Sobre lutar, vencer, morrer e construir a própria história

Segunda, 10 de dezembro de 2012

Heródoto, considerado o pai da história por ter desenvolvido pela primeira vez a narrativa histórica da guerra e da política (mas misturados com religião e misticismos. Muitos consideram Tucídides como o verdadeiro pai da história), deixou em seu livro História a narrativa da guerra entre os Persas e as cidades-estado gregas.

Para quem não sabe, foi nessa guerra que surgiu um dos maiores, senão o maior dos mitos militares: a resistência dos 300 de Esparta no desfiladeiro das Termópilas (portões quentes).

Na verdade não eram só os 300 espartanos. Gregos de outras cidades-estado também estavam presentes, totalizando algo entre 3 ou 5 mil gregos, contra um exército de persa de 300 a 500 mil soldados, e não um milhão da narrativa de Heródoto.

A disparidade, entretanto, era brutal.

De uma forma ou de outra, os espartanos lideraram a resistência, e, mesmo sabendo que iriam morrer, lá ficaram.

Leônidas, o rei de Esparta, não podia levar tod o o seu exército, pois este poderia ser cercado no desfiladeiro pela armada Persa, liquidando de plano toda e qualquer chance de resistência.

À época, a resistência das cidades-estados gregas não era uníssona: muitas passaram para o lado Persa, temerosas de uma uma derrota considerada quase certa. O sacrifícios deliberado de Leônidas e a ferocidade da resistência por ele oferecida mostrou a todos que os Espartanos iriam resistir de toda forma, assim como os atenienses também iriam.

Sua morte forjou a unidade grega na guerra. E os gregos venceram, salvando aquilo que hoje chamamos de cultura ocidental: liberdade de expressão, liberdade política, liberdade de pensamento, democracia, disciplina militar ocidental, teatro, política, cidadania, filosofia, análise racional dos eventos, oratória e mais um longo et cétera.

Daquela batalha, Heródoto fez questão de ressaltar um pequeno conto, uma breve intervenção de um espartano chamado Dieneces. Vejam o trecho do livro:

"CCXXVI ? Se bem que todos os lacedemônios (espartanos) e téspios se tivessem conduzido com grande bravura, dizem que Dieneces, de Esparta, a todos suplantou pelo seu valor e desprendimento na luta, citando-se dele uma frase memorável. Antes da batalha, tendo ouvido um traquínio dizer que o sol seria obscurecido pelas flechas dos bárbaros, tão grande era o número deles, respondeu-lhe sem perturbar-se: ?Nosso hóspede da Traquínia nos anuncia toda sorte de vantagens. Se os medos (persas) cobrirem o sol, combateremos à sombra, sem ficarmos expostos ao seu ardor?. De Dieneces contam-se outras coisas semelhantes, que são como outros tantos monumentos por ele legados à posteridade."

A tirada de Dieneces foi brilhante.

Ele quis dizer duas coisas: não vamos nos intimidar e da adversidade tiraremos alguma vantagem.

Morrer em combate, para o espartano, era o ápice da glória como soldado e cidadão. Não poderia ser diferente, pois os espartanos desde os 5 anos de idade treinavam para a guerra. Não por acaso eles eram considerados imbatíveis nos campos de batalha.

Não só considerados: eles efetivamente eram.

Só após muitos séculos que um general tebano, Epaminondas, inventou uma nova tática e conseguiu derrotar esparta em uma batalha aberta. Após duas batalhas vencidas pelos tebanos (a última custou a vida de Epaminondas), os espartanos foram vencidos em uma guerra, e nunca mais Esparta se reergueu.

E o que isto nos interessa?

Vocês, obviamente, não vão para a guerra, não são espartanos, não vislumbram nenhuma glória na morte e não vão enfrentar um inimigo gigantesco.

Apesar das adversidades terem seus respectivos tamanhos, em que os triunfos determinam a amplitude da glória, o pensamento de Dieneces permance atual:

"Não importa a adversidade. Dela retiraremos uma vantagem".

Dieneces foi para matar e morrer, e o fez desprezando tudo o mais. Entregar a vida de forma deliberada não é uma tarefa fácil.

Vocês vão enfrentar um desafio pessoal, infinitamente menor do que o enfrentado por Leônidas, Dieneces e os demais espartanos e gregos, mas mesmos assim, dentro da nossa realidade e nossas perspectivas, vocês estão ansiosos e temem pelo próprio futuro, o futuro profissional.

A prova é difícil, mas enfrentá-la não só é necessário como também é inevitável. Sob este ponto de vista, vocês estão na mesma situação de Dieneces: terão de lutar!

O inimigo assusta, no caso, a prova da OAB, assim como os persas e o seu gigantesco exército assustava, mas por mais que assustasse, foram enfrentados.

A fama dessa resistência nasceu de dois fatos: os gregos, em número muito menor, resistiram por longos 3 dias de batalha, e, para cada grego morto, 8 persas tombaram.

Um feito assombroso, prova cabal da ferocidade e capacidade bélica dos gregos.

Moral da história: não importa o que ó inimigo é, e sim o que você faz!

No próximo domingo façam o que vocês tem de fazer. Para os espartanos matar era apenas parte do trabalho, do ofício deles.

Para vocês, resolver a prova é parte do trabalho, do ofício de vocês.

Cada um em sua perspectiva, cada um com seus desafios.

Querer enfrentar um inimigo deliberadamente, ansiá-lo perto, olhar dentro do olho e partir "para dentro" é um estado emocional perfeitamente construível.

Construam o estado mental de vocês.

Não interessa o preparo prévio;

Não interessa o tamanho do desafio;

Não interessa nada! Vão lá e FAÇAM a prova.

Tirem vantagens da adversidade. Mostrem que vocês não são bacharéis, e sim advogados.

Enfrentem o que hoje muitos não conseguem: façam a prova.

E o resultado dela é indiferente. O importante é fazê-la, com vontade, e mostrar para si mesmo que cada um de vocês não têm medo.

Tenham fibra!

É possível, é um desafio do tamanho de suas capacidades e vocês têm rigorosamente tudo, diferentemente de Dieneces, de VENCER o embate.

Falando em Dieneces, vale reforçar o fato de que ele foi para as Termópilas sabendo que iria morrer. E lá, na hora da verdade, ele deu o melhor de si.

Morreu e entrou para a história.

Vivam e façam cada um suas próprias histórias!

Vocês conseguem!