Quinta, 28 de maio de 2015
O especialista em gestão da advocacia, mestre em Filosofia, consultor de marketing jurídico e marketing digital, Ricardo Orsini preparou mais um texto aqui para o Blog Exame de Ordem falando da preparação para o mercado da advocacia. Ele é o criador do Blog Arquivo Direito - www.arquivodireito.com.br - e trata com MUITA propriedade das questões voltadas para o exercício da profissão.
O mote agora é voltado para a geração de valor na advocacia.
Se você conquistou a sua carteira da OAB ou está prestes a conquistá-la, uma coisa já deve ter passado na sua cabeça milhares de vezes. Por onde devo começar?
Se pensou em arrumar um emprego, atuar como um advogado liberal (autônomo) ou montar seu próprio escritório, deve ter feito a si mesmo algumas perguntas:
1 - O que eu tenho que fazer para montar meu escritório de advocacia da melhor maneira possível?
2 - Quais as competências, habilidades e conhecimentos devo desenvolver para conquistar o meu quinhão num mercado tão competitivo?
3 - Quais os primeiros passos e os primeiros investimentos?
4 - Que erros devo evitar para não atrasar o sucesso tão esperado na profissão?
Bom, se ainda não se fez nenhuma dessas perguntas, dá tempo de começar!
Você já deve ter conversado com advogados, professores e amigos (íntimos e nas redes sociais) pedindo dicas e conselhos sobre as primeiras providências para começar o seu escritório de advocacia.
Contudo, quero mostrar que há dois bons motivos para você não levar estes conselhos muito a sério. Vejamos quais são.
O empreendedorismo jurídico
Primeiro motivo: o mercado da advocacia mudou muito nos últimos anos, e os ensinamentos que valeram para advogados que atuam há mais de 10 anos não valem mais.
Com a profusão de profissionais sendo despejados no mercado todos os anos, a advocacia brasileira foi forçada a se modernizar. Para construir diferencial e conquistar clientes, o advogado se viu obrigado a adotar novas estratégias e agir orientado por um novo paradigma.
Os maiores erros na hora de planejar sua carreira na advocacia
Esse paradigma é o mesmo que anima qualquer tipo de empreendimento empresarial, a saber, o empreendedorismo jurídico. Sei que a advocacia não é uma atividade empresarial, que o profissional não pode mercantilizar os seus serviços, mas não é disso que falo.
Hoje, quem foge da dura realidade do mercado, tem penado bastante ao montar um escritório ou seguir carreira como advogado contratado em uma grande banca.
Um escritório de advocacia pode até não ser uma empresa, considerando o disposto no parágrafo único, do Art. 966, do Código Civil. Mas, essa é uma interpretação estritamente jurídica do dispositivo. Numa perspectiva de mercado, prestar serviços jurídicos advocatícios na esfera privada tornou-se um negócio e o escritório tradicional precisa ser tratado como um empreendimento.
Por este motivo, mesmo pedindo conselhos a outros advogados, talvez fosse prudente também pedir conselhos a empresários, empreendedores e consultores de negócios, antes de montar o seu escritório ou planejar sua carreira nas grandes bancas.
Com as devidas adaptações, estes conselhos vão ser bastante úteis no momento de você criar o seu modelo de negócios, fizer seu planejamento estratégico, definir os seus sistemas de controle financeiro, de informações e de comunicação.
Num escritório, será importante uma visão empreendedora e estratégica no momento de definir a política de relacionamento com os clientes (interno e externo), o marketing jurídico e as relações públicas, os processos de gestão das causas, as estratégias processuais, a definição das oportunidades de mercado de cada tese jurídica defendida, além de vários outros fatores críticos de qualquer tipo de negócio.
O Advogado Gestor
Isso nos leva ao segundo motivo pelo qual você deve relativizar o conselho de outros advogados, professores e colegas do Direito.
Na Faculdade aprendemos pouco (ou nada) sobre negócios. Me lembro que das poucas vezes que se falou da realidade prática da advocacia em sala de aula, foi para defender o modelo do advogado peticionador, como se isso bastasse para alcançar o sucesso na carreira.
10 coisas sobre a advocacia que você NÃO aprende na faculdade de Direito!
Infelizmente, todo o conhecimento necessário para alcançar o sucesso com um empreendimento empresarial é completamente ignorado nos bancos da Faculdade. O suprassumo de uma prática jurídica na Faculdade ou de um estágio em escritório de advocacia é conseguir aprender a peticionar sem a necessidade de copiar modelos prontos.
A partir daí, somos levados a acreditar que advogar é apenas peticionar, talvez com o acréscimo de uma boa oratória para participar de forma persuasiva de audiências e reuniões. Isso é fundamental, mas é muito pouco.
Dentro dessa nova realidade empresarial, peticionar não é, nem de longe, a única coisa que você terá que saber para trazer os melhores resultados para seu negócio.
Alguns diriam até que o trabalho operacional do escritório (peticionamento, organização de arquivos, visitas ao fórum e ao banco, participação em audiências e acompanhamento do trâmite processual nas escrivanias) nem deveria ser ocupação do Gestor Jurídico, do advogado que está à frente do negócio.
Quanto mais tempo você estiver ocupado com atividades operacionais, menos tempo terá para as duas coisas mais importantes no negócio: gerar valor para seus clientes e cuidar deles.
A geração de valor na advocacia
O conhecido consultor de negócios Gustavo Rocha, numa palestra recente, falou algo muito interessante, colocando a Advocacia numa nova perspectiva constitucional. Citando o Art. 133 da Constituição Federal, ele nos lembrou que o Advogado é indispensável à ADMINISTRAÇÃO da Justiça.
Ele deu bastante ênfase na palavra em destaque: ADMINISTRAÇÃO da Justiça.
O advogado não pode atuar como um peticionador ou um despachante forense de luxo. Ele é, antes de tudo, um administrador da Justiça dos seus clientes. É um agente estratégico.
Se insistir em ser um peticionador, vai amargar uma advocacia de clientes ruins, de um serviço estressante (a rotina forense é, no mínimo, estressante) e honorários apavorantes para quem tem que pagar as contas no final do mês.
Lidar com a realidade empresarial da advocacia é conceber seu escritório como um modelo de negócios. E não pense que "negócio" ou "empreendimento" é algo de pessoas gananciosas, que só querem saber do dinheiro.
No mundo dos negócios, dinheiro é uma consequência. Os verdadeiros empreendedores estão focados em gerar valor para seus clientes, em transformar as suas vidas, em resolver os seus piores problemas.
Gerar valor e obter sucesso não é a mesma coisa que ter uma excelente ideia e ficar rico com ela. Isso não existe no mundo dos negócios. Gerar valor não é ter uma boa ideia para você, mas para o seu cliente. Sucesso não é ficar rico, mas se realizar naquilo que você faz.
Vamos pensar um bom exemplo, fora do Direito, de mentalidade empreendedora.
Trata-se do Seu Francisco, um vendedor de um excelente sanduíche que havia na porta de uma Faculdade em que lecionei há alguns anos. A banquinha estava sempre cheia. Ele tinha o ponto há vários anos, bem mais tempo do que os 50% de empresas que quebram antes de dois anos de funcionamento.
Seu Francisco pagava suas contas, gostava do que fazia, emprega toda a família, ajudava milhares de estudantes que não tinham tempo de jantar antes de ir à Faculdade. Gerava valor e se realizava.
Não era rico, mas com certeza era um empreendedor de sucesso.
O empreendedorismo jurídico é uma mentalidade que deve começar a se espalhar pelo Direito. Não só entre advogados atuantes, mas desde o primeiro período da Faculdade.
Num país onde a prestação jurisdicional pelo Poder Judiciário deixa muito a desejar, um advogado estará cumprindo com o seu papel constitucional de maneira muito mais integra e ética se, atuando como um gestor ou administrador da Justiça, gerar valor e conseguir transformar a vida de seus clientes, como faz o Seu Francisco com o seu magnífico sanduíche.