Não divulgue meu nome

Quinta, 21 de janeiro de 2016

Caro Maurício, boa noite. Não gostaria de ter meu nome divulgado, por isso utilizei um e-mail dos tempos que ainda estava na faculdade. Escrevo ao seu blog, do qual sou leitor assíduo há anos, para, se me permitir, um desabafo. Me sinto hoje profundamente infeliz e frustrado. As linhas a seguir explicarão tais sentimentos. Desde muito novo sonhei em fazer Direito, mas a oportunidade não aparecia, em minha cidade não havia o curso. Depois de muito caminhar pela vida, consegui adentrar a academia jurídica no alto de meus 30 anos, com muitos sonhos e aquele doce sabor de estar começando, mesmo tardiamente, a realizar meu antigo desejo. Cursei com muitas dificuldades os 5 anos necessários á Graduação, pois frequentava IES privada e já casado, com filhos, o dinheiro era sempre contado. Mas, mesmo assim, fui o melhor aluno de minha turma desde o início até o final, sem jamais passar nem perto de quaisquer reprovações. Fui monitor de Direito do Trabalho por dois anos e meio, publiquei artigos em revistas importantes, enfim, minha jornada acadêmica foi de muito sucesso e, consequentemente, cheia de boas perspectivas de futuro. Veio então a famigerada prova da OAB... E como já é de seu conhecimento e assim como a maioria dos bacharéis, sofri um pouco para obter a aprovação. Mas ela veio e com uma bom desempenho, tanto na 1ª, como na 2ª fase. Há um anos e três meses sou advogado. Porém, meu sonho transformou-se em um pesadelo inimaginável. Coloquei escritório, que faliu seis meses depois, por um misto de ausência de clientes com greves intermináveis do judiciário. Não consigo encontrar emprego, pois os empresários parecem temer por contratar advogados, temendo litígios futuros ou até, pasme, que eu acabe por "contaminar" colegas de trabalho, explicando-lhes seus direitos... Enfim, me vejo advogado, com pós graduação, capacitado, desempregado, sem dinheiro para nada, tampouco para investir em materiais e ao menos tentar passar em algum concurso, sustentado por minha esposa, profundamente desiludido e arrependido por tanto investimento e mais ainda por um dia ter acreditado que poderia ser feliz com essa profissão. Desculpe as palavras recheadas de tristeza, mas hoje não aconselho qualquer pessoa a cursar Direito para fins advocatícios; é uma profissão falida, onde a esmagadora maioria não consegue com seu trabalho nem o pagamento da anuidade do nosso opulente conselho de classe... Sem mais, grande abraço de um recente advogado aposentado pela realidade...