Lembram do que Ophir Cavalcante falou? Pois é...

Terça, 15 de dezembro de 2015

Há muito tempo eu acalento a vontade escrever o que estou escrevendo agora. Na verdade, desde 2012 essa publicação vem sendo "guardada".

Naquela época, e eu me lembro com nitidez, o então presidente da Ordem atacou o financiamento privado de campanha, asseverando que tal instituto era uma daz raízes da corrupção. O tempo, e o STF (neste ano, inclusive), lhe deu razão, e o financiamento caiu, ao menos por enquanto.

Naquele dia, 19 de abril de 2012, Ophir Cavalcante falou em público no plenário do STF, como representante do mais importante ente da sociedade civil, aquilo que todos nós já sabíamos. Vejamos o trecho mais relevante de seu discurso:

"Portanto, aqui estou, na condição de Presidente de uma entidade que nunca se acovardou nos momentos cruciais de nossa história, para dizer ao novo Presidente da Suprema Corte brasileira que a sociedade espera, sinceramente, que esse tema não seja mais postergado. E que a Justiça, obviamente respeitando o devido processo legal, promova a punição exemplar dos culpados pelos crimes que cometeram contra o patrimônio público. Não importa o título e a envergadura do criminoso. Pois somente eliminando qualquer idéia de impunidade podemos, de fato, combater a fonte de todas as mazelas sociais em nosso país, que é a corrupção.

Não surpreende que estejamos tratando desta questão no momento em que forças políticas antagônicas afiam as armas para mais um espetáculo de canibalismo moral e ético em torno de uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito, ironicamente conhecida como ?CPI do Fim do Mundo?. Antes que sejam ligados os holofotes, precisamos refletir ? e refletir seriamente ? sobre um dado inegável: na origem de todos os grandes escândalos está o modelo de financiamento privado das campanhas políticas, que permite o ?caixa dois?, ou, em outras palavras, a relação promíscua entre o interesse privado e a coisa pública. É sempre assim.

E o resultado é que a cada eleição, se de um lado tomam posse os eleitos, nas sombras, outro poder se instala, apropriando-se dos negócios públicos e dando as cartas no jogo. E manda tanto que quando cai arrasta, junto de si, numa grande cascata, bicheiros, contraventores, falsificadores, arapongas, policiais, governadores, parlamentares, servidores, empresários, projetos, obras, e, também, a própria credibilidade nas instituições. Este, sim, nos parece o verdadeiro apocalipse.

O Congresso Nacional, o Parlamento em todos os níveis, tornou-se, para usar uma expressão de Monteiro Lobato, um pântano, onde muito se discute, mas nada é feito de concreto para melhorar o ambiente, que continua sendo o de um pântano. Com honrosas exceções, é claro, o Parlamento tem servido de balcão de negócios para muitos políticos, contribuindo para desgastar ainda mais a imagem das instituições."

Hoje tal discurso seria recebido com aplausos entusiasmados.

Hoje....

No não tão distante 2012 ele foi recebido com pedradas.

O deputado Eduardo Cunha  vociferou ferozmente contra Ophir Cavalcante, chamando-o publicamente de "pantaneiro". E o fez em diversas oportunidades, elevando o tom não só pessoalmente contra ele mas também contra a Ordem.

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As lideranças na Câmara dos Deputados, então presidida pelo deputado Henrique eduardo Alves, marcaram de discutir o fim do Exame de Ordem e fizeram uma imensa pressão contra a entidade.

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Ophir Cavalcante foi criticado por ter elevado o tom contra o Congresso, pois isso implicou em um "desgaste político" contra a Ordem, fragilizando-a no Congresso.

Mas o tempo é o senhor da razão.

E como é....

Hoje, dia 15/12/2015, temos mais uma notícia sobre a operação Lava-Jato, uma notícia bem significativa: a Polícia Federal cumpre mandatos de busca e apreensão nas casas de Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves e outros políticos de peso.

PF faz buscas na casa de Cunha e de ministros em nova fase da Lava-Jato.

Não preciso entrar em detalhes sobre o que é essa operação Lava-Jato: sua importância é amplamente conhecida.

O nome da ação de hoje? Catilinárias!

"Catilinárias" são uma série de quatro discursos que Cícero, o famoso cônsul romano Marco Túlio Cícero, proferiu no Senado romano. Cícero referia-se a Lúcio Catilina, que teria comandado uma revolução para dissolver o Senado e tomar o poder em Roma em 63 a.C.. Uma das frases mais conhecidas do discurso é a seguinte: "até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?".

Em novembro de 63 a.C., Catilina reuniu dirigentes da conspiração para tentarem mais uma vez dar um golpe e tomar o poder em Roma. Ciente disto, Cícero convocou o Senado. Na reunião, indignado com a presença de Catilina, acusou-o através do primeiro da série de discursos, que veio a ser conhecida como "Catilinárias". Cícero convenceu o Senado da conspiração de Catilina. Após o quarto discurso de Cícero, Catilina já estava condenado à morte, que ocorreu meses depois em um campo de batalha.

Confiram um trecho do 1º discurso:

"Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?

Por quanto tempo ainda há-de zombar de nós essa tua loucura?

A que extremos se há-de precipitar a tua audácia sem freio?

Nem a guarda do Palatino, nem a ronda nocturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te?

Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?

Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?

Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas?

A escolha do nome da operação pela Polícia Federal foi emblemática, de uma felicidade extrema!

E foi ele, Ophir Cavalcante, que com desassombro marcou sua posição com firmeza! Este texto está sendo escrito para relembrar o discurso do Dr. Ophir, e para fazer Justiça a ele e ao seu posicionamento firme diante da afronta a que somos submetidos todos os dias, desde muitíssimo antes de 2012.

Parabéns, Dr.Ophir Cavalcante! O tempo hoje lhe faz Justiça e lhe recobre de méritos pela CORAGEM de falar o que deveria ser dito e honrar o papel da OAB perante a sociedade.