Qual é o melhor candidato para o mercado da advocacia?

Sexta, 24 de outubro de 2014

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Diz a lenda que a vitoriosa campanha de Bill Clinton teve como ideia central uma frase bem debochada: ?é a economia, estúpido!?. Ela teria sido escrita pelo estrategista eleitoral da campanha, James Carville, em um cartaz dependurado no comitê do partido democrata, lá no longínquo ano de 1992. Na época o então presidente, George H. Bush (pai), disputava sua reeleição revestido com o manto do sucesso da recente intervenção no Iraque, quando as forças da coalizão libertaram o Kuait das garras de Saddam Hussein.

Entretanto, mesmo com a vitória no campo de batalha, a América ia mal das pernas no campo econômico. Como nós sabemos, Clinton acabou vencendo ao bater exatamente na questão econômica, muito mais significativa para o bolso dos americanos do que (mais uma ) vitória militar.

O que representaria para os advogados mais uma gestão da presidente Dilma Rousseff? O mercado melhoraria ou iríamos aprofundar a atual crise?

Acabei de escrever sobre isto no Blog Cers, mas com um viés voltado para os concurseiros:

?É a economia, meu caro? ou, qual é o melhor candidato a presidente para os concurseiros?

Entretanto a análise será um pouco diferente para os advogados, pois esse é um outro mercado, da iniciativa privada, muito mais dependente da saúde da economia. A conclusão tenderá a ser a mesma, mas com efeitos diferentes.

A reeleição de Dilma é a garantia de uma melhora para o mercado da advocacia?

Essa pergunta é fundamental para definir o voto de muitos advogados, sem a menor sombra de dúvida.

Como sabemos, e tratamos disto de forma rotineira aqui, o mercado para os jovens advogados encontra-se muito, mas muito difícil:

Os vencimentos (de fome) do chamado "advogado audiencista" e a crise do mercado da advocacia

?Pós-graduação virou commodity?. A nova visão do mercado sobre a formação profissional

Tem carteira da OAB mas não tem carro? As coisas serão um pouco mais difíceis para você?

?A lei de mercado não pode ser a lei da selva?, ou, ?pode a OAB salvar os advogados de honorários pífios??

Metade dos trabalhadores brasileiros com diploma universitário ganha até 4 salários mínimos

O que fazer com R$ 100,00 de honorários de sucumbência?

Projeto fixa bases salariais mínimas para os advogados da iniciativa privada. Quais seriam as consequências de sua aprovação?

32,9% dos advogados estão insatisfeitos com renda na área jurídica

Governo de Sergipe abre concurso para advogado e oferece salário de FOME!

O fundo do poço: a realidade de um mercado em que um advogado recebe R$ 20,00 para fazer uma audiência

A crise do mercado para os advogados, em especial os mais jovens, não é só real como bastante aguda. Ela deriva, em essência, de dois fatores:

1 - expansão desenfreada de cursos jurídicos nas últimas 2 décadas, gerando um contingente imenso de novos profissionais, e;

2 - baixa capacidade da economia em absorver a mão de obra disponível.

Portanto, ofertar subsídios sérios, embasados e sem achismos é a minha tarefa com esta publicação, com o fito de ajudá-los no processo de escolha entre um e outro candidato.

Evidentemente eu também deixarei a minha opinião ao final, e o farei pensando não só no que eu creio, como no que é melhor para o público para o qual eu escrevo e, em última instância, para mim mesmo.

Só me interessa um país com economia forte,  em expansão, que sustente as demandas da sociedade , em especial em termos de empregabilidade, pois assim, em última análise, o meu serviço encontrará respaldo no mercado, pois este poderá consumir o que eu produzo.

E aqui encontra-se a raiz da questão: qual a perspectiva atual da economia e qual a sua projeção em eventual um eventual reeleição da presidente Dilma?

Essa pergunta é basilar por uma razão muito simples: o advogado DEPENDE de uma economia forte, de uma economia onde o dinheiro gire para poder ser procurado pelos seus clientes. Uma economia estática, parada, representa tão somente a miséria para o advogado.

Quanto menos interações econômicas menores as chances da classe dos advogados ser procurada. Além disto, com menos ativos circulando, os honorários a serem contratados acabam sendo achatados pela própria realidade do mercado.

Isso precisa ser assumido como premissa pelo leitor: o aumento dos negócios depende de uma economia consistente, pois é a economia que sustenta a riqueza das interações econômicas.

James Carville, e o tempo mostrou isso, estava recoberto pela razão.

Vamos então fazer a pergunta-chave: como anda a economia brasileira?

De plano já trago uma matéria da conceituada Revista Exame, voltada para o mercado, publicada no último dia 29 de setembro:

O Banco Central (BC) reduziu a projeção de crescimento da economia para este ano.

De acordo com o Relatório Trimestral de Inflação, divulgado hoje (26), o Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos, deve apresentar expansão de 0,7%, ante a previsão anterior de 1,6%.

De acordo com o BC, a produção agropecuária deverá crescer 2,3% ? a estimativa anterior era 2,8%.

A produção da indústria deverá recuar 1,6%, contra a previsão anterior de retração de 0,4%.

O crescimento do setor de serviços caiu de 2% para 1,2%.

O consumo das deve crescer 1,6%, contra 2% previstos em junho.

Os investimentos ? Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) ? devem apresentar retração 6,5%, ante 2,4% previstos em junho.

A projeção para o consumo do governo passou de 2,1% para 1,7%.

As projeções para as exportações e as importações foram revisadas de 2,3% para 3,6%, e de 0,6% para 1%, respectivamente.

Para o período de 12 meses encerrado em junho de 2015, a estimativa de crescimento do BC para o PIB é 1,2%.

Fonte: Exame

Os dados acima não são resultados de uma invencionice qualquer, são dados do próprio Banco Central do Brasil e mostram uma retração nos principais indicadores econômicos do país, que já apresentam índices baixíssimos de crescimento.

Aliás, para o Fundo Monetário Internacional, o Brasil tem um dos piores crescimentos do mundo, tal como apontam dados publicados no último dia 7 de outubro. Para o FMI, o Brasil apresenta a sua PIOR série histórica de crescimento dos últimos 16 anos,  revisando para baixo a previsão de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano, para pífios 0,3%:

Brasil terá segundo pior resultado em 16 anos, prevê FMI

O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird) anunciaram ontem o que o mercado preconiza há meses: o crescimento do Brasil será quase nulo em 2014. Pela sexta vez seguida, o FMI revisou para baixo a previsão de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do país neste ano, para pífio 0,3%. A redução de 1 ponto percentual em relação a projeção feita em julho, de 1,3%, está no relatório World Economic Outlook (Perspectivas da Economia Global), divulgado ontem em Washington (EUA). Já o Bird prevê 0,5%.

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Com o corte, o FMI prevê que o Brasil crescerá apenas 10% da média mundial, cuja alta é estimada em 3,3% este ano, e menos ainda se comparado com a expansão projetada para as economias emergentes, de 4,4% em média. Somente Itália, em recessão, e Rússia, que sofre com embargos por conta do conflito com a Ucrânia, devem crescer menos do que o Brasil este ano. Se a previsão do FMI for confirmada, será o segundo pior resultado desde 1998, quando a economia não registrou crescimento, à frente apenas da queda de 0,3% verificada em 2009, em plena crise mundial. (...)

O Fundo também reduziu suas projeções para 2015: avanço de 1,4%, abaixo dos 2% esperados anteriormente. As previsões para o PIB brasileiro do FMI estão abaixo do que espera o governo, que estima crescimento de 0,9%, mas acima do projetado pelo mercado. Segundo o Boletim Focus, que reúne as 100 maiores instituições financeiras do país, a expansão será de 0,24% em 2014 e de 1% em 2015.

No relatório, o FMI pontuou os motivos que levaram à revisão. ?No Brasil, o PIB se contraiu no primeiro semestre do ano, refletindo o investimento fraco e uma moderação no consumo, devido a condições financeiras mais apertadas, à queda continuada nos negócios e à confiança do consumidor. Esses fatores, juntamente com a fraqueza da competitividade, deverão manter o crescimento moderado na maior parte da 2014?, assinalou o documento. (...)

Fonte: Estado de Minas

 E, somado com o crescimento tendendo ao zero, temos um quadro dos mais preocupantes: a perda do controle da inflação.

No último relatório do banco Central do Brasil, a inflação ficou bem acima da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, divulgadas no final de setembro:

Inflação deve estourar a meta em 2014, prevê o BC

Novas projeções do Banco Central divulgadas nesta segunda-feira, 29, no Relatório Trimestral de Inflação, mostram que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará o ano de 2014 em 6,3%, bem acima do centro da meta de inflação de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

A nova estimativa apresenta um ligeiro recuo em relação à projeção de 6,4% que constava no relatório de inflação divulgado em junho. A projeção leva em conta o cenário de referência traçado pelo BC para a definição da política monetária,

No último ano do governo Lula, em 2010, o IPCA foi de 5,91%. A inflação no ano passado subiu também 5,91%, ante 5,84% em 2012. No primeiro ano do governo Dilma, em 2011, o IPCA fechou no teto da meta, em 6,50%. (...)

Fonte: Exame

Vejam que até aqui o texto está absolutamente desprovido de achismos ou suposições pessoais. Trata-se tão somente da exposição de dados brutos, produzidos pelo Banco Central e pelo FMI. Não há paixões, achismos ou suposições. De fato,e  de forma inequívoca, nossa economia vai mal das pernas!

Esse fenômeno, de baixíssimo crescimento e alta de inflação possui um jargão na economia: "estagflação", uma deletéria mistura de estagnação financeira com elevada inflação.

Já em junho deste ano o colunista de economia do Estadão, Fábio Alves, trazia o tema estagflação à baila, em uma análise do nosso quadro econômico:

?Pibinho? ressuscita fantasma da estagflação

A perda de fôlego da economia brasileira no primeiro trimestre deste ano deflagrou uma rodada de revisão para baixo nas projeções do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014 e reacendeu o debate sobre se o Brasil já não estaria imerso num processo de estagflação, ou seja, quando uma economia apresenta um problema estrutural de baixo crescimento econômico combinado com elevada inflação.

Segundo o IBGE divulgou na semana passada, o PIB brasileiro cresceu 0,20% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre de 2013. Na comparação com o primeiro trimestre de 2013, o PIB avançou 1,90% no primeiro trimestre deste ano.

Na última pesquisa semanal Focus, divulgada ontem pelo Banco Central, a projeção de crescimento da economia brasileira foi reduzida de 1,63% para apenas 1,5% em 2014. Para 2015, a estimativa dos analistas também foi cortada, de 1,96% para 1,85%. Por outro lado, o IPCA de 2014 estimado é de 6,47%.

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O Brasil está, de fato, imerso num ambiente de estagflação?

Na opinião de um economista brasileiro de ?buy side? em Nova York, a resposta é sim. Nas contas dele, desde que Dilma Rousseff assumiu o governo em 2011, o crescimento anual médio do País ficará por volta de 1,9% nos quatro anos da gestão da presidente (levando em conta a aposta dele de que o PIB terá expansão de 1,3% neste ano e que em 2013 o crescimento foi de 2,5%, conforme revisão do IBGE). Por outro lado, ressalta a fonte acima, a inflação anual média no período (levando em conta a projeção da Focus) será de 6,2%.

Em conversa com esta coluna, um dos mais respeitados economistas brasileiros diz que a resposta à pergunta acima é mais complexa do que um simples ?sim ou não?.

?No sentido de que o crescimento está baixo e a inflação está elevada, o Brasil está sim num cenário de estagflação?, diz ele. ?Contudo, a estagflação é um fenômeno perene, não reversível; nesse sentido, a resposta é não?.

O que está acontecendo, segundo esse economista, é que o mercado de trabalho ainda está muito apertado e o governo segue alimentando a demanda, enquanto o BC tenta agir na direção contrária a do resto do governo. (...)

Fonte: Estadão/Blog Fábio Alves

Aqui chegamos a um ponto crucial, em que uma pergunta necessariamente precisa ser respondida, apesar disto já ter sido inferido no texto em mais de uma oportunidade: neste contexto como fica o mercado para a advocacia?

Primeiro: a vida para os advogados não será fácil INDEPENDENTEMENTE do vencedor. A situação econômica passa por uma séria deteorização e tirar o pais da iminência da estagflação será uma tarefa árdua.

Segundo: o governo Dilma está conduzindo o país para a estagflação e não apresentou até agora qualquer mecanismo para nos retirar desta rota.

Terceiro: Há a esperança de que eventual gestão de Aécio Neves conduza o país para uma melhora no quadro econômico. O PSDB tem uma outra visão de mercado e direcionaria a economia em outra direção.

Quarto e último: ponderem sobre o tema desprovidos de paixões ou partidarismos. É óbvio que eu tenho minha preferência, mas, mesmo assim, tentei despir este texto de todo e qualquer viés ideológico por respeito à inteligência de vocês, meus leitores. Parto da premissa que todos vocês são inteligentes e sabem pensar por conta própria. Logo, reflitam sobre estas palavras, busquem mais substratos para a reflexão de fontes FIDEDIGNAS (cuidado com os sites e informações altamente partidarizados) e tome uma decisão RACIONAL.

Ninguém é dono da verdade e ninguém tem o condão de ver o futuro. Este, o futuro, somente pode ser intuído, mas não predito.

Com inteligência, informação e um pouco de honestidade intelectual todos farão, seguramente, a melhor escolha no próximo domingo.

Façam suas escolhas pensando no futuro e não com olhos no passado!

Boa reflexão!