Por que um desempenho ruim da sua faculdade no ENADE ou no Exame de Ordem é ruim para você também?

Quarta, 9 de outubro de 2013

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Ontem recebi a ligação de um amigo meu, ex-colega de faculdade e hoje coordenador de uma grande banca de advogados aqui em Brasília, pedindo ajuda para encontrar alguns bons advogados e estagiários.

O interessante é que ele, agora como contratante, repetiu um "mantra" já conhecido por nós desde os tempos da faculdade: "só quero gente que tenha vindo da UnB, UniCeub ou UDF".

Ouço isso desde que comecei a estudar Direito.

De 27 ou 28 faculdades de Direito no Distrito Federal, apenas 3 chamam a atenção dos advogados da região central de Brasília - Asa Sul, Asa Norte, Lago Sul e  Lago Norte - onde estão situadas todas as grandes bancas de advocacia e a maioria dos escritórios.

Não vou entrar aqui no mérito se isso é certo ou errado, se é bom ou ruim, bonito ou feio: afirmo, e afirmo com toda a certeza do mundo, de que isso é verdade e se trata da visão do MERCADO sobre as faculdades de Direito do DF.

Quem contrata e emprega, chamado aqui de mercado, é quem dita as regras do jogo quando o assunto é empregabilidade.

Essa visão, obviamente discriminatória, representa uma pré-seleção baseada na fama das instituições do DF. Não importa a condição pessoal do candidato em um primeiro momento, e sim a sua origem, seu pólo de formação.

Obviamente, todas as outras instituições já formaram muitos advogados de qualidade como também têm alunos excelentes. Mas isso é irrelevante para uma primeira análise promovida por critérios do chamado mercado.

Claro! Isso é apenas uma regra, e não um critério absoluto, mas de toda forma é uma regra com força na mentalidade dos advogados daqui.

Curiosamente, das 3 faculdades que citei, duas têm o Selo OAB de Qualidade - UnB e UniCeub - o que reforça essa visão estereotipada do aludido mercado. Do total de cursos brasileiros, 790 foram avaliados pela OAB depois de preencherem os pré-requisitos de participação em três Exames de Ordem unificados (2010.2, 2010.3 e 2011.1), sendo que cada um precisou ter, no mínimo, 20 alunos participando de cada Exame, além do cruzamento do desempenho das faculdades no Enade de 2009.

Imagino, e não devo estar errado, que esse padrão encontre ressonância Brasil afora: o mercado prefere advogados ou estagiários oriundos de certas faculdades em detrimento daqueles oriundos de outras. Na visão do mercado, a faculdade de origem do candidato representaria, em alguma medida, uma espécie de "Selo de Qualidade", uma pré-seleção na busca por bons profissionais.

Como eu já disse, trata-se de uma visão discriminatória, mas é algo incoercível e inafastável da realidade.

Muito bem!

Nessa semana o MEC liberou os dados do ENADE 2012, e muitas instituições ficaram com um desempenho ruim nessa avaliação. Como sabemos, a prova do Enade é obrigatória, mas o desempenhos dos candidatos é indiferente para a carreira pessoal de cada um - o importante é apenas comparecer.

Vejamos trechos de uma matéria publicada hoje no site da OAB sobre o desempenho das faculdades Enade 2012:

Deu no G1: Enade tem 30% dos cursos do ensino superior abaixo da média

Brasília - Um índice de 30% dos cursos das instituições de ensino superior que participaram do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) em 2012 ficaram abaixo da média considerada aceitável no Conceito Enade, segundo divulgou o Ministério da Educação (MEC), nesta segunda-feira (7), em Brasília. (...)

Esse índice monitora a qualidade dos cursos de graduação e divide as instituições (universidades, faculdades e centros universitários) por totais contínuos que vão de 0 a 5 pontos, com divisão por casas decimais, e em faixas que vão de 1 a 5. Avaliações abaixo de três são consideradas insatisfatórias pelo MEC. Elas tiraram conceito 1 ou 2 como resultado final do Exame. Para estarem em um nível aceitável de prestação de serviços de educação, é preciso tirar de 3 a 5, a nota máxima.

O conceito Enade é o principal indicador do Índice Geral de Cursos Avaliados da Instituição (IGC) que, segundo o MEC, será divulgado no final deste mês. (...)

A prova teve 20,1% de abstenção em todo o país. (...)

Para combater o boicote dos estudantes, a partir da edição do ano que vem, será necessário que todos eles permaneçam em sala por pelo menos uma hora após o início da prova. Somente a assinatura da presença não valerá mais como participação válida, anunciou o MEC nesta segunda.

Confiram a íntegra da matéria clicando AQUI.

Eis dois pontos curiosos: o índice de abstenção é alto e, como a prova não produz um resultado objetivo, prático e imediato na vida do universitário, ele não se empenha para ter um desempenho excelente nessa avaliação (falo, evidentemente, de um modo geral). O impacto imediato é sentido pela faculdade e não pelos universitários, afinal, o "canudo" vai ser entregue de toda forma.

Certo?

Não...

Ao fim do processo lá estará ele, o mercado, para impor suas próprias regras.

O que é o mercado?

Mercado é o nome dado a uma pluralidade de pessoas responsáveis por selecionar e contratar os profissionais de um determinado segmento. No nosso caso, falo do mercado da advocacia.

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O mercado possui vários nichos, busca por diferentes profissionais e tem diferentes prioridades, tudo dependendo dos objetivos dos mais diversos contratantes.

O mercado pode ser sexista, injusto, preconceituoso e até mesmo anti-ético. Depende primordialmente das valorações pessoais de cada um dos seus componentes, e de um modo geral os atributo negativos de seleção são escamoteados por um sorriso no rosto e um caloroso aperto de mão.

Mas, em regra, o mercado tem foco em dois objetivos específicos: preço e eficiência.

Em regra, e pela lógica, quanto mais tempo no mercado e quanto mais qualificado for o candidato, mais fácil para ele conseguir as melhores vagas ofertadas. Formação, experiência e fama pessoal são cobiçados pelo mercado. Esses atributos ainda oferecem uma vantagem: tem o condão de afastar uma avaliação prévia ruim de origem daquele profissional, afinal, com o passar do tempo ele provou seu valor e se distinguiu da massa anônima de recém-formados de qualquer instituição de ensino.

E aqui chego ao ponto: não me interessa falar do profissional já tarimbado, e sim do jovem advogado, aquele que terá de enfrentar pela primeira vez o mercado.

Sobre este pesa a visão cruel daqueles responsáveis pelas contratações iniciais.

E aí voltamos os olhos para a reputação das faculdade  de Direito.

Reputação é algo que leva tempo para ser construída, em especial quando falamos de instituições de ensino. Leva-se décadas para uma faculdade cravar seu nome no imaginário do mercado.

Claro! Pode ser que uma instituição desponte de forma mais agressiva, a depender de sua gestão e do seu marketing, mas, de uma modo geral, as faculdades mais antigas, mais "tradicionais", são as referências.

Cliquem nos dois links abaixo e vejam como as instituições mais antigas (e geralmente públicas) têm os melhores desempenhos no Enade. Nada é por acaso:

Melhores Cursos de Direito no Enade 2012

Piores Cursos de Direito no Enade 2012

Para piorar, a construção dessa imagem depende, fundamentalmente, dos próprios estudantes, e como sabemos, em cada cabeça vai uma sentença.

Gostemos ou não, o nome da nossa faculdade passa a fazer parte do nosso DNA profissional para sempre.

Se o conjuntos de egresso de uma instituição é indiferente ao Enade, ou vai mal no Exame de Ordem (não dá para ser indiferente ao exame, pois aí o resultado tem um impacto DIRETO no bacharel), o peso de um fraco desempenho é sentido, em um maior ou menor grau em TODOS aqueles que um dia estudaram naquela instituição.

Pode ser indiferentes para uns, pode ser mais um peso na hora de ser contratado para outros.

AS provas, as avaliações e o tempo forma o PRESTÍGIO  de uma faculdade. E esse prestígio é usado pelo mercado para SELECIONAR quem vai ou não conseguir aquela vaga naquele escritório.

Se sua faculdade vai mal, você começa mal nesse jogo. Não é determinante, mas atrapalha.

O meu amigo, como critério INICIAL, selecionou os egressos de apenas 3 instituições. Não importa para ele se das demais possam surgir alguém especial: ele precisa contratar e o fator tempo impede a adoção de um critério mais abrangente. Escolher apenas 3 instituições obedece a uma racionalidade: em regra, quem sai dessas instituições tem uma boa formação. Essa é a visão dele, criada não só pelo o que o mercado pensa mas, em especial, pelo o que ele mesmo já observou na prática.

Os estigmas criados pelo mercado são projeções de observações pessoais dos contratantes. Curiosamente, essas observações coincidem, criando assim a "visão" do mercado sobre o próprio mercado.

E assim é construído um critério.

Pensem sobre isso. Pensem sobre como é importante uma conscientização de todos os alunos de uma faculdade sobre a realidade do mercado.

O mercado não tem cor, não tem face, não tem identidade e não tem compaixão nenhuma. Quer apenas a eficiência e usa o nome das instituições de ensino como critério PRÉVIO de seleção.

Gostem ou não, é assim e não vai mudar.

Nunca!