Quarta, 4 de maio de 2016
Zona de conforto!
Certamente vocês já ouviram falar nessa expressão, em especial preferida por empresários e especialistas em desenvolvimento de carreira.
Em regra, falam que as pessoas precisam sair da zona de conforto para poderem mudar a própria vida.
O que é de fato a tal da "zona de conforto?"
A zona de conforto é um processo comportamental no qual uma pessoa permanece em um estado neutro de ansiedade, valendo-se de um conjunto limitado de atitudes para se manterem em um nível constante de desempenho, geralmente sem se colocar em risco.
O ponto principal é: manter NEUTRO um estado de ansiedade. Ou seja, sem ansiedade não há modificação do comportamento. Esse ponto é fundamental para se compreender o conceito e, acima de tudo, entender como se faz para sair da zona de conforto.
Desde que não haja mudança no grau de "ansiedade" ou modificações nas habilidades pessoais, o nível de desempenho permanecerá constante. De igual modo, se houver uma alteração no grau de "ansiedade" ou as habilidades aplicadas em seguida, teremos então uma mudança no nível de desempenho.
Dois pesquisadores americanos, responsáveis pelos primeiros estudos sobre o impacto da ansiedade no desempenho, descobriram que a ansiedade melhora o desempenho até um certo nível, considerado ótimo. Além deste ponto (o ótimo), o desempenho passar a sofrer um processo de deteorização na medida em que os níveis de ansiedade ultrapassam um determinado limite.
A imagem abaixo ilustra bem isto:
Vamos interpretar a imagem!
Dentro do círculo verde nós temos a zona de conforto, onde o nível de ansiedade é zero.
No espaço compreendido entre o círculo verde e o círculo azul nós temos a chamada "zona de melhor desempenho", onde existe um certo nível de ansiedade, exatamente aquele que obriga a uma MOBILIZAÇÃO das ações. Dentro dessa faixa a ansiedade incomoda mas não imobiliza. Ao contrário, ela mobiliza as ações e faz com que as "coisas aconteçam."
Já fora da área compreendida pelo círculo azul nós temos a "zona de perigo", quando o nível de ansiedade é muito elevado. Neste ponto, as ações são atrapalhadas pelo emocional, e a mobilização tende a ser menos eficiente do que na faixa azul.
Ou seja: ansiedade demais mobiliza as ações, mas também atrapalha.
O ponto importante a ser avaliado é: existe uma correlação entre desempenho, motivação e ansiedade.
E foi exatamente isso que os pesquisadores descobriram: o aumento da ansiedade gera um incremento no desempenho, mas muita ansiedade gera um decréscimo dele. Independentemente disto, nos dois casos, consegue-se sair da zona de conforto.
E essa descoberta foi feita em 1953 por dois pesquisadores americanos, McCelland e Atkinson, responsáveis pela descoberta da correlação entre o desempenho e a motivação.
Segundo eles, a motivação para alcançar um determinado resultado e o nível de esforço empregado para isto continua a aumentar até a expectativa de sucesso (ou grau de incerteza de sucesso) atingir 50%. Então, a partir daí, mesmo que a expectativa continua a aumentar, a motivação cai.
Achar o ponto ideal entre expectativa e ansiedade é a chave para se trabalhar dentro da faixa azul.
Agora parem para refletir sobre suas próprias vidas.
Identificar as zonas de conforto é algo relativamente fácil.
Vocês preferem ir para uma balada, algo legal, ou "perder" a noitada estudando?
É melhor curtir a praia e as festas de fim de ano ou ficar estudando para a OAB?
Eis o ponto!
Hoje vocês, provavelmente, são sustentados pelos pais, ou talvez tenha um emprego qualquer, mas ANSEIAM por algo diferente.
Ir para a balada, para o churrasco ou curtir as festas de final de ano não tem o condão de ALTERAR o atual status quo, o desemprego ou o emprego que não atende os atuais níveis de expectativas e sonhos.
Por outro lado, ficar em casa pode gerar um nível elevado de descontentamento em razão da sensação de se estar "perdendo" a vida enquanto ela passa, e o desempenho nos estudos pode não ser o melhor.
É quase como afirmar, e aceitar, a existência de um paradoxo. Viaja, sai, curte e não sai no imobilismo, ou senta, estuda e fica frustrado por perder coisas que são, evidentemente, agradáveis.
Como encontrar a justa medida?
Tudo guarda correlação com os fatores abaixo:
1 - Tamanho do desejo correlacionado com o seu objeto, ou seja, o quanto se quer a aprovação (no caso do Exame de Ordem);
2 - Compreensão da necessidade de sacrifício para se atingir o objetivo;
3 - Compreensão da extensão do sacrifício, ou seja, que o objetivo leva um determinado tempo;
4 - Compreensão da necessidade de ser resiliente, ou seja, que é preciso limitar o nível da ansiedade para que ele permaneça dentro de parâmetros adequados. Aqui falo especificamente de sentir um maior ou menor grau de frustração por não se atingir o resultado no momento desejado ou não ver o ponto de se atingir o resultado dentro de um curto intervalo de tempo.
Frustração é um erro derivado da soma entre desejo e resultado. Quando o resultado não vem, ou demora, a frustração cresce.
Meio complicado, não é?
Ou não?
O importante é compreender uma verdade: se vocês ficarem na zona de conforto, o resultado SEMPRE será a estagnação.
Não é possível ir para a frente dentro da zona de conforto.
Em regra, e isso é importante, a zona de ansiedade, onde o desempenho tende a cair, guarda correlação com metas intangíveis, irrealizáveis.
Quanto mais difícil o objetivo, mais esforço será necessário para atingi-lo, e o risco de sair da zona do melhor desempenho é cresce proporcionalmente, podendo ao fim gerar o fracasso.
Dois exemplos:
1 - Passar no Exame de Ordem, hoje, é um desafio difícil ou distante no tempo?
2 - Passar em um concurso da magistratura, hoje, é um desafio difícil ou distante no tempo?
Evidentemente, para se passar em um concurso da magistratura é preciso arregimentar antes uma série de condições e capacidades mais complexas do que passar no Exame da OAB. É preciso ter 3 anos de prática jurídica, é preciso estudar muito mais e de forma bem mais abrangente e profunda, é preciso se preparar para vários tipos de provas e se preparar para uma concorrência qualificada.
Demanda mais tempo, exige mais resiliência e demanda mais tempo também dentro da faixa azul.
O Exame de Ordem também tem suas exigências, mas é um objetivo mais fácil de ser atingido, ou, ao menos, demanda menos mobilização se comparado com uma aprovação na magistratura.
Mas demanda, necessariamente, um esforço. E, mesmo que não seja igual ao da magistratura, ele ainda assim pode ser considerado elevado, pois o grau de maturidade jurídica e conhecimentos de quem faz o Exame não é o mesmo se comprado com quem tenta a magistratura.
Quem vai fazer o Exame tem sim, diante de si, um grande desafio.
Grande, mas absolutamente TANGÍVEL!
Dá para ser aprovado, em especial se houver uma mobilização e um saída voluntária da zona de conforto.
"Mas, se a zona de conforto é tão boa, tanto é que é chamada de "zona de conforto", por que sair dela, se lá é tão bom?"
Porque, simplesmente, a zona de conforto é móvel.
É como ficar oscilando entre o conforto e o desconforto. E isso por um motivo bastante banal: as zonas de conforto são móveis e melhores a cada vez que vocês saem de uma e entram em outra.
Isso é fácil de entender.
Hoje a zona de conforto é uma. Amanhã, logo após a aprovação na OAB, ela será outra, melhor, porque a carteirinha estará na mão. Depois, passando na magistratura, melhor ainda, pois vocês serão chamados de excelências. Ou, caso a magistratura não seja um objetivo, após uns 10 anos poderão ser chamados de influentes doutores advogados, e assim vai.
A zona do melhor desempenho, onde existe um certo nível de ansiedade, é sempre passageira. Entretanto, é ela que gera mudança.
Já a zona de conforto pode ser permanente, mas ela não gera alteração nenhuma.
desconforto = mudança
conforto = inércia
Essa é a equação.
O objetivo é sempre busca a próxima zona de conforto até se chegar a um ponto em que não se queira mais sair dela. Isso vai de cada um em conformidade com os mais variados tipos de sonhos.
É preciso ter em mente que a zona de conforto exerce um grande poder de desmobilização. Muitos simplesmente dizem "para que mudar" e ficam arranjando desculpas para si mesmos e para os outros visando manter a situação estagnada. As vezes é mais fácil até mesmo renegar um objetivo, dizendo que ele não é assim tão importante, do que encarar o medo da frustração ou enfrentar a ansiedade derivada do comprometimento com um novo objetivo.
Conheço vários casos de pessoas que reprovam no Exame de Ordem e, como forma de justificativa, renegam a prova, sua importância ou sua necessidade, exatamente para poderem ter dentro de si uma espécie de "conforto". É quando o desafio vence a pessoa e ela faz questão de criar para si uma nova zona de conforto.
Pseudo-conforto, diga-se de passagem.
Outro obstáculo é o medo de se implementar mudanças.
O educador americano Jonathan Fields afirma, em seu livro Uncertainty: Turning Fear and Doubt into Fuel for Brilliance,que uma das grandes travas para se sair da zona de conforto é "o medo do julgamento de outras pessoas".
Muitos se apavoram em tentar, fracassar e serem julgadas por isto. Por esta razão ficam na inércia ou, pior ainda, não empreendem o esforço necessário para alcançar a aprovação!
Sim! Isso existe! Gente que tem tanto medo de reprovar que não estuda o bastante ou, inacreditavelmente, TRAVA na hora da prova, sucumbido ao medo da reprovação.
Não é medo de reprovar, no fundo, e sim medo do julgamento dos outros. Isso existe, é real, e aflige MUITA gente.
E como fugir disto?
Lembrem-se que os obstáculos são, basicamente, o medo e o imobilismo. Ficar onde está não é uma opção, e ter medo do processo de mudança, dos julgamentos e de não se atingir o resultado também representa um obstáculo.
Os obstáculos são mentais.
Sair da inércia "dói" e ter consciência disto é importantíssimo. Estudar não é confortável, ficar sem sair ou viajar também não, mas isso faz parte do processo de fuga do imobilismo, é assim e não tem outra forma de ser.
É preciso aceitar essa realidade e, quando ela é aceita, o candidato entra na zona azul de desconforto: o desconforto que move para a frente.
Ignorar ou mitigar o efeito da opinião dos outros e debelar a autocomplacência impedem que o estudante caia na zona vermelha, pois a ansiedade é também debelada.
Aí, neste momento, o estudante entra no caminho que o levará para a próxima zona de conforto. Basta ter a atitude mental correta e a constância de propósito.
A zona de conforto ideal é aquela resultante de várias outras zonas de desconforto. Um dia, no futuro, vocês chegarão onde desejam estar.
Mas não agora! Só no futuro!
Pensem nisso e mobilizem-se corretamente!