O massacre da 1ª fase do IX Exame de Ordem Unificado

Terça, 15 de janeiro de 2013

Estou aqui pensando sobre o que foi essa 1ª fase do IX Exame de Ordem. Seu grau de dificuldade e as anulações foram bastante atípicas e podem ser um indício do futuro do Exame de Ordem.

Vamos elencar alguns elementos para podermos destrinchar o raciocínio.

Primeiro vamos ver o histórico recente de aprovação na 1ª fase:

V - 108.355 inscritos - 1 anulada - 46,72% de aprovação final na 1ª fase

VI - 101.246 inscritos - 2 anuladas - 46,30% de aprovação final na 1ª fase

VII - 111.909 inscritos - 4 anuladas - 41,01% de aprovação final na 1ª fase

VIII - 117.852 inscritos - 0 anuladas - 43,51% de aprovação final da 1ª fase

IX - 118.217 inscritos - 3 anuladas - 16,18% de aprovação final da 1ª fase

*Nota do Blog: as estatísticas aqui apresentadas são feitas em razão do número de inscritos e não sobre o número de candidatos que efetivamente fizeram a prova. De acordo com os dados da OAB, foram 114.763 candidatos presentes, resultando em um percentual de 16,67% (19.134 aprovados). Essa distinção decorre da manutenção de uma coerência com dados estatísticos mais antigos do Exame de Ordem, preservados pelo Blog e que eram anteriormente construídos sobre o número de inscritos e não sobre o número de candidatos que efetivamente haviam feito as provas anteriores (tais dados não existiam). Só bem recentemente a OAB passou a se preocupar com as estatísticas de aprovação, mas o Blog prefere manter seus próprios registros de percentuais.

A vertiginosa queda no percentual de aprovação na 1ª fase foi escancarada APESAR das 3 anulações.

Falando nelas, há de se notar o pequeno percentual de aprovação na 1ª fase em que pese as 3 anuladas. Eu imaginava mais uns 15 ou 18 mil candidatos com as anulações, em especial por conta do grande número de reprovados.

Apenas 19.134 aprovados em um percentual de 16,18% mostram duas coisas:

1 - A reprovação na 1ª fase, antes das anuladas, foi superior aos 90%;

2 - Um bom número de candidatos devem ter acertado essas questões, pois o percentual final de aprovação ainda assim ficou muito baixo.

Como as anuladas NÃO são escolhidas aleatoriamente, esse percentual final parece ter sido do agrado da Ordem.

E aqui tiro a minha conclusão: quiseram realmente reprovar muito nesta 1ª fase. E conseguiram...

Por quê isso?

Tenho duas respostas.

A primeira é bem óbvia: com um número tão pequeno de aprovados a FGV vai poder aplicar uma prova de 2ª fase que preste, terá tempo de sobra para corrigir com qualidade e livra a si mesma e à OAB do mar de críticas que sempre vêm após a prova da 2ª fase.

Isso é fácil de entender. Na 2ª fase passada eram mais de 51 mil candidatos. Agora são menos de 20 mil. Muito mais tranquilo para a FGV fazer o seu trabalho.

A segunda também é óbvia, e é a resposta de sempre: controle do número de advogados.

Este Exame de Ordem teve 118 mil inscritos, quando deveria ter menos. Isso em função do final do ano, período de "entressafra" das faculdades e também de festas.

Seria o reflexo do aumento do número de formandos e bacharéis?

Muitas faculdades ainda não formaram suas primeiras turmas, e esse acréscimo vai sendo paulatino. A OAB sabe bem que o número de bacharéis está se expandido, e uma reprovação em massa é a única alternativa de impedir que a expansão irresponsável de faculdades (e bacharéis) sature o mercado da advocacia.

Afinal, do MEC não se pode esperar nada...

Pergunta relevante: estamos diante de um novo paradigma de reprovação? A 1ª fase agora será esse terror todo?

Eu costumo dizer que para uma tendência ser identificada com clareza no Exame são necessárias 3 edições. Mas agora, com uma reprovação recorde logo de plano e um ínfimo número de anulações, fato este integralmente deliberado, podemos estar diante, já de plano, de um novo paradigma.

Se isso for verdade, a preparação para a 1ª fase do Exame de Ordem terá de ser muito, mas muito mais intensa!

Essa é uma realidade e negá-la não tem produzido frutos para ninguém.

Era de se imaginar uma maior cautela da OAB para estes percentuais, em especial por conta da tentativa de alguns parlamentares de acabar com o Exame, mas isto, agora, não fez a menor diferença.

A Ordem triunfou na Câmara e provavelmente continuará triunfando.

Sem sombra de dúvida, a OAB vai manter o seu discurso de sempre, atribuindo a culpa pelos altos percentuais de reprovação ao péssimo ensino jurídico.

Esse percentual de aprovação da 1ª fase está na média dos percentuais FINAIS de aprovação de uma edição do Exame de Ordem, percentuais gerados APÓS a prova da 2ª fase:

V Unificado - 108.355 inscritos - 26.024 aprovados finais (24,01%)

VI Unificado - 101.246 inscritos - 25.912 aprovados finais (25,59%)

VII Unificado - 111.909 inscritos - 16.419 aprovados finais (14,67%)

VIII Unificado - 117.852 inscritos - 20.785  aprovados finais (17,63%)

IX Unificado - 118.217 inscritos - 19.134 aprovados (somente na 1ª fase) (16,18% )

A 1ª fase do IX Exame de Ordem teve um percentual de reprovação digno de 2ª fase de qualquer outra edição do certame!

Foi ou não um massacre?

Quase que da serra elétrica...

Moral da história: abram o olho e ESTUDEM muito para o Exame de Ordem. Não dá para esperar qualquer benesse, complacências ou tolerâncias da OAB.

Até pode ser que eu me engane e esta edição tenha sido atípica, mas eu não apostaria nisso e muito menos ficaria parado para ver qual é.

Ou mete a cara nos livros ou morre na praia.

Tá feia a coisa.