Quarta, 14 de setembro de 2022
Recebi certa vez, recentemente, a seguinte mensagem de uma aluna, relatando uma situação que há muito é conhecida: o tratamento dispensado por familiares tóxicos.
Leiam:
Quem faz o Exame de Ordem sabe perfeitamente bem o tamanho da pressão em ser aprovado. O mantra "depois de 5 anos de faculdade você tem a obrigação de passar" é profundamente real. Seja a pressão pessoal em conseguir logo a aprovação ou a pressão de familiares ou amigos.
"Ter de passar" é uma espécie de acessório da prova, e produz, é claro, muito stress.
Nesse momento o apoio da família é fundamental para as dificuldades serem superadas.
O problema é quando é o oposto, quando a família prejudica intensamente a preparação estabelecendo cobranças que beiram o irracional.
UMA VERDADE: a pressão emocional produz um FORTE e REAL efeito no desempenho nos estudos.
Produz como?
Todo estudante precisa de foco para assimilar o conteúdo a ser estudado. Se o foco é quebrado pela ansiedade (pensamento recorrente sobre algum efvento futuro ou situação específica) a apreensão do conteúdo é prejudicada.
O impacto no desempenho tende a conduzir para mais uma experiência de reprovação, e com isso o circuito da pressão pelo sucesso é retroalimentado, com consequências funestas.
As pessoas não são movidas por pressão, mas sim por ambição. A ambição de vencer na vida. A pressão só funciona se é interna, e ainda assim, em doses racionais.
O exemplo acima é a demonstração explícita de uma relação familiar tóxica, agressiva e intolerante.
O que importa ali é tão somente o resultado, e não a pessoa.
"Ah, mas o resultado positivo seria bom para ela, daí a pressão para ela estudar!"
Temos dois problemas nessa afirmação:
1 - Cada um sabe o que é bom para si e o que fazer;
2 - As pessoas costumam projetar nos outros o sucesso que ELAS querem para você, e não o que você quer para si mesmo.
O resultado disto pode ser potenciamente desastroso para o ego e para a aprovação, isso especialmente por conta da ANSIEDADE resultante deste processo.
E o que é ansiedade? Segue um conceito retirado de um interessante estudo sobre ansiedade em jovens estudantes:
?ansiedade, segundo Dalgalarrondo (2000), pode ser compreendida como um incômodo desagradável interno, que interfere no humor, deixando a pessoa com uma sensação desconfortável, uma inquietação interna junto às percepções negativas sobre o futuro e manifestando sintomas somáticos e fisiológicos, como sudorese, tensão muscular, tonturas, entre outros, e sintomas psíquicos, por exemplo, apreensão e desconforto mental.
Além disso, a ansiedade é considerada um estado psicológico e fisiológico, caracterizada por aspectos cognitivo, somático, emocional e comportamental (Seligman, Walker, & Rosenhan, 2001; Craske & cols., 2009).
Trata-se de uma condição orientada para o futuro, acompanhada de uma apreensão relacionada com a percepção de falta de controle e previsão de eventos potencialmente aversivos (Barlow, 2002). Conforme pontuado por Oliveira e Sisto (2002), essas manifestações da ansiedade podem estar relacionadas a eventos passageiros ligados a algo específico ou ser uma forma permanente do indivíduo lidar com as situações do dia a dia, como parte da sua própria constituição da personalidade.?
Fonte: Autoconceito e ansiedade escolar: um estudo com alunos do ensino fundamental
Como lidar?
Existem muitas formas, é claro, mas cada fórumla depende essencialmente do grau de DEPENDÊNCIA dos familiares, da capacidade de suportar embates e da própria resiliência.
O mais adequado é chamar os parentes mais próximos, em regra pai e mãe, os quais temos uma relação de dependência, e abrir o jogo, em uma conversa franca.
É importante deixar claro para a família que a preparação envolve um período de tempo indefinido e que o nível do desafio é considerável. Tem de ficar claro que a aprovação é resultado de um processo e que pode consumir não só algum tempo como também algumas edições da prova.
Também é importante deixar muito claro que você tem um compromisso com o seu projeto de estudo e que não está enrolando ou procrastinando na preparação.
Evidentemente o "ser mais adequado" também depende muito do perfil dos pais. Podemos ter reações e reações a partir daí, e para mim tudo seria muito imprevisível.
Mas situações de definição como essas também precisam ser ponderadas em função da própria resiliência. Algumas pessoas suportam esse tipo de pressão, outras não.
O grau de dificuldade da prova, real, pode ser mensurado em dados da própria FGV:
Para 143 mil indivíduos (ou 40% do contingente de aprovados), dentro de um estudo específico da FGV, a aprovação foi obtida já na primeira oportunidade. Para 75% dos aprovados no Exame (269 mil examinandos), foram necessárias até três participações para obtenção do aproveitamento necessário na segunda fase.
Não é fácil!
A questão é: se a pressão atrapalha de verdade, algo precisa ser feito. E uma conversa franca sobre a realidade da prova e suas dificuldades é, ao meu ver, a melhor opção.
Estar 100% focado no projeto de aprovação é importante, e trabalhar em prol desse foco faz parte do jogo.