Reprovações no Exame de Ordem: quando é a hora de buscar ajuda profissional?

Quinta, 13 de setembro de 2012

Leiam este e-mail que recebi ontem:

"Olá Mauricio,

Antes de tudo, gostaria de agradecer tamanha dedicação a sua por todos nós. Não é natural que alguém disponha parte do seu tempo em prol de ajudar outras pessoas, pois é isso que você faz. Você gasta tempo pra nos manter informados sobre tudo o que acontece quando o assunto é OAB. Amoooo de montão toda equipe do CERS, e tenho muito carinho e admiração por você, por a gente você briga se for preciso, você apoia quando necessário, vibra quando pode e nos levanta quando caímos.

Estive conversando com você (me permita trata-lo assim?!?) em frente ao UniCeub na ultima realização da prova da OAB. Quando você questionou se eu estava preparada, minha resposta foi graças a Deus, ao portal e a toda equipe do CERS. Mas não sei se você observou, acredito que não, em meio a tanta gente era difícil, eu estava com uma fita de salompas colada sobre o pescoço. Aquilo significava todo o nervosismo que eu carrego quando vou pra essa prova. Na noite anterior fiquei ate a meia noite no hospital daher tomando medicação pra enxaqueca, pois quando estou na véspera de fazer a prova, infelizmente tudo o que é dor toma conta de mim.

Mas eu tentei ser forte, tentei fugir da ansiedade e do nervosismo, mas não teve jeito, o medo de fracassar me derrubou mais uma vez.

Costumo dizer aqui em casa que você é uma pessoa muito humana, sensível e abençoada por Deus, você consegue me trazer paz em meio a mais uma reprovação. E antes mesmo de gritar por socorro você aparece como um enviado de Deus para nos dar a certeza de que o sol vai voltar a brilhar em nossa vida.

Sabe, escrevo por desabafo. Desculpa escolher você, mas só quem participa ativamente com os examinandos pra entender como estou me sentindo nesse momento. E já te acompanho pelo blog a tanto tempo e nunca te escrevi nada, chegou a hora...

Formei no UniCeub, fiz um bom curso, era uma aluna dedicada, tirava boas notas, nunca imaginei que lograr êxito na prova da ordem fosse tão complicado. Tenho dois irmãos, um mais velho, eu e um mais novo. O mais velho também estudou no ceub passou na primeira vez que fez a prova, mas não exerce a profissão, ele é oficial de justiça. O mais novo vai agora pela terceira vez enfrentar a segunda fase da ordem. Eu formei já há dois anos, fiz a segunda fase por duas vezes, a primeira não fui bem de jeito nenhum tirei 4,15, já na segunda prova minha nota foi 5,35 quase surtei quando entrei com recurso e no dia do resultado entrei no site e a resposta para o meu recurso era ?não há recurso interposto?, mais que depressa acessei o www.portalexamedeordem.com.br, pois pensei alguma ideia do que estava acontecendo o Mauricio teria. Ao acessar não havia menção sobre o assunto. Por um instante pensei que eu deveria ter feito alguma coisa errada, o pior é que eu não conseguiria provar minha interposição. Novamente acessei o portal e você já havia divulgado a informação de ?mais uma lambança da OAB - perde o recurso de vários candidatos?.

Pois bem, foi esse o exame que embora tendo voltado ao ar a resposta do recurso, a impressão é que sequer ele havia sido lido.

Ontem eu acompanhava mesa redonda quando Aryanna iria dar o gabarito da prova de processo e o prof. Renato avisou da publicação do gabarito oficial no site da ordem, corrigi minha prova e me deparei com 37 pontos, como eu chorei e como sofri.

Chorei pela incerteza de que nadar e não chegar na praia, chorei por medo, chorei por decepção comigo mesma, pois como você mesmo disse a culpa tem que ser de alguém e será sempre minha.

Estou hoje com 28 anos e uma sensação de impotência, de fracasso toma conta de mim..,.

Dói, como dói, essa dor so é aliviada porque graças a Deus eu os descobri há um bom tempo. Mas dói olhar para meus pais e não poder dar a eles resultado de tanto esforço e tanto gasto.

A vontade é de realmente, desculpa a expressão, mas chutar o pau da barraca, e desistir de tudo. Mas paro e penso, já nadei tanto, já sofri tanto até chegar aqui.

Não desisto por suas palavras, porque ainda quero mandar um e-mail pra você dizendo que valeu a pena confiar em Deus. Valeu a pena beber água, mas não morri afogada porque você foi um dos que me ajudaram a reerguer, a levantar e continuar lutando.

Sabe, preciso trabalhar, já não dá mais pra ficar parada, abandonei tudo, não tenho mais vida social, não saio mais, minha única distração é ir a igreja aos sábados pela manhã. Fico apenas no quarto estudando e assistindo as aulas do CERS e ainda, acompanhando seus comentários no portal.

Direito do trabalho foi a opção escolhida nessa prova, e em todas as outras, a minha duvida é... Devo mudar pra penal, por exemplo? Devo esquecer OAB por um tempo e me focar nos concursos públicos? Pensei em escolher um dia da semana e ir pra vara do trabalho assistir audiências, pra absorver a pratica do direito do trabalho, o que você acha? Por favor, Maurício me dê uma luz. Sera que devo fazer terapia?

Mais uma vez obrigada por tudo o que você faz por cada um de nós. Que o nosso bom Deus o abençoe e te devolva em dobro todo esse gesto de generosidade que tem para conosco

Fica com Deus

Um forte abraço

Att."

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Esse tipo de e-mail dissolve a gente por dentro.

Terrível...

De quem é a culpa pelo estado emocional da nossa amiga? É do Exame de Ordem?

Se assumirmos que é o Exame, inevitavelmente projetamos a "culpa" por essa situação para fora da esfera pessoal dela. Ela não teria controle sobre si mesma e sobre o próprio emocional, e isto não é verdade.

A "culpa" é dela e de mais ninguém. São as fragilidades dela que produzem todo esse quadro.

E aqui temos um ponto de partida. E é um ponto de partida interessante porque esta aflição não é exclusiva dela: milhares de candidatos padecem do mesmo problema.

O Exame de Ordem, por ser uma prova séria e complicada, produz medo e assusta. Muitos fracassam não por não conhecerem o Direito, e, sim, por não conseguirem controlar as próprias emoções.

A "culpa" não é da prova.

Vamos ser sinceros, vamos afastar palavras de conforto e as tentações da autoajuda fácil e rasteira.

Torna-se necessário, quando a dificuldade ganha contornos graves e a autoestima está fragilizada, de procurar um profissional específico para o tipo de problema relatado no e-mail acima.

É hora de procurar um psicopedagogo clínico.

E o que é a psicopedagogia clínica? Segue um texto que achei na web e serve para descrever bem o trabalho desses profissionais:

"A Psicopedagogia é um campo de conhecimento e atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana, seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio - família, escola e sociedade - no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios.

A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda - o problema de aprendizagem, colocado num território pouco explorado, situado além dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia - e evoluiu devido à existência de recursos, ainda que embrionários, para atender essa demanda, constituindo-se, assim, numa prática.

Esse ramo ainda se encontra em fase de organização de um corpo teórico específico, visando à integração das ciências pedagógicas, psicológica, fonoaudiológica, neuropsicológica e psicolingüística para uma compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem humana.

O objeto de estudo deste campo do conhecimento é a aprendizagem humana e seus padrões evolutivos normais e patológicos.

O psicopedagogo, através do diagnóstico clínico, irá identificar as causas dos problemas de aprendizagem. Para isto, ele usará instrumentos tais como, provas operatórias (Piaget), provas projetivas (desenhos), EOCA e anamnese.

A Psicopedagogia Clínica tem como missão, retirar as pessoas da sua condição inadequada de aprendizagem, dotando-as de sentimentos de alta auto-estima, fazendo-as perceber suas potencialidades, recuperando desta forma, seus processos internos de apreensão de uma realidade, nos aspectos: cognitivo, afetivo-emocional e de conteúdos acadêmicos.

O aspecto clínico é realizado em Centros de Atendimento ou Clínicas Psicopedagógicas e as atividades ocorrem geralmente de forma individual."

Fonte: http://www.pedagobrasil.com.br

O cerne da questão é o seguinte: o quanto você conhece de si mesmo e de suas limitações?

A autocrítica em algum momento aparece mas ela pode perfeitamente não conseguir abranger e compreender na plenitude os problemas que afligem o estudante.

Vamos partir do princípio de que não sabemos de tudo.

Sendo assim, a busca por uma ajuda PROFISSIONAL, com especialistas dotados com a formação adequada, em algum momento pode ser necessária.

Quando o fracasso é reiterado, quando isso começa a destruir a autoestima, surge a necessidade de se buscar por respostas que vão além das meras técnicas de estudo. Como gostamos de dizer, "o buraco é mais embaixo."

Quantos casos eu não conheço de candidatos que reprovam 6, 10, 15 vezes? Isso é normal? Por que uns passam de primeira ainda na faculdade e outros amargam anos tentando a aprovação? Aqueles seriam mais inteligentes ou capazes do que estes?

Talvez sim, talvez não.

Não podemos afastar de plano a existência de dificuldades não percebidas que podem solapar os esforços e os estudos. Identificar problemas de ordem emocional ou de apreensão cognitiva que se exteriorizam por meio de repetidas reprovações no Exame de Ordem pode ser a solução para um problema aparentemente insuperável.

E não é NENHUMA vergonha buscar esse tipo de ajuda. Nenhuma mesmo.

Se eu posso dar um conselho que preste, busque primeiro descartar a existência de problemas psico-cognitivos. Eles podem existir e você não faz a menor ideia disso.

Depois do diagnóstico, o psicopedagogo orientará da melhor forma possível no sentido de se superar os problemas, podendo inclusive encaminhá-la a outros profissionais, se for o caso, para controlar eventuais fobias ou medos, casos inexistam problemas de ordem cognitiva.

Conselho: não tenha medo de enfrentar um problema que está solapando sua vida. Algo está errado, e a conduta e as condições descritas no e-mail não podem resultar em felicidade e satisfação para rigorosamente ninguém. Assuma que não pode resolver tudo sozinha e busque uma ajuda profissional e séria com quem tem formação acadêmica para lidar com o quadro.

Não sei o que vai resultar disso, mas tenho certeza de que algo de bom emergirá a partir da tomada da decisão correta.

E você sabe bem qual é!