Quinta, 12 de novembro de 2015
Ontem tivemos aqui em Brasília o último debate entre os candidatos ao cargo de presidente da OAB/DF. Era para ser a "festa da democracia" ,mas virou, literalmente, o UFC OAB! Por alguma razão que desconheço o pau quebrou feio dentro da UnB, local do evento:
Quem quiser ver como foi a briga pode clicar AQUI.
Evidentemente, esse tipo de coisa é absolutamente lamentável, em especial para a classe dos advogados, sem bem que as eleições da classe não são muito diferentes das eleições convencionais em vários aspectos.
É feio, mas não surpreende.
Aliás, acompanhando as redes sociais podemos ver toda a sorte de ataques quase tão lastimáveis quanto sair no braço, e por muitas vezes bem mais rasteiros, insidiosos e covardes.
E aí entra o jovem advogado.
Como é novo na política, naturalmente ele se empolga quando passa a fazer parte de um grupo e quando, de uma forma ou de outra, recebe alguma atribuição, por mais simples que seja.
A partir daí entra no jogo, e não raro ultrapassa os limites do aceitável, passando a atacar os adversários e seus correligionários para mostrar que "vestiu a camisa" e conquistar, de certa forma, respeito e espaço em seu grupo político.
Esse tipo de atitude, geralmente estribada na empolgação, pode cobrar um tributo alto no futuro.
Como?
Faço uma pergunta básica ao qual poucos param para refletir: quais são as ideologias que distinguem os grupos da OAB?
Pois é...
Eu mesmo não sei quais são. E não sei porque as divisões políticas dos grupos da OAB não guardam correlação com as divisões políticas partidárias. A lógica eleitoral da Ordem não é a mesma da lógica partidária convencional.
Não que os partidos e advogados líderes não guardem sintonia. Quem está no poder na OAB tem vínculos, em maior ou menor medida, com políticos e partidos, e estes, também em alguma medida, influenciam na lógica da OAB. Mas isto ocorre entre os cabeças, nas lideranças. Esses apoios não são nunca explicitados.
Isso significa que os vínculos ideológicos são tênues, e idealismos partidários não seguram bem os grupos.
Sim! Há idealismo, e até muito, entremeado no ideário da classe, com ideias republicanas sobre o papel da OAB. É isso que faz a Ordem um ente especial. E esse idealismo é em regra compartilhado por todos os grupos: independência, respeito ao Estado de Direito, à Democracia, controle externo das instituições, visão republicana, respeito às prerrogativas da classe, responsabilidade social e autonomia da entidade e dos advogados para o exercício livre e pleno dos seus papeis.
Qualquer candidato que negar um desses postulados encontrará a morte política rapidamente. Não raro, portanto, que as acusações em períodos eleitorais explicitem o uso da máquina da OAB ou a falta de independência de um ou outro candidato: são falhas insuportáveis aos olhos dos pares.
E essa dinâmica particular guarda uma curiosa característica: os advogados, com muita frequência, trocam de grupo político, visando não só atender expectativas próprias como também em função de rearranjos na política local.
Na política da OAB há uma incrível fluidez de idéias, posicionamentos ideológicos e, claro, de posicionamentos pessoais (ou seja, posicionamentos de poder). Grupos se juntam com frequência para mudar a dinâmica da Ordem. Antigos opositores se juntam para derrubar uma atual situação, ou antigos aliados rompem para reconfigurar o quadro eleitoral.
E isso ocorre com muita, mas muita frequência.
E aí entra o jovem advogado! Ao participar de uma eleição ele pode ser muito agressivo, atacar opositores, fazer a campanha com o coração. É normal! Mas isto também pode queimá-lo para o futuro!
Um exemplo! Participe de um debate e dê uma bolacha em um opositor.
Você ficará queimado para muitas pessoas!
Outro! Ofenda a honra de alguém influente. Também ficará queimado!
Mostre-se servil demais a um grupo; propague mentiras; comporte-se como um troll nas redes sociais, e por aí vai.
Essas coisas NÃO são esquecidas, e esse é o ponto: você é um jovem advogado hoje, mas amanhã não será mais! Um dia você vai deixar de ser jovem advogado e, talvez, venha a ter dificuldade de ingressar em uma futura formatação política, isso porque se queimou com alguém.
Vocês já pararam para pensar no LONGO PRAZO quando o assunto é política?
Não, né?
No período eleitoral o candidato deve pensar no longo prazo quanto a sua participação na política da entidade, e para isto ele deve trabalhar visando três coisas essenciais:
1 - Mostrar que é comprometido;
2 - Mostrar serviço;
3 - Mostrar que é leal e ético.
Política, de uma certa forma, é uma máquina de moer pessoas. As três características acima vão preservá-los de muita coisa, e, em especial, vão deixar as portas abertas no futuro, seja qual for a composição política lá para a frente. E, claro, um dia também serão responsáveis por abrir as portas ao exercício REAL de poder.
Aí vocês farão parte do "petit comite", o grupo que toma as decisões!
Isso leva tempo, demanda um investimento pessoal alto, mas com persistência pode ser alcançado.
Cuidem então, e com muito carinho, da própria imagem e do próprio comportamento durante uma eleição. Cuidado para não serem fantoches descartáveis nas mãos de alguns e recusem qualquer tarefa rasteira ou ignóbil que lhes for delegada.
Digo mais! Saia do grupo em que os valores não convergem com o de vocês. No longo prazo isso certamente será a melhor das opções.
Lembrem-se: eleições nós temos a cada 3 anos. Pensem sempre no longo prazo e na construção da imagem pessoal!