Qualidade do ensino: alternativas

Terça, 17 de julho de 2012

Artigo escrito por Walter Ceneviva.

Duas linhas do pensamento do brasileiro sobre o ensino universitário separam posições distintas. De um lado estão os que desejam a abertura de acesso para acolhimento de todos os segmentos sociais, e de outro os que privilegiam o predomínio da qualidade cultural, intelectual, técnica e pessoal do alunado, distinguido pela competência, cultura e dignidade para quem chegar ao fim do curso. É evidente que o acesso há de ser aberto a todos, mas sem que a capacitação seja facilitada até o ponto de sacrificar a qualidade, com efeito danoso para toda a cidadania.

A questão das cotas escolares é um bom passo intermediário que tem aprovado bons alunos, com capacidade cultural e interesse no estudo. Tem, contudo, dois defeitos a serem corrigidos: cria uma forma suplementar de privilégio, ainda quando atribuída à parcela substancial do povo brasileiro. De outro modo, pelo menos no nível federal, tem permitido distorções, mesmo entre os beneficiados, depois do ingresso no alunado do nível superior.

Elementos estranhos aos próprios alunos contribuíram para a maior dificuldade. O Brasil percorreu, nos últimos decênios, intenso processo de quantificação de caminhos universitários, em transformação radical de numerosas instituições particulares. Em algumas delas a insuficiência é marcante, por exemplo, quanto ao idioma e sua literatura. É comum saber-se de alunos cujo nível de leitura se resolve em resumos plastificados de obras, que não são lidas.

Para tudo, em matéria de quantidade, serve de exemplo mais um exame da Ordem dos Advogados do Brasil. A grande quantidade de candidatos e de reprovados -contados às dezenas de milhares- faz desse certame o mais criticado. Mas é certo que o índice das reprovações é filho do mau ensino recebido.

O obstáculo da chegada à universidade tem mais dois aspectos desapontadores. O primeiro deles é o da fraude, no conhecimento prévio das questões a serem propostas. O segundo exemplo está nas cotas para ingresso na universidade, com reserva privilegiada pela cor. As cotas também se ligam à política adotada nos últimos cinquenta anos, quando se passou a defender a ideia de que quanto mais ampla for a base quantitativa da pirâmide do ensino, mais se garantirá a qualidade dos que chegarem ao topo da mesma pirâmide. A prática não parece ter confirmado a garantia de qualidade proporcional expandida.

Efetivamente, a se julgar pela educação superior no Brasil, o número de doutores em todas as carreiras cresceu em proporção, mas a simples quantificação não resolve, até mesmo no sistema de cotas - compreensível por período breve, mas não a título permanente.

Com olhos para a Constituição e para os números, o nível de participação nas camadas em preparo para qualquer ramo da atividade profissional dos formandos ainda não foi avaliado de modo merecedor da confiança de todos. É objetivo a ser perseguido, para o "pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho" (Constituição, art. 205). Deve ser o centro da preocupação maior de todos nós, para que a súmula clara da Carta Magna não seja sacrificada, com grave prejuízo para o futuro da educação neste país.

Fonte: UOL

Conversei com um amigo neste final de semana e ele chamou o ensino superior de "o novo ensino médio". Não sem razão, pois as facilidades para se cursar uma faculdade são tantas que os processos de admissão (vestibular) já não têm mais o condão de selecionar qualitativamente os futuros universitários.

A causa para a o ingresso sem critérios dos novos universitários tem uma única origem: a expansão indiscriminada de faculdades nas duas últimas décadas no país. Como o lucro é o objetivo do negócio educação, a admissão de qualquer estudante de ensino médio, independente do seu nível de preparo e conhecimento, faz parte e uma política de negócios voltada exclusivamente para atender à necessidade do lucro. A formação do universitário é uma elemento secundário dentro dessa lógica.

O Exame de Ordem causa polêmica porque revela esta lógica mercantilista da educação superior e seus deletérios efeitos na formação. Se tivéssemos exames em outras profissões o mesmo descalabro seria revelado, tal como está sendo no curso de Contabilidade, cujos percentuais de reprovação estão hoje na casa dos 50%.

E as perspectivas não são animadoras para o futuro, pois com o plano de expansão do ensino superior a tendência seguirá no sentido de se flexibilizar ao máximo o ingresso de novos universitários a qualquer preço para atender critérios internacionais de ingresso de jovens no ensino superior.

O Governo quer expandir os atuais 6 milhões de universitários para 10 milhões até 2020 e isso será feito sob quaisquer condições. E a fatura, no futuro, será cobrada por quem tem um diploma mas não condições de exercer a profissão escolhida.

Verdadeira bolha educacional.