Sou uma jovem advogada, por isso não sou uma boa profissional?

Quarta, 4 de novembro de 2015

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A jovem advogada Gláucia Martinhago Borges, de Criciúma/SC, escreveu um interessantíssimo texto sobre o início da carreira na advocacia. Ela externou seu inconformismo com a visão de uma parcela da sociedade (talvez a maior parte dela) tem dos os jovens advogados.

O texto evoca uma série de reflexões sobre a inserção no mercado de trabalho e sobre como vencer no início da carreira.

Confiram:

Sou uma jovem advogada, por isso não sou um boa profissional?

Certa vez um cliente me confidenciou que, ao contar em uma roda de amigos quem era a sua advogada, outro advogado o indagou se ele "era louco de estar trabalhando num caso tão difícil com uma pessoa assim, jovem".

Não gosto de generalizações.

Reconheço que temos uma parcela da geração de jovens que são sim descompromissados e que não se esforçam o suficiente para entrar no mercado de trabalho com excelência. Como também existem muitos profissionais experientes que não podem ser qualificados como bons tão somente pelos anos de profissão (esse não pode ser o critério exclusivo).

Concordo também que a experiência ajuda e muito na melhoria da profissão, mas, se não deixarmos os jovens tentarem, quando irão adquirir essa experiência?

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É incrível como quando estou em um atendimento percebo "o pé atrás" do cliente de início. Quando ele me vê, me julga sem me ouvir e, ao final, comenta sobre essa primeira impressão que teve. Você se impõe, sem dúvidas, faz o seu melhor para demonstrar seu potencial, mas você sempre precisa passar por um processo de convencimento, não porque você não entende da matéria ou não sabe sobre a própria profissão, mas porque é jovem ou aparenta ser (entre outros julgamentos físicos que não pretendo me ater neste momento).

Chego a "brincar" com alguns colegas que se uma pessoa com idade maior que a minha pegou a carteira da ordem juntamente comigo, tem outro respeito do público em geral. As pessoas não o veem como alguém novo ou inexperiente na profissão, quase ninguém questiona há quantos anos a pessoa está na profissão se ela possuir mais idade. E isso faz diferença para se conseguir alguns trabalhos.

Ouço muito a seguinte frase: ?olhei a petição contrária e a OAB é de um jovem advogado, então está tranquilo?. Eu sempre questiono quem assim fala se só pelo número da ordem a pessoa já consegue concluir que aquele profissional não possui conhecimento de causa e não lutará com toda garra por seu cliente... (friso aqui que meus exemplos sempre giram em torno da advocacia pois é o que eu vivencio mas, sem dúvidas, isso vale para qualquer profissão).

Com esses pensamentos à mente, trouxe o assunto a tona em uma reunião e me disseram que eu deveria me acostumar ?pois é assim em qualquer profissão?. Concordo, mas não me conformo.

Se a questão é cultural, porque não tentarmos campanhas, publicarmos textos, conversamos com nossos familiares, entre outros meios, para demonstrar que não devemos julgar a capacidade de ninguém por sua aparência ou idade?

Nelson Rodrigues dizia que ?toda unanimidade é burra?. Generalizar com base em alguns tira da pessoa a capacidade na construção de um bom argumento.

Enfim, sou da seguinte opinião: Conheçam o profissional, sendo ele iniciante ou não na carreira, independente de qualquer estereótipo. Só depois então tirem suas próprias conclusões (e não a de terceiros).

Se mesmo tentando vocês não gostarem da sua metodologia de trabalho ou não se sentirem confiantes naquilo que o profissional lhe oferecer, ai sim, busquem outro, mas não tratem todos da mesma forma por conta deste, pois o bom mesmo é ter certeza do que se afirma e se você não conhece a todos, não generalize.

Fonte: Jus Brasil

A grande pergunta: julgar um profissional por sua idade ou pouco tempo de atuação, e com isso ignorar sua inteligência ou capacidade, é algo justo?

A resposta é uma só: isso é indiferente.

Indiferente porque é impossível controlar certas visões de mundo. Nós não controlamos a opinião de terceiros.

Trata-se, de forma mais específica, de uma visão do próprio mercado, aquele ser despersonalizado que "orienta" as opiniões daqueles que nele estão inseridos. E como nós sabemos, o mercado NUNCA está errado.

Nunca está porque ele reflete a média das opiniões e do comportamento de contratantes e contratados, irradiando uma ideologia por todo o sistema.

E, em regra, e não só no Direito, a visão de que um jovem profissional não seria exatamente uma boa escolha não deveria surpreender: trata-se de um preconceito antigo e arraigado.

Trata-se de mais uma dificuldade a ser trabalhada pelos jovens profissionais quando ingressam no mercado de trabalho, e deve fazer parte dos cálculos.

Como vencer esse tipo de preconceito?

1 - O tempo

Sim, o tempo precisa passar para que o estigma da pouca idade ou do pouco tempo de atuação profissional seja superado. Isso não depende exatamente de ninguém, é algo natural. A questão não é se o tempo vai passar o não, mas sim o que fazer com ele.

2 - A qualificação

Esperar o tempo passar por si só ajuda, mas dá para "turbinar" a passagem dele com a busca por uma formação mais consistente. Ser jovem e ter um mestrado para apresentar inverte totalmente o jogo, por exemplo: "um jovem e brilhante advogado" é o que pensarão, ao invés de "um jovem e inexperiente advogado".

Fazer uma pós também ajuda.

3 - O trabalho sério

Ter um cliente satisfeito é o melhor dos marketings. Sim! Arranjar o primeiro não será fácil, mas ele inexoravelmente irá surgir. Cuide para que ele, e todos os demais primeiros clientes percebam o seu zelo, competência e dedicação.

4 - O marketing

Propaganda é a alma do negócio. Saber divulgar a própria imagem é de extrema importância, em especial nos tempos da internet. Mostre que você é sério, compenetrado e dedicado. VENDA essa imagem pelas redes ( uma coisa é a sua imagem em si mesma, outra, é como você a divulga) e por entre seus contatos. Um futuro cliente quer alguém sério, compenetrado e dedicado: transpire isso!

5 - A experiência

Atue o máximo possível, mesmo que seja em parcerias, mesmo que seja com trabalho voluntário em defensorias ou núcleos de prática. Ter histórias de atuações para contar é um elemento bem significativo na hora de conversar com um cliente, EM ESPECIAL se for na sua área de especialização. O cliente quer sentir que você tem background, know-how, expertise! Ele quer saber se você tem VIVÊNCIA na advocacia, e, em especial, vivência dentro do campo em que a ação dele irá ser trabalhada.

Com pouco tempo, e muito trabalho, você poderá ter histórias significativas para contar, e com isso encantar seu cliente, afastando eventuais receios.

Muito bem!

Ser neófito na profissão é algo que ocorre com 100% dos profissionais. Não tem como fugir disto. Mas esse período de estigmatização pode ser superado com muito trabalho e entrega. Caba a você definir se ele irá durar muito ou será só apenas um breve contratempo.