Vem aí o "pente fino" do MEC nos cursos de Direito

Terça, 10 de dezembro de 2013

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Na semana passada o MEC suspendeu os vestibulares de 270 cursos superiores no Brasil, incluindo aí 38 faculdades de Direito. Na apresentação deste trabalho do MEC, o Ministro Mercadante também anunciou um "pente fino" em todos os cursos de Direito no Brasil, tal como informou o G1:

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou nesta quinta-feira (5) que o Ministério da Educação fará, no ano de 2014, uma inspeção presencial em todos os cursos de direito oferecidos pelas instituições de ensino superior no país. De acordo com ele, trata-se de "um pente fino nos cursos de direito do Brasil". Mercadante afirmou que atualmente o país tem 740 cursos de graduação na área.

Segundo o ministro, a ação pretende diminuir o número de universitários que concluem o curso de direito, mas não são aprovados no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). "A área de direito é uma área muito crítica", afirmou ele, durante entrevista coletiva na tarde desta quinta. "Nós estávamos vendo os estudantes se formando em direito e depois não tendo uma aprovação na OAB."

No último Exame de Ordem Unificado, apenas 14% dos candidatos inscritos foram aprovados. A aprovação no exame é requisito obrigatório para o bacharel de direito exercer a advocacia.

Em fevereiro deste ano, a OAB anunciou um acordo com o Ministério da Educação para definir os critérios de avaliação para a análise de pedidos de aberturas de novas vagas em cursos de graduação e pós-graduação e criar procedimentos de monitoramento permanente das faculdades já em funcionamento.

Fonte: G1

E o que pode representar este "pente fino"?

Uma primeira leitura mostra a ambiguidade do posicionamento do MEC, pois governo tem feito de tudo para expandir o número de universitários no país.

Em 2011 o jornal "Estadão" publicou uma matéria com o título "Com novo Fies, "só não estuda quem não quer", diz Dilma" em que a presidente abordou o financiamento do governo para a formação superior de estudantes em faculdades particulares.

Segundo a presidente, com as novas regras do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), "só não estuda quem não quer", e que desde 31 de janeiro, quando as inscrições no Fies foram abertas, cerca de 34 mil alunos contrataram o financiamento estudantil e mais 29 mil contratos estão em análise. Dilma disse que os juros de 3,4% ao ano oferecidos pelo programa são baixos e que o pagamento só tem início um ano e meio após a formatura do aluno.

O Secretário da SESU - Secretaria de Educação Superior - mencionou em recente entrevista a existência uma demanda não atendida pelo Sisu e o ProUni de mais de 1 milhão de alunos, o que aponta para um grande potencial de expansão do ensino superior por meio do Fies e do Fundo Garantidor. Fonte: Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular

Em suma, a política geral de atuação do governo, com o natural apoio dos bancos e das Instituições de Ensino Superior particulares, é a de incluir mais e mais estudantes no ensino superior, e as facilidades incluídas no FIES têm esse explícito propósito.

Desde então eu já me perguntava qual seria o impacto de tal iniciativa em em 4 ou 5 anos.

Incrivelmente, não passou nem metade deste tempo para perceberem que, ao menos no Direito, essa política seria problemática.

Deram-se conta de que o número de estudantes de Direito existe em umaproporção maior do que a capacidade de suportá-los dentro do sistema. Hoje administração é o curso com mais estudantes,  833.042 matrículas em 2012. Depois vem o curso de Direito, com 737.271 matrícula, seguido por Pedagogia, com 602.998 matriculados.

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Logo depois, bem atrás de Pedagogia, temos as Ciências Contábeis, seguido de Enfermagem, Engenharia, Serviço Social, Psicologia, Gestão de Pessoal e Engenharia da Produção.

O total de alunos matriculados na educação superior brasileira ultrapassou a marca de 7 milhões em 2012. Esse número representa aumento de 4,4% no período 2011?2012. Enquanto o número de matrículas nas instituições públicas cresceu 7%, o aumento na rede particular, responsável por 73% do total, foi de 3,5%.

Esse foi o alerta dado pela OAB ao MEC e firmaram uma parceria para conter a expansão dos cursos de Direito no país. De janeiro deste ano até agora nenhuma autorização de funcionamento foi deferida pelo MEC.

Agora, aparentemente, com esse "pente fino", o Ministério quer fechar vagas.

No último dia 23 de outubro tivemos um vislumbre do que pode vir a ser a nova política para este setor, tudo com o apoio do OAB.

O Exame de Ordem pode vir a ser elemento oficial de avaliação da qualidade do ensino superior, e como tal ser também responsável pelo fechamento de vagas, aumentando em muito a sua força. Há o "risco" do Exame deixar de ser tão dogmático, tão voltado ao conhecimento da lei pura e simples, vindo a ganhar uma abordagem mais acadêmica, coma  inclusão das chamadas disciplinas propedêuticas entre outras mudanças.

O novo Exame, seja como for, ganhará uma nova feição em função de sua nova função.

foto (2)

A foto acima, tirada da audiência, mostra um sonho antigo da OAB: o parecer vinculativo no processo de autorização de funcionamento de novos cursos.

Isso, tenho certeza, encontrará forte oposição das mantenedoras, pois em regra 90% desses pedidos recebem pareceres contrários da Ordem. Só que, até agora, tais pareceres nunca serviram de nada, pois não eram vinculativos.

Passando a ser, a OAB ganha bem mais poder, e passa a controlar de fato a expansão desenfreada de faculdades. Até onde me lembro, desde janeiro, quando o MEC congelou a abertura de faculdades, estão acumulados mais de 100 pedidos de abertura. Além disso, o MEC há a sugestão de se incluir a nota do Enade no diploma do aluno, obrigando então os estudantes a fazerem a prova seriamente (hoje o desempenho no Enade não impacta em nada na vida do acadêmico) e a vinculação formal, mais uma vez, do Exame de Ordem com o Enade, transformando aquele em instrumento oficial de avaliação das IES.

Ninguém sabe ao certo como será a formatação final da proposta da OAB para o MEC, e muito menos o que o MEC vai acatar. Mas eu diria que a transformação do Exame em instrumento oficial de avaliação é algo quase que inevitável. A OAB não vai perder a oportunidade de aumentar seu poder de influência, e adentrar na regulação da educação jurídica dar-lhe-ia mais influência de um controle final, um controle sobre o nascedouro do sistema jurídico.

Seja o que for, vem chumbo grosso para cima das faculdades em 2014.