente não acredito nisto. A quantidade de formas para burlar a incomunicabilidade dos candidatos, ou mesmo a consulta a materiais, só é limitada pela criatividade de cada um. 

Uma prova online seria, infelizmente, uma peneira. 

Isso mesmo se fosse implementado um sistema de vigilância via webcam, ou apresentação randômica de questões, ou mesmo com um tempo determinado para os candidatos responderem cada questão (que seria um absurdo!), ou um aplicativo que travasse outras abas do navegador do candidato ou tudo isso junto.

É plenamente possível burlar!

Sem o rígido controle do espaço em que um candidato se encontra, não é possível garantir segurança.

Não consigo ver alternativa a isto.

2 - Um prato cheio para quadrilhas especializadas e hackers

Sim! Toda a prova (OAB e concursos) é alvo de criminosos. Isso quase que desde sempre.

E se a prova da OAB se tornar online, o risco de virar um carnaval é imenso!

Não só quadrilhas especializadas poderão oferecer a correção da prova em tempo real (algo até fácil de imaginar) como vão poder até mesmo disponibilizar, sem maiores preocupações, pontos eletrônicos para candidatos, caso exista algum tipo de vigilância remota.

Seria um "passeio no parquinho" para criminosos virtuais.

E aqui os criminosos podem (e irão) abrir um braço operacional que hoje não existe: a invasão do sistema da prova, com quebra de segurança, roubo de questões e gabaritos.

Hackers que hoje não tem a prova como alvo passarão a se interessar por ela. 

E eu não preciso dizer que eventuais promessas de segurança empalidecem diante de um amplo histórico de sistemas importantes recentemente hackeados: STJ, TJRS, TJSP, TSE, MPSP, TRF-1 e por aí vai.

A prova da OAB ficaria isenta?

3 - Infraestrutura que atenda a todos e garanta a prova do início ao fim

O Brasil é repleto de contrastes. Isso também entre os examinandos.

Alguns tem acesso amplo a computadores. Outros não. 

Alguns tem computadores capazes de suportar a futura configuração desta prova online. Outros, não.

Aqui uma pergunta básica: eventual servidor aguentaria o rojão de mais de 100 mil acessos simultâneos?

Os servidores do CFC não aguentaram. Foi uma confusão imensa!

E se o sistema "der pau"? E se um problema técnico prejudicar apenas uma parte dos candidatos? 

E se a internet do candidato cair?

E se faltar luz?

A prova fica exposta ao imponderável. 

4 - A quebra da credibilidade do Exame seria catastrófica

A descoberta de uma fraude, um problema no sistema uma queda de luz em uma cidade ou região: basta a superveniência de uma falha para a prova ser contestada pelos candidatos e ter seu resultado judicializado.

Basta uma falha para termos a QUEBRA do calendário da prova.

Basta uma fraude para se colocar em dúvida a lisura do certame, contaminando a aprovação de dezenas de milhares.

Basta uma pequena sequência de problemas - cuja probabilidade sequer existe no formato presencial - para o VALOR do Exame de Ordem ser questionado.

Aí sim! Aí teríamos um problema sério!

Se a credibilidade da prova é atacada a classe inteira pagaria o preço.

E seria uma poderosa munição nas mãos daqueles que querem ver o fim do Exame. E o fim do Exame colocaria no mercado, segundo estimativas da própria OAB, ao menos 3 milhões de bacháreis na advocacia.

O resultado dessa abertura para a advocacia seria catastrófico.

5 - Por que mexer com o que finalmente deu certo?

Acompanho o Exame de Ordem desde antes da unificação. Acompanhei o CESPE e agora acompanho a FGV.

Neste 13 anos de trabalho com o Exame de Ordem só vi uma ÚNICA edição que beirou a perfeição: exatamente a última prova, do XXXI Exame de Ordem.

A FGV vai fazer 11 anos elaborando o Exame, e agora, somente agora, atingiu o nível de excelência que todos queremos ver.

E essa excelência foi resultado de um choque de gestão imposto pela coordenação do Exame após o problemático XXX Exame de Ordem.

E, é imperioso reconhecer, o nível subiu muito.

FGV eleva (e muito) dificuldade e qualidade da prova da OAB

Exame de Ordem passou por choque de gestão. A 2ª fase será afetada!

Para que mexer no Exame AGORA que ele atingiu seu patamar ideal?

Para que migrar para um modelo que tem tudo para abrir brechas para críticas e controvérsias?

Por que não sustentar e dar continuidade a um modelo que passou um imenso período de amadurecimento? E por que não dar uma chance para que este modelo possa oferecer a todo um longo período de estabilidade e qualidade na prova?

6 - Mas afinal, o que a OAB está pensando?

 

Pode ser, e porque não, que todas as minhas ponderações feitas aqui estejam fora de lugar e que eu esteja completamente errado.

Vai que realmente a ideia da OAB seja boa e represente uma evolução real que contorne todos estes problemas.

A questão é: o que a Ordem está pensando?

Como é a proposta da futura prova? Com que sistema? Com qual lógica?

A Ordem não vai abrir para debate? Não vai consultar a advocacia? Não vai dar margem para o projetos sofrer as necessárias críticas?

Eu preferiria, antes de qualquer coisa, ter acesso ao projeto para poder tecer minhas ponderações sobre a ideia em si mesma.

Espero que a OAB permita a todos um debate sobre o formato deste novo modelo de prova.

7 - Quem avisa amigo é!

Em 16 de julho de 2020 teci SÉRIAS críticas à decisão do Conselho Federal de Contabilidade sobre a implementação da prova online.

Sérias críticas à prova online do Conselho de Contabilidade

Foi premonitório!

Leiam o texto acima, escrito bem ANTES das duas tentativas feitas pelo CFC. Muito do que eu escrevi efetivamente aconteceu, e ambas as provas foram um fracasso, em especial a segunda.

Confiram os links (e os comentários dos candidatos) no Instagram do CFC após a segunda falha na aplicação da prova online:

Comunicado 1

Comunicado 2

Comunicado 3

Comunicado 4

Bola de cristal? 

Não: apenas estabelecer juízos de conseqûência, sem ilusões ou contemplações.

E o óbvio, hoje, é o seguinte: uma prova online da OAB precisa ser muito bem pensada. E os riscos de sua implementação seriamente avaliados.

O aviso está dado. Quem avisa, e de forma isenta, amigo é.