Um grande "business" chamado educação superior e o desempenho no Exame da OAB

Segunda, 19 de setembro de 2011

No último dia 17 foi noticiado que a Anhanguera Educacional, maior grupo privado de educação superior da América Latina, fechou na sexta-feira a aquisição de várias universidades.

Foram adquiridas a Academia Paulista Anchieta, que é mantenedora da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) e União Pan-Americanda de Ensino, mantenedora da Faculdade de Ciências Aplicadas de Cascavel (FACIAP).

A companhia também comprou a União Bandeirante de Educação, mantenedora das instituições de ensino superiores denominadas Escola Superior de Educação Corporativa (ESEC) e Faculdade União Bandeirante (FUB), além da aquisição de três dos imóveis operacionais do Grupo UNIBAN.

Com os 55 mil alunos da Uniban, a Anhanguera ultrapassa a marca de 400 mil alunos, tornando-se o segundo maior grupo de ensino superior do mundo, atrás apenas da americana Apollo Group, dona da Universidade de Phoenix. A marca de 400 mil alunos estava prevista para ser alcançada no fim de 2012.

A nova instituição terá cerca de 10 mil professores. Controlada pelo Pátria Investimentos, a Anhanguera está comprando a operação de educação da Uniban por R$ 380 milhões e mais 13 imóveis do grupo por R$ 130 milhões. A Uniban tem 13 câmpus, sendo nove em São Paulo, dois no Paraná e dois em Santa Catarina.

A compra da Uniban encerra o segundo ciclo de aquisições da Anhanguera, que reforçou seu caixa em dezembro de 2010 com uma emissão de R$ 844 milhões em ações. Nos últimos nove meses, a empresa adquiriu instituições de ensino que atendem 100 mil alunos.

O número inclui a aquisição, em abril deste ano, da Faculdade Anchieta e da Faculdade de Tecnologia Anchieta, de São Bernardo, por R$ 74,8 milhões. No ciclo anterior de aquisições, a empresa havia levado dois anos e meio para comprar instituições com 150 mil alunos.

Agora, a prioridade da Anhanguera é consolidar as operações compradas. Os câmpus da Anhanguera, com a última aquisição, passam a ter capacidade para 700 mil alunos. O grupo tem como objetivo alcançar, entre 2014 e 2015, a marca de 1 milhão de alunos, incluindo os atendidos por sistema de educação a distância.

Isso elevaria a participação da empresa no mercado de educação superior brasileiro de 8% para 15% em alunos atendidos. A compra da Uniban faz da Anhanguera líder na Grande São Paulo, com 110 mil alunos.

O potencial de expansão do mercado é alto, por causa desse movimento de consolidação, das tecnologias de educação a distância e da expansão do crédito estudantil. Nos Estados Unidos, 80% dos alunos universitários têm acesso a crédito, enquanto no Brasil essa fatia ainda está em 5%.

Com informações do Estadão e do Último Instante.

Os números acima são, sob qualquer ponto de vista, superlativos. A educação superior no Brasil é um grande negócio.

Agora, curiosamente, o desempenho dessas instituições no Exame de Ordem não acompanha a magnitude dos números e cifras.

A Uniban, no Exame 2010.3, inscreveu 979 examinandos, e destes apenas 40 lograram aprovação (4,19%)

Já algumas faculdades do Grupo Anhanguera obtiveram desempenhos não muitos melhores. Vejamos dados de algumas dessas instituições:

Faculdade Anhanguera de Bauru: 24 inscritos e 4 aprovados (17,39%)

Faculdade Anhanguera de Campinas: 158 inscritos e 5 aprovados (3,21%)

Faculdade Anhanguera de Jacareí: 13 inscritos e 4 aprovados (30,77%)

Faculdade Anhanguera de Osasco: 26 inscritos e 0 aprovados (0,00%)

Faculdade Anhanguera de Valinhos: 75 inscritos e 3 aprovados (4,05%)

Fonte: Desempenho das faculdades no Exame de Ordem 2010.3

A expressividade dos números do negócio, do business educação superior, em uma primeira análise, não encontra reflexo no desempenho dos egressos daquelas instituições no Exame de Ordem.

O porquê disso não é fácil de explicar. Envolve uma série de análises e parâmetros que não disponho, e uma resposta factível e completa não seria retirada da cartola com muita facilidade.

Entretanto, é possível teorizar sobre o tema.

Ao se analisar os dados das instituições que mais fornecem egressos para o Exame de Ordem, veirfica-se que TODAS apresentam desempenhos pífios na prova:

Nenhuma consegue aprovar mais de 17% de seus egressos, mas todas despejam milhares de bacharéis no mercado por ano. O desempenho é MUITO ruim.

E aqui podemos estabelecer um paralelo: a massificação do ensino tende a prejudicar os alunos, ao menos sob a análise de desempenho no Exame de Ordem.

A lógica na educação superior é a do lucro, e a contrapartida é a entrega do diploma, manifestação tangível da prestações de um "serviço". O serviço educacional.

o Exame da OAB, em certa medida, apesar das críticas e de suas limitações como instrumento de aferição do conhecimento (estou escrevendo especificamente sobre isso, inclusive), tem o condão de mostrar as deficiências do sistema de educação superior em Direito.

Se provas semelhantes fossem aplicadas em outras graduações, o quadro não seria muito melhor. Na primeira prova para o Conselho Federal de Contabilidade os dados convergem para o que o Exame de Ordem já mostra - Exame de Suficiência da classe contábil tem alto índice de reprovação em todo o Brasil.

Ontem o programa Fantástico, da Rede Globo, abordou as deficiências na formação de enfermeiros no Brasil com uma matéria sob o título "Cursos de enfermagem de má qualidade ameaçam vida de pacientes". (cliquem no link para verem o vídeo).

Entre várias abordagens realizadas pela equipe de reportagem, chamou a atenção, exatamente, a qualidade da preparação dos futuros enfermeiros:

?Me parece que esse é um problema que tem diversos fatores. Um dos fatores mais importantes que eu coloco é a baixa qualidade do ensino?, opinou Manoel Carlos Neri, presidente do Conselho Federal de Enfermagem.

Com 30 anos de experiência, Floracy Gomes Ribeiro, diretora de enfermagem do Hospital das Clínicas de São Paulo, supervisiona mais de dois mil funcionários. ?O que nós temos observado nos últimos concursos é que nós temos tido uma reprovação de 50%?, avisa a diretora de enfermagem. ?A impressão que a gente tem que é que não tem fiscalização dos órgãos de ensino, porque está muito deficiente. Eles estão chegando muito mal preparados?, critica Hamdi Hassan.

Ainda segundo a matéria, Nunca foi tão fácil estudar enfermagem no Brasil. O curso para técnico, que exige apenas o Ensino Médio, e dura cerca de dois anos, é, disparado, o mais procurado do país. São mais de 1,7 mil escolas cadastradas.

?Precisaria que os mantenedores desses cursos encarassem a coisa com maior seriedade e não apenas querendo se beneficiar de uma explosão no mercado e ganhar dinheiro, para falar o português claro?, diz João Cardoso Palma Filho, secretário adjunto da Educação de São Paulo.

Como não existe um "exame de ordem" para enfermagem, candidatos com formação deficiente podem trabalhar normalmente, e isso, em muitos casos, tal como mostra a reportagem, acarreta problemas gravíssimos.

O problema da educação superior no Brasil está em um lugar só: na graduação. E o atual modelo não parece ser muito comprometido com a qualidade e a excelência de formação.

Os números estão aí.