Quinta, 11 de agosto de 2016
Vi a imagem acima em uma publicação do Brasil Post e imediatamente tive um "estalo", pois a imagem evoca, sem dúvida uma reflexão sobre SER advogado e PROJETAR a imagem profissional.
'É como andar em um campo minado', diz estudante que criou campanha contra o racismo na UnB (FOTOS)
A foto, tirada pela idealizadora da campanha contra o racisno na UnB, Lorena Monique, que criou uma página no Tumblr chamada Ah, branco, dá um tempo, é verdadeiramente emblemática, pois apresenta toda a carga de preconceito sofrida pelo estudante de Direito sofreu por ele estar encaminhando a própria vida rumo à advocacia.
A frase lembrou-me de imediato um conceito apresentado a praticamente todos os estudantes de Direito logo no início da faculdade: a imagem e o formalismo no ambiente profisisonal jurídico. De uma certa forma, ou mesmo de várias, nos é inserido na cabeça a necessidade de ingressar dentro de um padrão que remete a um certo tipo de circunspecção e sobriedade, pretensamente característicos dos operadores do Direito. E isso é internalizado por muitos, muitos mesmo.
O comportamento, e a aparência, precisam entrar dentro de uma "camisa de força" social para se estabelecer uma relação de "aceitação" dentro do universo jurídico.
Aí vem a pergunta: "será mesmo? Será que é isso mesmo?"
As profissões, de uma modo geral, têm seus padrões, seus esteriótipos. Médicos, dentistas, publicitários, o pessoal da tecnologia, arquitetos, todos eles têm códigos de conduta, de linguagem e de comportamento.
Digamos também que o "ambiente cultural jurídico" exija isso ainda hoje: o enquadramento a um determinado "standart", a um padrão que emula e reforça um determinado esteriótipo ligado a projeção de uma imagem formal, uma imagem que implique em um determinado tipo de enquadramento.
A foto mostra que esse padrão pode até mesmo criar ou reforçar preconceitos e estigmas.
Mas os padrões são fundamentais para o sucesso na advocacia? É isso que faz a diferença? É absolutamente necessário jogar o jogo e se enquadrar, incluindo aí a formatação da própria identidade cultural e visual?
Não, não são fundamentais! Não hoje. Essa visão PRECISA ser abandonada por vocês, e isso porque vivemos emuma nova quadra temporal e social. Na realidade o exercício da profissão e, em última instância, o sucesso dentro dela estão bem distantes.
O que faz, de verdade, o sucesso de um advogado?
Nos dias de hoje, já dentro da 2ª década do século XXI, o sucesso está muito mais atrelado ao comportamento do que ligado a uma imagem esteriotipada. O sucesso, mas sucesso de verdade, demanda a percepção de outros elementos COMPLETAMENTE desvinculados com a imagem (se bem que o trabalho de projeção da imagem é importante, mas de uma outra forma).
O que é importante para se ter sucesso hoje na advocacia? Para ser, de verdade, um advogado bem-sucedido?
1 - Continuar estudando depois de passar no Exame de Ordem
A prova da OAB demanda esforço e muito estudo, e quando a aprovação vem o jovem advogado passa a se sentir um ser iluminado, uma sumidade jurídica, quase um Ruy Barbosa.
Não é!
Uma vez ingressando no mercado, os conhecimentos para a aprovação no Exame da OAB vão inexoravelmente se mostrar INSUFICIENTES para se tornar um bom advogado. Sim, é possível operar dentro do sistema, mas isso será feito em um nível bastante básico, quase elementar. O Exame de Ordem é dífícil por conta de uma percepção de momento do bacharel. Quando a maturidade vem, a visão da prova passa por uma transformação. Ele é difícil, mas difícil considerado dentro de um contexto.
Parar de estudar após a aprovação é um grave erro! Na realidade, é necessário "aproveitar o embalo" e seguir firme nos estudos, aprofundando-o não só os conhecimentos jurídicos como também a compreensão de mundo. Parar de estudar gera a cristalização do profissional, e o tempo, e a dinâmica do mundo, não perdoam isto.
2 - Pensar fora da caixa
O arquétipo do advogado "coxinha", enquadrado e formal pode ser uma grande armadilha, pois é uma construção essencialmente conservadora e importa de fora para dentro. Isso pode formatar, curiosamente, a própria visão do advogado, que busca soluções convencionais para os problemas em um mundo profundamente alterado nos últimos 6-10 anos.
Hoje todos são mais conectados, a informação circula em uma velocidade muito maior por conta dos smartphones, que transformaram a integração inicial da internet em uma experiência portátil e instantânea. Uma série de novos campos econômicos estão surgindo, como o Direito Digital, Direito da Moda, Direito do Esporte, Biodireito, Direito das Minorias e toda e qualquer nova forma de interação derivada da explosão tecnológica vivida hoje. Por que não falar de Direito dos Drones? Sim! O uso dos Drones em breve será banalizado, e o controle e utilização deles já está passando por uma série de regulamentações (que o diga a ANAC) e pode produzir uma série de impactos na área de segurança, agricultura, transporte e serviços. Já pensaram nisto?
Muitos jovens advogados entram no universo do arroz-com-feijão do Direito (Trabalho, Penal, Família, etc) enquanto outros campos, mal-explorados e prontos para serem desbravados estão ali esperando por aqueles que querem beber a água ainda limpa.
3 - Entender a própria imagem e trabalhá-la em prol da profissão.
Certa vez publiquei aqui um post que teve grande repercussão: Postou foto de biquini no facebook e perdeu o cliente, ou, a postura do advogado nas redes sociais
A publicação rendeu muitos comentários, pois tratava EXATAMENTE do preconceito que os advogados sofrem por parte do próprio mercado, dos clientes.
O ponto é: o enquadramento a um determinado padrão, caso ocorra, precisa antes passar por uma REFLEXÃO, pois adotar uma ou outra imagem ou postura gerará impacto diante do potencial público-alvo. Aqui, acima de tudo, é preciso compreender o contexto em que se está inserido, o momento social, a própria imagem que se deseja projetar para angariar, exatamente, determinada parcela de mercado.
Não se trata de perder a identidade, mas sim de construi-la para atender a uma determinada demanda. Talvez, aqui, adotar uma imagem de "coxinha" seja útil, se a reflexão levar a este caminho. E esse é o ponto: a imagem pode ser trabalhada em benefício próprio em função do mercado a ser operado, e nem sempre ser formal demais é a melhor solução. O importante é entender a si mesmo, entender o mercado e entender as expectativas do público-alvo, e se posicionar após uma reflexão evitando um padrão pré-formatado, criado de fora para dentro. O caminho é o inverso!
4 - A imagem tem de vender inteligência, competência e sucesso
A construção PERFEITA da imagem profissional passa longe da aparência física! Isso porque hoje somos 946 mil advogados no Brasil e a esmagadora maioria está presa em uma imagem padrão. Não por acaso, em especial para os jovens advogados, a média salarial orbita em torno dos R$ 1.200,00. E assim acontece porque a mão-de-obra é abundante e homogênea.
São muitos advogados, muitos estudantes, e todos com a mesma textura, o mesmo padrão. Ser padronizado, arrumado ou deter quaisquer outros atributos estéticos pretensamente benéficos até ajuda, mas não é determinante para nada de significativo.
Significativo é ter uma imagem que transpire inteligência, conhecimento e domínio do universo profissional.
Significativo é ser professor, escrever artigos e livros, dar palestras, aparecer de qualquer forma ligado ao conhecimento e domínio do seu campo jurídico. E, claro, trabalhar devidamente o marketing disto tudo.
Uma premissa mais que verdadeira: o cliente, quando busca um advogado, quer alguém que RESOLVA seu problema. No fundo, lá no fundo, o cliente quer GANHAR sua causa ou, ao menos, se livrar de um problema. O advogado tem de passar a imagem de que vai resolver este problema. E isto, e nenhuma outra coisa, faz de fato a diferença.
Com o tempo, a fama faz o resto, e advogar fica fácil, pois o nome ganha o mercado.
5 - Ter paciência
O que destroi muitas carreiras é a pressa. A pressa na advocacia é um erro essencial e faz com que muitos jovens advogados, ansiosos para vencer na profissão (e ter uma remuneração digna) desistam antes que os frutos do trabalho possam ser colhidos.
Uma regra: os resultados na advocacia costumam demorar para chegar. E demorar anos!
Não só é preciso ser resiliente como também adaptar a advocacia ao padrão de renda, pois qualquer empreendimento que demore a dar frutos antes exige a alocação de capital para se manter operacional.
Por vezes ser empregado de alguém por um bom tempo, não só para construir esse capital como também par ganhar experiência é uma boa opção.
6 - Saber mudar de rumo
Paciência é importante, mas compreender que as coisas não estão indo bem ou que têm chance de nunca vingarem também é importante. Saber mudar de rumo não significa desistir, mas sim escolher um outro caminho, que pode ser uma outra cidade ou um outro ramo jurídico. A chave para fazer esse tipo de escolha está em compreender bem o ambiente em que se está inserido e o mercado a que se vinculou, considerando aí demanda e concorrência.
Ser flexível quando for o momento é de extrema importância pra sobreviver e, em última instância, viver.
7 - Ser sociável, muito sociável!
Advocacia é uma profissão estritametne vinculada com a sociabilidade. Ou se é sociável ou não se tem chance quase nenhuma na profissão.
Isso significa ter de frequentar a respectiva seccional da OAB, participar do processo político, formar amizades com os colegas, ter vida acadêmica, ampliar o campo de contatos profissionais ao máximo, interagir com outras associações, profissionais ou não, corresponder-se com os expoentes do ramo jurídico escolhido, participar de eventos, etc, etc, etc.
Tudo é rede, tudo depende de contatos, e isso leva um tempo não só para ser criado como também para ser consolidado. Amizades e confiança são construídos com o tempo.
Isso é um imperativo da profissão, e não pode ser de forma alguma negligenciado.
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Outras virtudes existem e poderiam ser relacionadas aqui, mas o essencial, creio, foi apresentado.
Tentam ver o mundo sob outro prisma, até porque o mundo não só mudou como mudou muito. Pessoas que pensam como aquela que falou a frase exposta pelo rapaz da imagem acima não sabem, mas já se tornaram obsoletas. Sem nunca, é claro, deixarem de ser racistas.
Pensem, e pensem diferente!