O nome da faculdade de Direito pesa no curriculum?

Sexta, 2 de março de 2012

""Olá,

Eu estou entrando agora na faculdade de Direito e gostaria de saber se, na hora da avaliação do currículo por grandes escritórios de advocacia, o nome da faculdade ou universidade pesa muito. Ou se o que conta é mais o esforço do próprio aluno nos estudos.

Desde já, obrigado!""

Essa pergunta, relevante por sinal, é muito fácil de responder: pesa, e pesa muito.

Conheço vários advogados aqui em Brasília que adotam uma mesma técnica prévia de seleção de currículos. Eles só leem os currículos de estudantes da UnB ou do UniCeub.

Esse procedimento exclui os estudantes de 21 outras faculdades de Direito do DF.

Não estou brincando: isso é sério!

O argumento é simples: os estudantes das demais faculdades, na média, são muito ruins. Ninguém fala sobre esse assunto ostensivamente, mas o raciocínio é esse e ele é posto em prática. Eles sabem, por experiência, quais instituições têm melhores alunos, ou, ao menos, alunos aptos a desempenhar satisfatoriamente as tarefas em um escritório.

E essa é uma realidade provavelmente compartilhada em todo o país.

Toda vez que sai o resultado final do Exame de Ordem por instituição de ensino as redes sociais entram em um intenso burburinho. Rapidamente as instituições que foram "bem" (qualquer percentual acima da maioria é algo bom, mesmo que seja só uns 20%) começam a propagandear a excelência do seu ensino. Quem foi mal providencia as desculpas (e são muitas desculpas).

Isso tem por base, em princípio, não a imagem em si da instituição, mas sim a prospecção do mercado. Obviamente, dentro de um mercado muito competitivo, quem obtém bons resultados tem como aumentar seu prestígio, e assim aumentar a demanda pelos seus cursos.

Lembro-me muito bem da polêmica criada recentemente pela divulgação, pela OAB, do "Selo OAB de Qualidade":

OAB anuncia os 90 melhores cursos de Direito do País

Selo OAB: apresentação de Ophir durante entrevista

Uma crítica ao Selo OAB

Thomaz Bastos: Selo OAB mostra qual universidade não comete estelionato

Fiscalização de universidades do MEC obedece a interesses políticos, diz Ophir

Artigo: Selo OAB luta por uma educação que atenda o mercado

Quem não foi contemplado pelo Selo criticou os seus critérios. Afinal, ficar de fora dessa comenda gera repercussão no mercado. Quem foi contemplado não perdeu tempo em alardear, ostensivamente, a obtenção de tamanha glória, em especial as poucas instituições particulares agraciadas.

Tudo, obviamente, visto sob o prisma do mercado. Para as instituições, um reforço em sua existência enquanto negócio (é um negócio), para os alunos, um motivo de reconhecimento, orgulho e também de mercado.

É inevitável a associação entre o nome da instituição e o nome do jovem bacharel ou advogado. E essa união é pior do que um casamento, pois ela durará para sempre.

A fama do profissional, por certo, é construída ao longo de sua vida, e em certo ponto o nome da sua faculdade de origem, se ruim, deixa de ter relevância: o nome profissional torna-se muito mais relevante.

O cerne da questão está na vinculação do nome da faculdade ao nome do jovem profissional. Como acima demonstrado, "nome", "grife", "marca" ou "prestígio" são disputados de forma intensa no mercado, e isso pesa na hora de uma contratação.

Quem escolhe a faculdade é o aluno. Muitas das vezes ele escolhe a faculdade possível, seja pela localização ou pelo valor da mensalidade. O prejuízo pode ir além da mera associação entre os nomes, mas também na formação técnica.

O mercado é uma criatura muitíssimo cruel e sincera.

O comportamento dos agentes do mercado, observados em si mesmos, tem por objetivo, sempre, o de maximizar satisfação. Há uma eterna briga (que leva a um equilíbrio) no processo de interação daqueles que estão no jogo.

"Eu te ofereço um salário X, você aceita?" A resposta é sim ou não, dependendo do valor visto na negociação, e o valor tomado sob o ponto de vista do contratante como também do ponto de vista de quem está sendo contratado.

"Cobro X de honorários, você aceita?" O cliente vai avaliar se o profissional vale o que está cobrando e se sua demanda é importante o suficiente para justificar tal investimento.

"A mensalidade da faculdade é X, você paga?" O aluno precisa ponderar custo de deslocamento, prestígio no mercado da instituição, custos de ordem pessoal, pois cursa uma curso superior necessariamente faz parte de um projeto de vida, a natureza do mercado em que está se inserindo e "n" outros fatores relevantes dentro do processo de escolha.

A importância, em todas as hipóteses acima, é de ordem SUBJETIVA. Os atores estabelecem os preços, e escolhem pagar por eles ou não.

O mercado é sinceramente cruel porque TODOS os atores buscam, sempre, as melhores alternativas para si mesmos. E se o seu preço como profissional for visto como baixo pelo mercado, inevitavelmente você terá dificuldades na sua colocação profissional.

Essa é uma avaliação repleta de variáveis. O nome da faculdade é apenas uma delas. Resta a cada um ponderar sobre sua própria importância dentro de um contexto mais abrangente e, a partir da percepção do comportamento do mercado em relação determinada instituição, fazer uma escolha diante de suas possibilidades.

E sim, pode-se afirmar que o nome da faculdade, neste processo, é muito importante. Não é só uma questão de nome, mas também de formação, da bagagem intelectual a ser adquirida ao longo dos 5 anos.

E é ela, em última instância, que regula a precificação do nome da instituição no mercado.

É uma interessante simbiose: o aluno faz a faculdade como também a faculdade faz o aluno. Quem falhar nessa troca prejudica a si mesmo e ao outro.

Pensem nisso!