Universitários superprotegidos pelos pais e as dificuldades impostas pelo mercado e pelo Exame da OAB

Terça, 24 de março de 2015

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Acabei de ler uma matéria publicada na Folha de São Paulo que me deixou impressionado, para não dizer perplexo: Faculdade faz até reunião de pais contra "geração mimada"

O texto apresenta uma realidade estranha: faculdades privadas estão promovendo reuniões de pais e professores para discutir o desempenho dos alunos. Além disto, os pais podem acompanhar as notas e a frequência do aluno pelo site da faculdade.

O coordenador do curso de publicidade do centro universitário Belas Artes, na Vila Mariana/SP, externou seu ponto de vista: "é uma geração um pouco mais mimada".

Já o coordenador da ESPM diz ter registro de mães reclamando da reprovação de seu filho em uma especialização. "Graças aos céus, são poucos", ao se referir à reclamações de mães na pós-graduação.

Interessante...

Alunos de graduação tendo acompanhamento como se fossem estudantes de nível fundamental ou médio? Universitários com esse perfil vão ter uma boa dificuldade de entrar não só no mundo adulto como também, em especial, no mercado de trabalho.

Como eles irão lidar com as dificuldades e insucessos que a vida coloca no caminho de qualquer um?

Imagina alguém tutelado desta forma pelos pais reprovando, por um acaso, no Exame de Ordem. Pior se reprovar mais de uma vez! O lindo mundo colorido e fácil em que é criado vai ficar preto e branco rapidinho.

Imaginem então como eles irão lidar com os desafios do mercado de trabalho?

As pessoas têm de ser criadas para serem INDEPENDENTES, e, evidentemente, o estabelecimento desta independência depende de um processo, de um lapso de tempo em que decisões precisam ser tomadas sozinho e que as consequências delas precisam ser vividas.

A professora Adriana Marcondes Machado, do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), delimita bem a causa desta realidade:

"Hoje em dia, pais não querem deixar a criança chorar ou se frustrar. A consequência é que elas acabam ficando com pouca capacidade criativa para inventar a vida", diz a professora Adriana. Ou, como diz a psicoterapeuta Cecília Zylberstajn, as crianças não criam "casca" e acabam não adquirindo habilidades para enfrentar a vida adulta.

"A superproteção gera pessoas mimadas e despreparadas, que acham que o mundo e as pessoas existem para servi-las. Quanto mais a família protege, mais está ajudando o filho a se tornar uma pessoa inapta para o mundo", diz Cecília. "Para você se tornar adulto, tem de passar, sim, por situações doloridas. Relacionamentos terminam, há contas a pagar, amigos vão embora, rejeições acontecem em várias áreas", afirma.

Fonte: UOL Mulher

Esse texto me chamou a atenção porque aqui no Exame de Ordem nós lidamos, e como lidamos, com a dor e a frustração pela reprovação.

Reprovação no Exame de Ordem é a regra, e não a exceção.

Quantos a quantos candidatos reprovam e não têm o instrumental emocional adequado para lidar com a derrota e, assim, poderem se reerguer para enfrentar novamente a prova?

Semana passada escrevi um texto exatamente sobre a questão da responsabilidade sobre a reprovação no Exame O exercício da autocritica após a reprovação na prova da OAB e um dos comentários que li me chamou bem a atenção: "a FGV aplica uma prova nojenta e nós é que devemos melhorar?"

Pois é...

Assim é a vida. As dificuldades aparecem e nós temos de lidar com elas da forma como elas são. Dá para fazer alguma coisa em relação ao que a FGV prepara para vocês? Pela via judicial o caminho é extremamente estreito e a OAB coleciona um MONTE de vitórias contra os candidatos e até mesmo contra o MPF. A jusrisprudência é amplamente favorável à administração e os poucos casos de vitória ganham relativa notoriedade.

Candidato consegue na Justiça, já como advogado, vencer a tese que o reprovou no X Exame de Ordem

E esse contexto de derrotas dos examinandos e vitórias da OAB não é exatamente novo.

Por outro lado, desempenhamos aqui no Blog um amplo papel de denúncia dos desmandos em cada edição da prova, ajudando-o a moldá-la ao longo do tempo, mas nada impede que uma ou outra edição seja perversa.

E, ao fim, quem faz a prova são os candidatos.São vocês, examinandos, que têm nas mãos e no intelecto as ferramentas para vencer o desafio imposto pela FGV. Quem, além de vocês, pode de fato fazer algo com efeitos concretos?

Ninguém...

Se o candidato reprova, ele tem de ter a MATURIDADE de enfrentar isso e buscar a melhor solução para em uma próxima edição vencer a banca.

Se for mimado, lidar com uma reprovação será certamente uma tarefa bem mais complicada.

Não se trata de lidar com os elementos do justo ou do injusto, do certo ou do errado, e sim da forma como a vida se apresenta diante de vocês. Esse é o ponto!

E, para isto, é preciso ser independente, é preciso ter maturidade, é preciso aceitar derrotas e lutar pelas vitórias.

É preciso ser, enfim, adulto.

E isso só tratando do Exame da OAB. Nem quero tecer muitos detalhes sobre a vida profissional, muito, mas muito mais difícil do que qualquer edição da prova da OAB.

A vida profissional é muito difícil, e tem de ter estômago para lidar com ela, seja no universo concurseiro ou no mundo da advocacia.

Em suma: a reprovação tem de ser vista com maturidade, por mais dolorida que seja, porque só assim o candidato poderá desenvolver o instrumental emocional adequado para enfrentar novamente o desafio.

A autocrítica é fundamental, e ela não pode ser indulgente.

Indulgências não dão margem para o amadurecimento.