O que vale mais? A pesquisa do Datafolha sobre o Exame de Ordem ou uma enquete da Agência Câmara?

Quarta, 29 de julho de 2015

Na última segunda-feira o Conjur trouxe, em 1ª mão, uma pesquisa do Instituto Datafolha sobre a aceitação do público quanto ao Exame de Ordem.

E a pesquisa trouxe uma majoritária aprovação da população quanto ao Exame de Ordem: nada mais, nada menos do que 89% dos entrevistados se mostraram favoráveis ao Exame da OAB.

89% dos brasileiros são favoráveis  ao Exame de Ordem, diz Datafolha. E 94% querem exames para médicos e engenheiros  

Essa informação gerou, de imediato, uma controvérsia, pois os dados conflitariam com uma famosa enquete do site da Câmara dos Deputados sobre a aceitação do Exame.

Nesta enquete o fim do Exame de Ordem está "ganhou" na opinião dos internautas (enquete encerrada):

 

E aí? O que vale mais? A enquete ou a pesquisa Datafolha?

Bom, a pesquisa em si, feita por um instituto, tem metodologia, técnica e critérios para ser realizada, observando uma série de regras que lhe dão suporte quanto a sua conclusão.

E o Datafolha é uma instituição séria.

Já a pesquisa da Agência Câmara apresenta uma série de problemas.

Como já escrevi em uma outra oportunidade, é tão fácil fraudar a votação que o site da Câmara dos Deputados deveria simplesmente tirar TODAS elas do ar.

É pateticamente fácil votar repetidas vezes em uma das opções. Nem precisa ser hacker ou qualquer coisa do gênero para conseguir.

Reparem só:

1 - Usem o navegador Chrome, o mais popular entre os usuários da internet;

2 - No canto superior direito da tela do navegador tem 3 barrinhas horizontais bem pequenas. Cliquem nela e abrirá uma janela. Cliquem no botão de navegação anônima:

 

3 - Ao clicar nessa opção uma nova janela abrirá. Nela, os cookies de navegação não são registrados quando um usuário navega. Essa janela de navegação tem um pequeno ícone no canto superior esquerdo, indicando que um usuário está em navegação anônima:

 

4 - Entrem na enquete do site da Câmara, na página das enquetes, e escolham qualquer uma (cliquem AQUI);

5 - Votem sim ou não, de acordo com suas consciências (opção não mais disponível para a pesquisa do Exame de Ordem, já encerrada):

 

6 - Ao terminarem de votar, fechem o navegador e voltem para a etapa 1, votando na enquete novamente por quantas vezes vocês quiserem. Eu votei 4 vezes no SIM, só pela zoeira.

Fácil, não é?

Fácil e ridículo! Como um sistema de enquetes da Câmara dos Deputados pode ser tão facilmente violado desta forma?

Criaram uma enquete pública e usam um protocolo de segurança tão elementar como este? Para a votação ter um mínimo de credibilidade o sistema deveria restringir novos votos pelo IP para tornar a fraude mais difícil e o voto mais crível.

Mas para burlá-lo basta navegar em modo anônimo, o que qualquer usuário de internet pode fazer usando apenas as opções do navegador.

Um dos sites mais populares sobre enquetes online dos EUA, o PollDaddy, apresenta três métodos para bloquear votos repetidos.

1) Não bloquear nada;

2) Bloquear por cookie e;

3) Bloquear por cookie e por IP único.

Isso para assegurar um mínimo de segurança. Poderíamos dizer que o sistema do site da Câmara simplesmente não tem segurança nenhuma.

E como eu descobri isso?

Vi, no facebook, um usuário comentando que tinha utilizado este procedimento e orientado outros usuários contrários ao Exame a fazerem o mesmo. Só Deus sabe quantos se empenharam nesta tarefa.

E aqui vem outra crítica ao sistema de enquetes da Câmara.

Grupos de pressão pequenos (e o grupo que quer acabar com o Exame É pequeno, apesar de ser bem engajado) sempre estão mais ligados em relação a um determinado tema do que a maioria dos interessados. Quem quer mudar algo naturalmente se mobiliza, ao contrário de quem apenas vive o status quo do momento.

Essas enquetes refletem muito mais o posicionamento dos grupos de pressão do que a opinião real de todo o conjunto da sociedade em relação aos mais diversos temas. Isso por si só já afasta, ao meu ver, o relevâncias dessas enquetes. E agora, com essa absurda facilidade em bular a enquete, a credibilidade das votações, ao menos para mim, é zero.

Vamos ver se a Câmara toda a decisão certa, tira todas as enquetes do ar e reformula o sistema, tornando-o mais confiável.

Do jeito que está é só perfumaria.

Logo, a pesquisa do Datafolha não só é mais crível como a enquete da Agência Câmara não tem valor NENHUM!