Metodologia de estudo: esgotar a disciplina de uma só vez ou estudá-la por etapas?

Terça, 26 de fevereiro de 2013

"Dr. Maurício, bom dia.

Estou vivenciando um dilema e, espero, que o senhor consiga me auxiliar em uma questão simples, mas que pode ensejar uma ansiedade e, quem sabe, uma frustração em meu X Exame de Ordem.

Meu método de estudo é SEMPRE (e pra mim é difícil não fazer dessa forma) me debruçando INTEGRALMENTE em cada matéria, ou seja, estudo completamente constitucional, após penal, após trabalho, e assim por diante.

Mentalmente, prefiro manter essa metodologia em razão de que gosto de finalizar o raciocínio em determinada matéria (mesmo que necessite revisá-la posteriormente). Não gosto da sensação de "pendência" com determinado assunto.

Minha questão é a seguinte: o senhor acha, metodologicamente falando, mais eficiente estudar cada matéria individualmente em sua totalidade (forma que eu adoto) ou estudar em partes cada matéria, ou seja, um pouco civil, depois penal, depois tributário, e etc. ?

Estou indo para meu 3º Exame e, sinceramente, estou com medo de que meu método de estudo esteja influenciando diretamente na minha aprovação.

Detalhe: em nenhuma das vezes fui para a 2ª fase (a qual sinto que terei facilidade, pois desde o 2º ano da faculdade elaboro peças cíveis de bastante complexidade).

Obrigado."

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Pergunta interessante!

Quando eu passei no Exame de Ordem, usei a metodologia do estudo integral, ou seja, eu esgotava disciplina por disciplina.

Na época não fiz cursinho para a 1ª fase, então pegava o resumo jurídico, li tudo, fazia minhas anotações e depois resolvia dezenas de questões de provas anteriores. Na minimo umas 100 ligadas àquela disciplina.

Intelectualmente, para mim, era mais conformável estudar assim. Havia um sentido de unidade e coerência com o que era estudado.

Meu único erro, à época, era o de não fazer um resumo consistente (o resumo do resumo, no caso) e não dedicar os finais de semanas para revisões.

De uma forma ou de outra, tirei 54 pontos na 1ª fase (a prova tinha então 100 questões), o que resolveu a minha vida (em Exame de Ordem, metade é 100%).

E isso faz sentido? Metodologicamente é aconselhável?

Vamos considerar a natureza da prova objetiva para elaborarmos uma resposta:

1 - A prova não é interdisciplinar. Cada disciplina é abordada individualmente (se bem que na última prova tivemos algumas questões interdisciplinares, mas não dá para dizer que isso será uma tendência a ser seguida no futuro)

2 - O conteúdo da prova é dogmático, ou seja, preponderantemente reprodução do texto legal. Não de forma literal, diga-se de passagem, mas com alterações na redação dos enunciados ou a inclusão de pequenas histórias para dar um sentido prático ao problema.

Tal tipo de abordagem é estuda de forma mais completa com um curso ou com a leitura de uma doutrina específica para a prova da OAB.

3 - O volume de doutrina a estudar é menor do que a de qualquer outro concurso público. Uma olhada não muito atenta ao material didático voltado para o Exame de Ordem evidencia essa assertiva. As doutrinas são grandes resumos, sem maiores aprofundamentos. Pode parecer uma abordagem rasa, mas ela decorre da própria lógica da prova. O mercado oferece o que é adequado. Concursos mais complexos demandam um maior volume de estudos, mais tempo e mais dedicação.

Em média, os examinandos começam a se preparar com 3 ou 4 meses de antecedência, algo impensável para qualquer concurso público. O fator concorrência é determinante neste sentido.

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Dessa forma, imaginar o estudo estanque, disciplina por disciplina, faz sentido, pois a mecânica da prova permite.

Més passado publiquei o nosso Guia de Preparação e Cronograma de Estudos para a 1ª fase do X Exame de Ordem o processo de estudo indicado foi o de tópicos de disciplina de forma alternada.

Essa metodologia, ao longo do processo de preparação, permite não só que um estudante tenha uma visão ampla do Direito, visto como um todo e apenas separado por razões metodológicas, como também visa evitar a saturação no estudo continuado em um só tema, o que pode implicar em uma redução na capacidade de apreensão do conteúdo.

Mas aqui prevalece o gosto do próprio estudante. Afinal, estudar não é uma ciência exata: cada indivíduo tem sua própria forma de absorver o conteúdo.

A resposta final, vista como uma pergunta, é: qual o método que propicia a melhor formação da memória profunda? Ou seja, qual método de estudo é o melhor e fixa de forma mais adequada o conteúdo na cabeça.

Esse é o ponto.

O processo em si exige a alimentação, ou tomar contato com o conteúdo, entendê-lo, que é o processo de assimilação, estabelecer a fixação do conteúdo, que é a retroalimentação (releitura, resolução de exercícios) para reforçar o processo de assimilação.

Este é um tema cuja abordagem é muito mais ampla, pois envolve, por exemplo, a criação de microciclos de estudos, fragmentação de conteúdo, estruturação da carga de disciplina e mais uma longa abordagem.

Recomendo, neste sentido, a exploração do blog do Professor Rogério Neiva - http://www.concursospublicos.pro.br/ - para mim hoje o melhor especialista em concursos públicos no Brasil.

De toda forma, sim, o estudo até o esgotamento da disciplina, no caso do Exame de Ordem, pode ser adotado. O importante é ter a consciência de que a metodologia usada, seja ela qual for, está sendo eficiente. E eficiência pode ser medida de forma prática. Após umas 2 semanas do estudo de determinada matéria, tente resolver uma série de exercício vinculados a ela. Se o desempenho for bom, satisfatório, sua metodologia é eficiente. Do contrário, a forma de estudar precisa ser repensada.

Com a adoção da metodologia correta, as probabilidades de sucesso aumentam drasticamente.