O fim político de Cunha também é o fim político da pretensão de se acabar com o Exame de Ordem

Sexta, 8 de julho de 2016

A renúncia ontem de Eduardo Cunha ao cargo de presidente da Câmara é um momento extremo na carreira do deputado, que até bem pouco tempo er o parlamentar mais influente do Brasil.

Mas não é mais! Eduardo Cunha caminha para se transformar em um cadáver político. Sua cassação está bem próxima, e a renúncia está sendo vista por muitos como uma manobra para tentar impedir seu ocaso final. Até seu choro, algo surpreende para uma pessoa que aguentou estoicamente toda uma série de insultos durante a votação do impeachment, revelando uma incomum resiliência emocional, está sendo visto por muitos (eu inclusive) como parte de uma estratégia para se manter no cargo.

Independentemente de sua sobrevivência política ou não, agora, a bandeira por ele encampada e defendida sofre um imenso abalo.

Sim! Cunha ao longo de praticamente 5 anos, desde que foi afastado da presidência da comissão que iria o então projeto de lei do Novo CPC por influência direta da OAB, fez o possível para acabar com a prova da OAB. E essa movimentação foi ardorosamente elogiada e defendida por aqueles que querem o fim da prova. Elegeram Cunha como maestro e líder nesta empreitada, e o parlamentar, em 4 oportunidades, colocou a prova em cheque.

Perdeu em todas.

De uma forma ou de outra a pauta do fim do Exame de Ordem colou como uma tatuagem na pele do deputado. E com ele vai também para o LIMBO!

Sim! Isso é de uma obviedade escancarada!

Cunha, com o pleito pelo fim do Exame de Ordem não atacava a prova em si, mas sim a OAB. E agora? Como alguém vai defender a bandeira de Cunha, contra uma instituição como a OAB? Afinal, Cunha não está caindo porque cansou da vida pública, mas sim porque contra ele pesam VÁRIAS acusações de corrupção, após ele angariar para si a animosidade de parlamentares da esquerda e da direita.

Quem vai defender o fim da prova uma vez que seu maior defensor está sendo defenestrado do poder?

O que queria de fato Eduardo Cunha com o fim do Exame de Ordem? O que queria o deputado acusado de tudo e mais um pouco contra uma entidade que é respeitada por grande parte da sociedade civil?

Quem é que vai bancar agora a bandeira pelo fim do Exame de Ordem agora que seu patrono máximo encontrou seu ocaso?

Vai pegar mal para qualquer um fazer isso. O bombardeio seria imediato.

A bandeira pelo fim do Exame de Ordem vai para o limbo pelo menos, e por baixo, por duas legislaturas, enquanto a sombra da memória de Eduardo Cunha e seus feitos perdurarem.

Os bacharéis contrários à prova escolheram muito mal seu patrono. Aliás, sequer se deram ao trabalho de avaliar com quem resolver se filiar. E foram tão cegos neste ponto que até mesmo resolveram publicar uma nota em defesa de Cunha quando os escândalos contra ele começaram a pipocar, sem se importar (ou mesmo refletirem) que a causa se agregou ao seu patrono.

Cunha, o maior defensor do fim do Exame da OAB, agora é também é o algoz involuntário pelo fim desta pauta.

A questão ficou contaminada pelo seu patrono, patrono este que se cansou de acusar a OAB e a prova de ?corruptos?, fazendo isto de forma ostensiva, ofensiva e sem o menor receio. O tempo mostrou a verdade sobre os fatos e sobre os discursos.

O debate jurídico sobre o Exame de Ordem acabou em agosto de 2011, já o debate político encontrou seu fim ontem, 07/07/2016.

Para passar na OAB é preciso estudar e mostrar por onde. O sonho de ser advogado pegando o atalho do fim do Exame de Ordem!