Segunda, 9 de março de 2020
O Conjur publicou ontem uma interessante entrevista com o ministro do STJ, Herman Benjamin.
Entre alguns assuntos, o ministro criticou o que chamou de "dilúvio bíblico de advogados", referindo-se, evidentemente, a descontrolada explosão de oferta de vagas no ensino jurídico, completamente desproporcional.
Hoje o Brasil tem 1.727 cursos de Direito, em um total de 328.892 vagas/ano. é uam oferta absolutamente desproporcional com a realidade do mercado, algo que ninguém consegue ignorar, exceto o MEC, que autoriza novos cursos (e não fiscaliza nada) como se estivesse autorizando a abertura de padarias.
A OAB tentou intervir, mas colheu um revés no Judiciário:
OAB sobre derrota e não consegue parar tramitação de cursos de Direito EAD
Foi um revés para toda a classe.
A oferta desproporcional tem tornado o ambiente profissional cada vez mais saturada, dificultando o ingresso dos jovens advogados no mercado.
Confiram um trecho da entrevista dada pelo ministro ao Conjur:
ConJur ? Quanto à formação da advocacia, uma das críticas frequentes é de que há uma derrama de bacharéis e que o MEC deveria ter um controle melhor.
Herman Benjamin ? Isso é um fato notório.
ConJur ? O senhor concorda?
Herman Benjamin ? O que nós temos aqui é o dilúvio bíblico de advogados. De advogados não: de bacharéis em Direito. Nenhum outro país do mundo tem isso. Então há uma indústria toda montada. O Brasil tem um dos maiores percentuais per capita de bacharéis de Direito do mundo, e muitos desses são financiados pelo próprio Estado. E não conseguem passar no exame da Ordem. Convenhamos, o exame da Ordem não é nenhuma barreira intransponível. Não é. Então isso tem que mudar, porque nós estamos nos enganando. Eu diria que nós formássemos 20% do que estamos formando e os 80% restantes nós dirigíssemos para as carreiras que estão fazendo falta ao país.
ConJur ? Uma redistribuição?
Herman Benjamin ? Estamos gastando muito recurso público e das famílias para formar bacharéis em Direito. Nos primeiros anos da República Velha, se chamava, meio de uma forma pejorativa, a República dos Bacharéis. República dos bacharéis é hoje. Não só pela quantidade de bacharéis que ocupam funções importantes, mas por esse dilúvio ? só falta a Arca de Noé, jogando milhares de pessoas anualmente no mercado, sem perspectiva alguma de emprego. Isso é cruel. Então alguma coisa tem que ser feita. A OAB precisa ser fortalecida, porque não é fácil.
ConJur ? Por exemplo, dialogar com o MEC.
Herman Benjamin ? Mas veja, não é de agora. É um fenômeno de 30 anos. Nos últimos 15 anos houve uma explosão, mas o fenômeno vem lá de trás. Eu tenho muita preocupação não só pelo aspecto profissional, porque as pessoas não estão saindo devidamente qualificadas no plano jurídico. A preocupação é de caráter humano, porque as pessoas estão sendo enganadas ? as famílias e os próprios estudantes, achando que se terminam a faculdade de direito vão encontrar um emprego que vai pagar tudo aquilo que... [pausa]
ConJur ? Foi sonhado
Herman Benjamin ? Exatamente. A realização do sonho. Isso não vai acontecer.
Fonte: Conjur