Quinta, 24 de janeiro de 2013
"Olá Maurício, vou direto ao assunto! É o seguinte já fiz 6 exames sendo que nos três últimos reprovei na segunda fase (5.1,-5.5-5.7). Agora, no exame IX, fiquei com 39 apenas, então logicamente não estarei na segunda fase.
Sou uma aluna dedicada e sempre cumpro com o cronograma dos cursinhos. Ocorre que estou sendo tomada por um desanimo e não consigo me concentrar nem ao menos ler um parágrafo completo. Na verdade estou bem assustada, tenho medo de cair na vala dos desistentes.
Com a experiência tanto sua quantos de outros que compartilham com você, gostaria que postasse algo que pudesse me ajudar, será que estudo de forma errada, olha que eu estudo pra caramba, já perdi férias, viagens, festas de família, na verdade já estou rotulada de a do contra que não participa das coisas.
Então é isso aguardo ansiosa uma resposta, até porque necessito começar estudar imediatamente, como não consigo espero que possa me ajudar a recuperar a vontade de estudar."
A imagem acima é de uma estátua do templo de Égina, na Grécia, chamada de "guerreiro moribundo".
A autora do mail acima está assim, meio que com o espírito moribundo, sem energias após sofrer com sistemáticas derrotas no Exame.
Quem chega neste estágio está quase na encruzilhada, no ponto de não retorno, no limiar da desistência. E isso acontece com muitos candidatos.
E quando digo muitos, falo de centenas de milhares ou mesmo milhões. O passivo de bacharéis em Direito que desistiram da carreira jurídica por conta do fracasso no Exame de Ordem é colossal. Os números não são exatos, mas existem estimativas que vão dos 700 mil aos 2 milhões de bacharéis em Direito sem a carteira da OAB.
Assombroso!
Como então reerguer o espírito, sacudir a poeira e reencontrar a força de vontade para enfim triunfar?
Vamos primeiro fugir do óbvio. Utilizar os velhos clichês das autoajuda não vai adiantar para nada. "Você pode", "você é capaz", "acredite nos seus sonhos que tudo será possível", "você é do tamanho dos seus sonhos"... são frases de efeito comuns no universo motivacional, usadas já ao limite do esgotamento.
O mail da nossa leitora mostra simplesmente que o mundo não é colorido e nem todos se dão bem. Nossas vidas estão permeadas de pequenos e grandes fracassos. Todos nós enfrentamos mais de uma derrota em nossos projetos e sonhos.
Conheço várias histórias de candidatos esmagados por sucessivas derrotas no Exame de Ordem, mas, de tanto insistirem, ao fim conseguiram. Conheço histórias de candidatos que passaram no 8º Exame de Ordem.
Oito Exames até conseguir o sucesso. Um verdadeiro teste de resistência psicológico. Conheço pessoalmente pessoas que levaram 5, 6 ou mesmo 7 Exames para se tornarem advogados.
Há duas edições do Exame conversei com uma menina que estava indo para sua 21ª edição da prova! Impressionante, não só pela incapacidade de passar como também pela persistência.
A vida é por demais complexa para se declinar aqui a miríade de circunstâncias pessoais que atrapalham sonhos e projetos: necessidade de trabalhar, filhos, pouca grana, educação deficitária, pouca força de vontade e mais um longo e amplo etc., apresentável de forma isolada ou concomitante para cada um que almeja o sucesso no Exame de Ordem ou em um concurso qualquer.
O Exame de Ordem aprova, em média, uns 18% dos candidatos, levando-se em conta apenas as últimas provas.
Eis uma verdade: Quando o assunto é o Exame de Ordem, desistir ou ficar pelo caminho é a regra.
Por que vocês acham que o Exame desperta tantas polêmicas? Por que ele tem opositores tão ferozes, armados de todos os argumentos e ações para derrubá-lo?
Porque o Exame de Ordem é um elemento de exclusão do mercado de trabalho! Vejam, não entro aqui no mérito dele ser justo ou não, constitucional ou não. Apenas exponho o que de fato ocorre: ele exclui bacharéis em Direito do exercício da advocacia.
Exclui quem passou 5 anos na faculdade, pagando uma soma que imagino girar em torno de 85 mil reais para conseguir o diploma.
Esperar uma indignação contra o Exame é algo natural.
Mas como escrevi, não vou aqui adentrar no mérito dele ser necessário, justo ou injusto. Não é o foco.
Apenas quis mostrar uma realidade: sucumbir ao Exame de Ordem é a regra.
E o que fazer para não desistir, o que fazer quando se constata que as forças intelectuais não são capazes de superar o desafio?
Primeiro o candidato precisa ter uma certeza: a de que sabe estudar.
A frase da nossa amiga foi emblemática: "será que estudo de forma errada, olha que eu estudo pra caramba, já perdi férias, viagens, festas de família, na verdade já estou rotulada de a do contra que não participa das coisas."
Não se trata aqui de se ficar horas e horas em frente a um livro, assistir inúmeras aulas e resolver uma infinidade de exercícios.
Isso inegavelmente é estudar e, mesmo assim, muitos sucumbem.
Não é uma questão de tempo e sim de apreensão do conhecimento com qualidade. Saber de fato, estudar com eficiência.
E creio que para começar a aprender de fato, adquirir o conhecimento com consistência para disponibilizá-lo na hora da prova e superar o desafio imposto pela banca examinadora, o candidato, antes, precisa conhecer a si mesmo como estudante.
O que você efetivamente sabe de si como estudante? Quais são suas deficiências de aprendizado? Há estratégia de estudo? Há uma estratégia para conciliar estudo e a vida pessoal? Há entrega de tempo em um estudo eficiente? Por quanto tempo você mantém a informação estudada? Ele sedimenta na memória ou acaba se dispersando?
Falo por mim e creio que posso falar por muitos, mas nunca me ensinaram corretamente como estudar.
Meus pais usaram comigo técnicas de estudo que hoje tenho a convicção de que eram até prejudiciais para o aprendizado. Claro! Não posso culpá-los, pois eram leigos no assunto desejando ver o filho aprender e vencer na vida. Todo pai quer isso.
Mas eram leigos.
Pergunto: Quantos livros de preparação para os estudos você já leu? Já discutiu técnicas de estudo antes?
Enfim...sabe estudar?
Coloco a questão sob este prisma pois me recuso a acreditar que as pessoas sejam tão diferentes umas das outras ao ponto de que umas conseguirem e outras não.
Há o fator inteligência envolvido? Com certeza! Mas, na média, somos muito iguais para que uns poucos consigam o sucesso enquanto a maioria fracassa.
Talvez, e apenas talvez, pois trata-se de uma especulação, um candidato que reprova no Exame de forma sucessiva apenas conhece esse fracasso por ter, uma vida inteira, estudado de forma errada.
E como o Exame de Ordem é uma prova difícil, as deficiências que até então eram ocultas se manifestam na forma de reprovação.
Não se trata de ser inteligente ou não, trata-se de uma questão de metodologia.
Claro! Pode ser outro fator ou fatores. Pode ser uma infinidade de problemas. Impossível declinar todos. Mas tenho a convicção de que a desistência só pode ocorrer APÓS você ter a integral noção de si mesmo como estudante. Afinal, você sabe estudar de verdade?
Se a resposta for não, NÃO desista.
Aprenda a estudar. Procure livros, converse com colegas, busque informações. Quem tem a internet em casa não tem o direito de falar que não sabe por onde ou como começar.
Digite no google "como estudar" ou "como passar em concursos". Faça pesquisas, saiba o que existe sobre o tema.
Se posso te dar uma dica, siga a doutrina do professor Rogério Neiva, para mim, o maior especialista em preparação técnica e racional para concursos públicos: Blog do professor Rogério Neiva. Será um excelente ponto de partida.
E depois de descobrir, simplesmente aprenda a aprender. E depois de aprender a aprender, estude para o seu real objetivo, com técnica e empenho.
Só aí o fracasso, se ele ocorrer, será um fracasso REAL, um fracasso de verdade. E mesmo assim, só depois de você tentar bem mais de uma vez.
É impossível esgotar o tema em apenas um texto, quando existem inúmeros livros tratando do assunto. Mas ao menos que sirva para ajudar a buscar uma solução REAL sem que eu precise escrever "você pode", "você é capaz", "acredite nos seus sonhos que tudo será possível", "você é do tamanho dos seus sonhos"...
A busca pela solução é racional, é técnica.
E você consegue? Terá forças para superar o Exame da OAB?
Decida que está disposta a pagar o preço e ver qual é. Desafie o fracasso, suas limitações, seus medos e veja o que acontece.
Você corre o risco de se surpreender.