Sexta, 20 de janeiro de 2017
Na penúltima 2ª fase, a do XIX Exame, tivemos um impressionante número recorde de reclamações de candidatos quanto a correção da prova subjetiva.
Talvez tenha sido a pior prova neste sentido considerando todas as provas do Exame Unificado. E muita gente ficou pelo caminho, em que pese o prazo recursal.
Já no XX Exame a qualidade das correções melhorou sensivelmente. Mas melhorou comparando com a prova do XIX.
A verdade é que as correções, hoje, representam o ponto fraco do Exame de Ordem: estão longe da perfeição.
Essa é, sem dúvida, a grande preocupação hoje dos candidatos: ir bem na prova e não ser injustiçado na correção da prova subjetiva.
Seria perfeito se pudéssemos eliminar as injustiças completamente, mas a correção da prova subjetiva depende de seres humanos, e estes erram.
Antes, um detalhe: tem gente que acha que são poucos os corretores em cada disciplina. Não são!
Cada disciplina tem dezenas de corretores envolvidos, e todos, por óbvio, são responsáveis por muitas provas.
Levando em conta termos apenas 3 semanas entre a prova e o resultado preliminar, imagem a logística apra corrigir todas as provas. Vocês podem se dar conta do mega trabalho envolvido neste processo, além de ser um pequeno pesadelo logístico.
Bom, isso não importa: eles têm de corrigir direito cada prova e pronto! Certo?
Bem...essa é a teoria.
Como falhas acontecem, vamos então tratar aqui de estratégias para minimizar as chances dos corretores de suas provas meterem o pé na jaca.
Como?
Já pararem para olhar com calma como os padrões de resposta são estruturados? Eles, obviamente, seguem uma sequência, uma ?fórmula?, de acordo com a práxis do nosso Direito Processual e das regras do CPC.
Toda as peças tem uma sequência lógica de apresentação.
E aí vem o pulo do gato, e o problema também.
Vocês sabem como é feita a correção da peça e das questões?
Todas as provas são digitalizadas e enviadas para a banca corretora. Cada corretor trabalha com 2 telas, uma com a prova outra com os critérios de correção. Ele vai lendo a peça ou as questões em uma tela, e em outra vai atribuindo a pontuação.
Não raro, o candidato não apresenta sua peça dentro de da sequência apresentada pelo problema, e o corretor, que olha centenas de provas, acaba passando batido pelas respostas. Como o corretor está em uma maratona de análise de peças, seu raciocínio naturalmente acaba ficando meio robotizado, e falhas tendem a ocorrer.
Perguntem para um injustiçado da correção passada se ele havia apresentado a resposta corretamente e a banca deixou de atribuir a nota correta. Essa é uma das causas!
Logo, procurem seguir a sequência lógica da peça e a sequência do enunciado. Pensem em como poderá vir o espelho da prova.
?Ah, mas a banca é obrigada a corrigir direito!?
Sim, eu concordo! Mas na prática essa obrigação não tem sido levada ao pé da letra. ?Ajudar? o corretor a corrigir sua prova, no fundo, representa vocês ajudarem a si mesmos.
Sempre escrevo sobre a estética da prova e a apresentação dos parágrafos.
O motivo é óbvio: quanto mais estruturada a apresentação de um texto, mais fácil de compreendê-lo.
E vocês anseiam ardorosamente serem compreendidos pelos corretores. Não é luxo algum: trata-se de uma medida para evitar confusão com o corretor.
Parágrafos de um tamanho padrão e claramente separados um do outro, grafia clara e legível, indicação explícita dos fundamentos legais, respeito às margens das folhas. Tudo isto conta na hora da verdade.
E aqui o raciocínio é simples: coloquem-se no lugar de quem vai corrigir as provas olhando em uma tela. Imaginem um corretor lendo uma letra horrorosa e tendo que fazer força para INTERPRETAR o significado de uma frase ou de uma palavra.
Imagem a quantidade de provas escritas com letras ininteligíveis.
Façam diferente: apresentem uma peça fácil de ser lida.
Aqui é um belo de um desafio para muitos candidatos. A própria redação nada mais é do que um desdobramento do raciocínio, e a explicitação da resposta nem sempre é feita da melhor forma possível.
Já cansei de ver respostas para uma das questões de uma peça que poderiam ter sido apresentadas em 3 linhas, mas o foram em 6 ou 7. Ou mesmo mais do que isto...
Uma redação prolixa é um verdadeiro problema para quem a lê e atrapalha a correção da prova subjetiva. E muitas respostas certas, por não serem dadas de forma objetiva, acabam sendo ignoradas.
Os maiores erros estruturais dos candidatos na 2ª fase da OAB
Aliás, eu diria que essa é a principal causa de não atribuição de nota para muitos, mas muitos candidatos.
De um modo geral, a resposta tem de se parecer com o que está no padrão de resposta. O candidato narra de forma breve, muito breve, o fato, depois ele narra qual a solução jurídica aplicável ao caso, fundamenta com a lei e/ou jurisprudência e faz o pedido em função do interesse do seu cliente.
Muitos candidatos se perdem neste momento, tentando explicar a própria lei, estendendo-se demasiadamente na narrativa do enunciado e se perdendo na redação.
Em suma: não tenham medo de serem objetivos. A correção da prova é feita de forma a se encaixar a redação com o espelho. Se os elementos da redação encontrarem eco no espelho, a nota será deferida.
A redação, creiam-me, não precisa ir muito além disto não. Deve ser linear, evidentemente, mas a lógica é completamente esquemática na correção da prova subjetiva.
A prova é subjetiva, mas os critérios de correção são, em larga medida, objetivos. Se a redação enquadra com o espelho, apresenta todos os seus elementos, ela satisfaz o corretor.
Treinando a montagem do esqueleto da peça prática
Não é necessário bancar o Pontes de Miranda ou o Ruy Barbosa na explicação da resposta correta.
Esse excesso de zelo e cuidados não deveria ser assim tão necessário (se bem que apresentar uma redação clara é o mínimo que se espera em qualquer prova subjetiva), mas as falhas nas correções, em especial na última prova, não podem ser ignoradas: a galera ficou irada com a quantidade de problemas.
Facilitar a vida do corretor, portanto, é uma forma de reduzir riscos na correção da própria prova. É uma medida de ?sobrevivência?, por assim dizer.