Quinta, 3 de fevereiro de 2011
De: Fulano Assunto: Quando é a hora de desistir?
Mensagem: Dr. Maurício,
Minha esposa tem 28 anos, bacharela em Direito, e chegou ao ponto de dizer que quer desistir da OAB. Disse que já se cansou uma vez que vem estudando bastante e não obteve êxito no exame, inclusive, nesse último exame ela passou na primeira fase, mas na segunda ela não conseguiu; ela tirou 4,5 na peça e a banca não considerou nem um questão, mesmo após o recurso.
Diante disso ela viaja na idéia de que Deus não quer mesmo, que ela deve fazer outro curso, ou virar comerciante...
Aproveitando da sua experiência eu pergunto: O que eu devo dizer a ela? Quando é a hora de desistir?
cordialmente,
Fulano
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A primeira reação quando se lê um mail como este é muitíssimo óbvia: Simplesmente dizer "não desista NUNCA"!!
Mas isso é óbvio demais.
E é óbvio porque a primeira reação de quem se propõe a escrever um texto motivacional é exatamente tentar levantar a força moral de alguém desiludido, dar um empurrão no ego da pessoa para fazê-la seguir em frente.
"Você pode", "você é capaz", "acredite nos seus sonhos que tudo será possível", "você é do tamanho dos seus sonhos"... essas são frases de efeito comuns no universo motivacional, usadas já ao limite do esgotamento.
Tentar motivar os outros é natural e bacana. E até, como escrevi acima, é um iniciativa bem óbvia, pois é o que se espera das pessoas: solidariedade.
Mas....
Mas o mundo não é colorido.
E nem todos se dão bem.
E nossas vidas estão permeadas de pequenos e grandes fracassos. Todos nós enfrentamos mais de uma derrota em nossos projetos e sonhos.
Conheço várias histórias de candidatos esmagados por sucessivos fracassos no Exame de Ordem, mas, de tanto insistirem, ao fim conseguiram. No Exame passado, na nossa comunidade no Orkut, uma menina se abriu e contou que conseguiu passar no seu oitavo Exame.
Oito Exames até conseguir o sucesso. Provavelmente persistência era o sobrenome dela.
E ela conseguiu.
Conheço pessoalmente pessoas que levaram 5, 6 ou mesmo 7 Exames para se tornarem advogados.
Sei de uma história, verídica, de um candidato em São Paulo que estava, pasmem, na sua 17ª tentativa de ingressar nos quadros da Ordem. Ele estava tentando há mais tempo do que ficou na faculdade. Isso foi em 2007 ou 2008. Não sei se ele conseguiu ao fim, mas tentar 17 vezes não é para qualquer um.
É preciso ter muita garra, uma perseverança de aço.
Mas não é assim para todos.
A vida é por demais complexa para se declinar aqui a miríade de circunstâncias pessoais que atrapalham sonhos e projetos: necessidade de trabalhar, filhos, pouca grana, educação deficitária, pouca força de vontade e mais um longo e amplo etc., apresentável de forma isolada ou concomitante para cada um que almeja o sucesso no Exame de Ordem ou em um concurso qualquer.
O Exame de Ordem aprova, em média, uns 16% dos candidatos, levando-se em conta apenas as últimas provas.
A OAB diz que existe um universo de 4 milhões de bacharéis sem carteira. Outros dizem que são 2 milhões.
A verdade é que não existe um número oficial, se existir algum levantamento, mas não tenho dúvidas de que são muitas centenas de milhares de bacharéis sem carteira.
Uns por que não querem, outros, por que não podem, e a grande maioria por que não conseguiu.
Desistiram.
Desistir ou ficar pelo caminho é a regra.
Por que vocês acham que o Exame de Ordem desperta tantas polêmicas? Por que ele tem opositores tão ferozes, armados de todos os argumentos e ações para derrubá-lo?
Porque o Exame de Ordem é um elemento de exclusão do mercado de trabalho.
Vejam, não entro aqui no mérito dele ser justo ou não, constitucional ou não. Apenas exponho o que de fato ocorre: ele exclui bacharéis em Direito do exercício da advocacia.
Exclui quem passou 5 anos na faculdade, pagando uma soma que imagino girar em torno de 70 mil reais para conseguir o diploma.
Esperar uma indignação contra o Exame é algo natural.
Mas como escrevi, não vou aqui adentrar no mérito dele ser necessário, justo ou injusto. Não é o foco.
Apenas quis mostrar uma realidade: sucumbir ao Exame de Ordem é a regra.
E agora respondo a pergunta: Quando é a hora de desistir?
Você só deve desistir quando, APÓS aprender a estudar, não conseguir o sucesso.
Aprender a estudar?
Exatamente!
Não se trata aqui de se ficar horas e horas em frente a um livro, assistir inúmeras aulas e resolver uma infinidade de exercícios.
Isso inegavelmente é estudar.
Mas mesmo assim muitos sucumbem.
Não é uma questão de tempo e sim de apreensão do conhecimento com qualidade.
Saber de fato.
Estudar com eficiência.
E creio que para começar a aprender de fato, adquirir o conhecimento com consistência para disponibilizá-lo na hora da prova e superar o desafio imposto pela banca examinadora, o candidato, antes, precisa conhecer a si mesmo como estudante.
O que você efetivamente sabe de si como estudante? Quais são suas deficiências de aprendizado? Há estratégia de estudo? Há uma estratégia para conciliar estudo e a vida pessoal? Há entrega de tempo em um estudo eficiente? Por quanto tempo você mantém a informação estudada? Ele sedimenta na memória ou acaba se dispersando?
Falo por mim e creio que posso falar por muitos, mas nunca me ensinaram corretamente como estudar.
Meus pais usaram comigo técnicas de estudo que hoje tenho a convicção de que eram até prejudiciais para o aprendizado. Claro! Não posso culpá-los, pois eram leigos no assunto desejando ver o filho aprender e vencer na vida. Todo pai quer isso.
Mas eram leigos.
Pergunto: Quantos livros de preparação para os estudos você já leu? Já discutiu técnicas de estudo antes?
Enfim...sabe estudar?
Coloco a questão sob este prisma pois me recuso a acreditar que as pessoas sejam tão diferentes umas das outras ao ponto de que umas conseguirem e outras não.
Há o fator inteligência envolvido? Com certeza! Mas, na média, somos muito iguais para que uns poucos consigam o sucesso enquanto a maioria fracassa.
Talvez, e apenas talvez, pois trata-se de uma especulação, um candidato que reprova no Exame de forma sucessiva apenas conhece esse fracasso por ter, uma vida inteira, estudado de forma errada.
E como o Exame de Ordem é uma prova difícil, as deficiências que até então eram ocultas se manifestam na forma de reprovação.
Não se trata de ser inteligente ou não, trata-se de uma questão de metodologia.
Claro! Pode ser outro fator ou fatores. Pode ser uma infinidade de problemas. Impossível declinar todos.
Mas tenho a convicção de que a desistência só pode ocorrer APÓS você ter a integral noção de si mesmo como estudante. Afinal, você sabe estudar de verdade?
Se a resposta for não, NÃO desista.
Aprenda a estudar. Procure livros, converse com colegas, busque informações. Quem tem a internet em casa não tem o direito de falar que não sabe por onde ou como começar.
Digite no google "como estudar" ou "como passar em concursos". Fuçe, faça pesquisas, saiba o que existe sobre o tema.
E depois de descobrir, simplesmente aprenda a aprender.
E depois de aprender a aprender, estude para o seu real objetivo, com técnica e empenho.
Só aí o fracasso, se ele ocorrer, será um fracasso REAL!
E mesmo assim, só depois de você tentar bem mais de uma vez.
Tenham em mente que essa é apenas uma abordagem do assunto. E de certa forma, ela é simplista, pois não sou pedagogo.
Ademais, é impossível esgotar o tema em apenas um texto, quando existem inúmeros livros tratando do assunto.
Mas ao menos que sirva para MOTIVAR você a estudar, a buscar uma solução REAL sem que eu precise escrever "você pode", "você é capaz", "acredite nos seus sonhos que tudo será possível", "você é do tamanho dos seus sonhos"...
A busca pela solução é racional, é técnica.
E você pode? Claro que pode! Isso é óbvio!!!
Apenas busque trilhar o caminho correto, do autoconhecimento e das técnicas de estudo adequadas.
Só desista depois disso.
Desistir antes apenas representará um imenso desperdício de tempo, dinheiro e de você mesmo, pessoa tão capaz quanto as demais.