Terça, 2 de fevereiro de 2021
"Quantas vezes você já fez a prova da OAB?" Essa é uma pergunta desagradável que tem o condão de despertar tão somente reações negativas em quem ainda não conseguiu passar no Exame de Ordem.
E sim, para muitos, ou para praticamente todos, trata-se de um grande peso.
Vou aos locais de prova da OAB desde 2007, tendo deixado de ir talvez umas duas vezes ao longo de todo esse tempo. Sempre, sem exceções, é possível reencontrar pessoas que voltam a fazer a prova.
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Me cumprimentam na primeira vez, na segunda, na terceira já não puxam muito papo e daí em diante, quando me veem, mudam de direção, abaixam a cabeça e entram logo no local de prova. Isso ocorre em função da vergonha de não conseguir passar.
Obviamente é algo que dói, que incomoda e que, acima de tudo, gera uma percepção ruim sobre si mesmo, sobre as próprias capacidades e o próprio futuro.
Pior: é um peso que acaba sendo levado para a prova. Cada nova edição do Exame passa a representar um monstro novo a ser enfrentado, e isso vai se acumulando até o ponto em que muitos desistem.
Sim! O peso da reprovação é carregado por muitos candidatos, e esse peso atrapalha objetivamente a preparação de todos eles.
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Uma ou duas reprovações até podem ser assimiladas e vistas como parte do processo. Já a partir da 3ª, quando a epopéia da aprovação praticamente completa um ano (3 edições = 1 ano) o peso da responsabilidade e das cobranças acaba se impondo.
Como lidar com isso?
Como lidar com a descrença em si mesmo?
Da minha experiência no Exame de Ordem, especialmente sobre a forma como os estudantes se preparam, posso afirmar com muita segurança que a maior parte das reprovações guardam correlação com a metodologia de estudo do que propriamente com a capacidade cognitiva de qualquer candidato.
Traduzindo: a maioria não sabe estudar.
Dos relatos que tenho colhido chegue a conclusão de que o grande mal que aflige os candidatos que entram em uma sequência de reprovação é o uso de metodologias e estratégias de estudo equivocadas.
Infelizmente a maioria não acorda para a velha fórmula "mesmo método, mesma resposta", achando, muito das vezes, que estudar mais é o suficiente.
E estudar mais não significa nem estudar melhor e nem estudar de forma eficiente.
E os resultados acabam por gerar uma descrença em si mesmo, quando o processo de aprendizagem, quando bem feito, necessariamente oferece respostas.
E como saber se um método de estudo é eficiente?
Simples: o candidato tem de ter a capacidade de EVOCAR a informação que estudou anteriormente a qualquer momento, seja no dia anterior ao estudo, seja 3 semanas depois.
O método é eficiente quando a MEMÓRIA DE LONGO PRAZO é estabelecida em relação a informação.
Mas para isto, o método de estudo está na raiz da preparação.
Não é uma questão de inteligência ou capacidade, mas sim da forma como se estuda e da forma como se avalia o processo de preparação.
E como se estuda para a Ordem?
Não existe uma resposta pronta e acabada para esta pergunta, em especial porque as pessoas têm formas potencialmente distintas de apreender conteúdo.
Uma metodologia útil para um estudante não seria tão eficiente para outro.
Mas o ponto é: qual é a melhor metodologia de estudo para quem já reprovou várias vezes no Exame?
Uma certeza: NÃO é a mesma utilizada até agora!
Se a mesma metodologia produziu um mesmo resultado, um resultado distinto só será obtido se uma nova metodologia de estudo for usada.
Não falo aqui em estudar mais, e sim em estudar de forma diferente!
Metodologia de estudo para a OAB recomendada:
1 - Curso preparatório ou leitura de doutrina específica para a OAB + leitura simultânea do texto legal;
2 - Elaboração de resumo, feito de cabeça, logo após o período de estudos;
3 - Resolução de exercícios para evocar o conteúdo de uma forma distinta;
4 - Retroalimentação, ou, revisão do conteúdo estudado após um determinado tempo e por determinadas vezes.
Mas esse é um modelo que não só aceita em si uma série de variações como pode ser trocado por alguns outros modelos diferentes. Depende da particularidade de cada um.
Depende também de tentativas e erros, de experiências e avaliações.
Se depois de algum tempo a informação estuda está retida e o estudante consegue lidar com ele de forma desembaraçada e correta, ele aprendeu, e assim o método usado é validado.
Evidentemente, a metodologia e sua eficiência devem ser balizados pelo fator tempo. Se você usa um método e ele só vai produzir resultado daqui 1 ano para a abordagem de um tema, se demonstra eficiente considerando o resultado final, mas não eficiente considerando o fator tempo.
Ambos tem de ser eficazes!
Vejo candidatos que passam após 7, 8 ou 9 edições depois de baterem na parede com o mesmo método em todas as oportunidades. Foram aprovados mais em função do longo tempo usado do que pela eficiência da forma de estudar. Entretanto, depois de verem e reverem um mesmo conteúdo por tantas vezes, seria difícil não colher o resultado positivo.
O pior é saber que o método equivocado será usado ao longo da vida. Se este candidato resolver se tornar um concurseiro, ele vai levar consigo uma série de vícios de estudo, consubstanciados em uma metodologia equivocada, que o colocará em desvantagem diante dos futuros concorrentes.
Aqui faço uma importante ressalva: falei do tempo de aprendizado, mas isso não significa dizer que a eficiência está ligada a uma velocidade absurda.
Aprender é um processo complexo e demorado por si mesmo. Duvidem de facilidades, de "aprendizagens aceleradas" e coisas semelhantes. O cérebro de todos nós é parecido, e "milagres" cognitivos não existem.
Ler e apreender demanda atenção, foco e concentração. Fazer resumos é algo que eu particularmente considerado enfadonho, mas é eficiente. Resolver exercícios, errar e aprender com o erro demanda tempo também. Repetir esse processo em um sistema de revisão também cansa, mas é necessário.
Há um "ajuste fino" na questão do tempo, e tempo dedicado aos estudos, complexidade do conteúdo, volume de estudos e tempo de apreensão do conteúdo com segurança devem ser levados em consideração. Não tem uma fórmula do que é ideal, depende de cada um, e uma reflexão séria sobre isto precisa ser feita.
Logo, quem já enfrentou algumas reprovações precisa, NECESSARIAMENTE, reformular a forma como estuda ANTES de tirar quaisquer conclusões sobre a própria capacidade cognitiva.
Não existem vagas no Exame de Ordem, nem limite de aprovação. Tudo depende, exclusivamente, do próprio candidato e de um estudo consistente.
Nesse caminho, é claro, é necessário consultar fontes e se orientar. Ninguém nasce sabendo, e aprender a aprender é algo real e capaz de produzir resultados muito, mas muitos consistentes.