Sua reprovação na prova do domingo não é resultado do acaso: ela foi friamente planejada!

Terça, 17 de março de 2015

1

Por muito tempo guardo, analiso e trabalho com as estatísticas do Exame de Ordem, seja registrando o número de questões anuladas aos percentuais de aprovação ainda do período pré-unificação total.

Sempre achei essa uma tarefa importante, pois através dos dados é possível "ler" o que está acontecendo, guardadas algumas limitações.

A análise estatística de desempenho, por exemplo, foi criada a partir desta percepção.

E uma das coisas que a análise dos dados estatísticos permitia, há alguns Exames atrás, era a possibilidade de antever qual seria o grau de dificuldade das futuras provas, e isso era feito com uma margem de acerto bem elevada. Tanto de uma edição para a outra como também entre a 1ª e a 2ª fase, baseando tudo no histórico do grau de dificuldade das provas com os percentuais de cada edição.

Era análise estatística pura, e dava certo.

Mas aí a OAB resolveu parar de divulgar o número de inscritos por edição, atrapalhando muito este trabalho, e, junto a isto, foi implementada a repescagem.

Ela, a repescagem, introduziu um elemento de cálculo novo na 2ª fase e em sua modulação. A presença dos candidatos remanescentes acabou por "quebrar" a lógica anterior, pois a repescagem pode ser vista como acréscimo artificial de candidatos em uma 2ª fase, por assim dizer.

Esse acréscimo, essa presença dos candidatos da repescagem está na raiz do grau de dificuldade visto na prova do domingo.

Como?

Vamos assumir que existe um padrão, um controle sobre a quantidade de aprovados em cada Exame de Ordem. A OAB nega isso de forma veemente, mas as estatísticas - os números - não costumam mentir.

Observem o gráfico abaixo. Vejam que a média de aprovação oscila pela cada dos 15/18%. Dentro dos quadrados vermelhos nós temos as exceções. Exames em que a média foi mais elevada.

3

Aqui só estamos analisando as estatísticas do Exame Unificado, mas a lógica já vinha desde o tempo do CESPE.

Os percentuais de aprovação podem subir em alguns poucos episódios, mas depois a FGV joga tudo para baixo. A regra vislumbrada nos dados acima é uma: aprovação na faixa dos 15/18%.

Isso é, sem dúvida, um controle.

Agora observem a evolução do número de candidatos advindos da repescagem:

XIII Exame (foi a primeira prova da 2ª fase com candidatos de repescagem, oriundos do XII Exame):

Aprovados na 1ª fase: 30.150

Candidatos da repescagem: 7.864 

Total na 2ª fase: 44.835

XIV Exame

Aprovados na 1ª fase: 38.014

Candidatos da repescagem: 17.185 

Total na 2ª fase: 55.199

XV Exame

Aprovados na 1ª fase: 53.330

Candidatos da repescagem: 17.024

Total na 2ª fase: 70.354 (recorde de candidatos em 1 segunda fase)

XVI Exame:

Candidatos que já estão na repescagem: 29.783

No XIII Exame tivemos a mais na 2ª fase 7.864 candidatos, exatamente aqueles reprovados na 2ª fase do XII. Agora, 3 edições depois, nós já temos na 2ª fase do XVI Exame 29.783 candidatos na repescagem do XVI Exame, ou seja, um crescimento imenso de candidatos se compararmos com o XIII Exame.

Esse crescimento se deve, principalmente, ao enorme número de aprovados na 1ª fase do XV Exame, gerando um grande número de candidatos já na repescagem do XVI.

Teorizando aqui, se na 1ª fase do XVI Exame fossem aprovados uns 50 mil candidatos, a 2ª fase seria ainda maior do que foi a 2ª fase do XV Exame.

Pergunta: como é que faz para controlar o número de candidatos advindos da repescagem de uma edição para outra?

Resposta: reprove geral na 1ª fase!

Meio óbvio até entender o grau de dificuldade da prova do domingo. A FGV estava exercendo um controle para "equalizar" o número de candidatos nesta e na próxima 2ª fase.

Mas por que eles precisariam controlar?

Tal como expliquei mais acima, é porque existe um percentual médio de aprovação final em cada edição do Exame, percentual este de 15/18%. Aqui é preciso admitir que existe um controle. Para mim, olhando as estatísticas, sem dúvida há um.

Quanto mais candidatos mais difícil exercer o controle, ou seja, seria preciso dificultar a prova para manter o patamar de reprovação nos níveis desejados.

O grau de dificuldade na prova do domingo não foi resultado do acaso, nem mesmo de um desejo sanguinolento de reprovação. Tão somente resultado da matemática friamente aplicada.

Examinando é número, é estatística, e é assim que eles trabalham.

Pergunta final: por que o percentual final de aprovados não pode ser de 40, 50 ou 60%? Por que isso nunca ocorre?

Fiz essa pergunta só para vocês entenderem que a prova tem sua lógica, e a FGV segue ela. Ou vocês acham que após tantos anos os candidatos não vêm se preparando melhor a cada exame?

Comparem uma prova de 1ª ou 2ª fase de hoje com suas similares do tempo do CESPE ou mesmo do tempo das seccionais. Impossível não perceber a diferença na complexidade.

Mas as estatísticas sofrem apenas pequenas oscilações. Isso em função do tal do controle. Candidatos mais preparados geram um aumento da dificuldade nas provas, de um modo geral. Assim, os 15/18% de aprovação é sempre assegurado pela FGV.

Nada é resultado do acaso, nem mesmo uma prova cruel como a de domingo.