Minimizando o risco de ter uma péssima correção da prova subjetiva

Terça, 30 de agosto de 2016

Na última 2ª fase nós tivemos um número recorde de reclamações de candidatos quanto a qualidade das correções. Talvez tenha sido a pior prova neste sentido considerando todas as provas do Exame Unificado.

E muita gente ficou pelo caminho, em que pese o prazo recursal.

Essa é, sem dúvida, a grande preocupação hoje dos candidatos: ir bem na prova e ser injustiçado na correção.

Como mitigar essa possibilidade?

Sim, mitigar! Seria perfeito se pudéssemos eliminá-la completamente mas as correções dependem de seres humanos, e estes erram.

Antes, um detalhe: tem gente que acha que são poucos os corretores em cada disciplina. Não são.

Cada disciplina tem dezenas de corretores envolvidos, e todos, por óbvio, são responsáveis por muitas provas.

Levando em conta que temos praticamente 54 mil candidatos nesta 2ª fase, e eles têm 3 semanas para corrigir tudo, vocês  podem se dar conta do mega trabalho envolvido neste processo, além de ser um pequeno pesadelo logístico.

Bom, isso não importa: eles têm de corrigir direito cada prova.

Essa é a teoria...

Como falhas acontecem, vamos então tratar aqui de estratégias para minimizar as chances dos corretores de suas provas meterem o pé na jaca.

Como?

1 – Sigam a sequência lógica do enunciado

Já pararem para olhar com calma como os padrões de resposta são estruturados? Eles, obviamente, seguem uma sequência, uma “fórmula”, de acordo com a práxis do nosso Direito Processual e das regras do CPC.

Toda as peças tem uma sequência lógica de apresentação.

E aí vem o pulo do gato, e o problema também.

Vocês sabem como é feita a correção da peça e das questões?

Todas as provas são digitalizadas e enviadas para a banca corretora. Cada corretor trabalha com 2 telas, uma com a prova outra com os critérios de correção. Ele vai lendo a peça ou as questões em uma tela, e em outra vai atribuindo a pontuação.

Não raro, o candidato não apresenta sua peça dentro de da sequência apresentada pelo problema, e o corretor, que olha centenas de provas, acaba passando batido pelas respostas. Como o corretor está em uma maratona de análise de peças, seu raciocínio naturalmente acaba ficando meio robotizado, e falhas tendem a ocorrer.

Perguntem para um injustiçado da correção passada se ele havia apresentado a resposta corretamente e a banca deixou de atribuir a nota correta. Essa é uma das causas!

Logo, procurem seguir a sequência lógica da peça e a sequência do enunciado. Pensem em como poderá vir o espelho da prova.

“Ah, mas a banca é obrigada a corrigir direito!”

Sim, eu concordo! Mas na prática essa obrigação não tem sido levada ao pé da letra. “Ajudar” o corretor a corrigir sua prova, no fundo, representa vocês ajudarem a si mesmos.

2 – Clareza de apresentação

Sempre escrevo sobre a estética da prova e a apresentação dos parágrafos.

O motivo é óbvio: quanto mais estruturada a apresentação de um texto, mais fácil de compreendê-lo.

E vocês anseiam ardorosamente serem compreendidos pelos corretores.

A organização dos parágrafos da peça prática da OAB

A importância da estética para a prova subjetiva da OAB

Não é luxo algum: trata-se de uma medida para evitar confusão com o corretor.

Parágrafos de um tamanho padrão e claramente separados um do outro, grafia clara e legível, indicação explícita dos fundamentos legais, respeito às margens das folhas. Tudo isto conta na hora da verdade.

E aqui o raciocínio é simples: coloquem-se no lugar de quem vai corrigir as provas olhando em uma tela. Imaginem um corretor lendo uma letra horrorosa e tendo que fazer força para INTERPRETAR o significado de uma frase ou de uma palavra.

Imagem a quantidade de provas escritas com letras ininteligíveis.

Façam diferente: apresentem uma peça fácil de ser lida.

3 – Lógica na redação

Aqui é um belo de um desafio para muitos candidatos. A própria redação nada mais é do que um desdobramento do raciocínio, e a explicitação da resposta nem sempre é feita da melhor forma possível.

Já cansei de ver respostas para uma das questões de uma peça que poderiam ter sido apresentadas em 3 linhas, mas o foram em 6 ou 7. Ou mesmo mais do que isto...

Uma redação prolixa é um verdadeiro problema para quem a lê. E muitas respostas certas, por não serem dadas de forma objetiva, acabam sendo ignoradas.

Aliás, eu diria que essa é a principal causa de não atribuição de nota para muitos, mas muitos candidatos.

De um modo geral, a resposta tem de se parecer com o que está no padrão de resposta. O candidato narra de forma breve, muito breve, o fato, depois ele narra qual a solução jurídica aplicável ao caso, fundamenta com a lei e/ou jurisprudência e faz o pedido em função do interesse do seu cliente.

Muitos candidatos se perdem neste momento, tentando explicar a própria lei, estendendo-se demasiadamente na narrativa do enunciado e se perdendo na redação.

Em suma: não tenham medo de serem objetivos. A correção da prova é feita de forma a se encaixar a redação com o espelho. Se os elementos da redação encontrarem eco no espelho, a nota será deferida.

Olhem o raciocínio contido no padrão:

A redação, creiam-me, não precisa ir muito além disto não.

A prova é subjetiva, mas os critérios de correção são, em larga medida, objetivos. Se a redação enquadra com o espelho, apresenta todos os seus elementos, ela satisfaz o corretor.

Não é necessário bancar o Pontes de Miranda ou o Ruy Barbosa na explicação da resposta correta.

Muito bem!

Esse excesso de zelo e cuidados não deveria ser assim tão necessário (se bem que apresentar uma redação clara é o mínimo que se espera em qualquer prova subjetiva), mas as falhas nas correções, em especial na última prova, não podem ser ignoradas: a galera ficou irada com a quantidade de problemas.

Facilitar a vida do corretor, portanto, é uma forma de reduzir riscos na correção da própria prova. É uma medida de “sobrevivência”, por assim dizer.