Leitura ou Aula: qual é a melhor forma de estudar e aprender?

Terça, 1 de novembro de 2011

Não é incomum que me seja apresentada a seguinte pergunta: qual é a melhor forma de se preparar para concursos ou exames, assistindo aulas ou adotando a leitura como estratégia de estudo?

Como todas as respostas sobre o tema a serem apresentadas com um mínimo de seriedade, responsabilidade e consistência, não é possível partir para os fáceis reducionismos universalizantes, muitas vezes embrulhadas em frases de impacto, que parecem peças de marketing. Ou seja, não é uma questão de sim ou não, de este ou aquele. Trata-se de uma questão de depende, porque, para quem, em quais condições e qual contexto.

Primeiramente, registro que essas alternativas podem ser adotadas de maneira concomitante ou sucessiva. No segundo caso, alguns candidatos primeiro partem para a sala de aula, para depois ir aos livros, sendo que outros buscam o roteiro contrário. Como candidato, adotei a alternativa sucessiva e pelo segundo caminho, isto é, após concluir o meu planejamento da preparação para o concurso por meio do estudo puramente bibliográfico, parti para as aulas.

A reflexão para a busca de uma resposta pressupõe a consideração do conceito de eficácia e eficiência. Enquanto a eficácia se relaciona com a produção de efeitos ou resultados, á a eficiência envolve a relação entre o resultado e os recursos mobilizados.

Neste sentido, não há dúvida que tanto o estudo bibliográfico, quanto as aulas, contam com condições para produzir resultados. Ou seja, é plenamente possível aprender adotando qualquer destas estratégias. A questão é qual o alcance de cada resultado e o custo de obtenção.

Para ser mais preciso, partindo da premissa de que a aprovação no concurso ou exame exige a disponibilidade cognitiva de determinado objeto de conhecimento ou informação e que a preparação consiste na busca da apropriação intelectual deste mesmo objeto de conhecimento, a questão que se coloca é, qual estratégia me proporciona melhores condições para ter a tal disponibilidade intelectual e quanto me custa? E mais, colocaria ainda outra pergunta: posso pagar o preço que gostaria de pagar?

Antes de analisar algumas variáveis relevantes, acredito que dois princípios devem pautar a busca da resposta. O primeiro consiste na noção de que dificilmente existirão grandes atalhos. O segundo envolve o velho ditado popular de que o ?barato? pode sair muito ?caro?, o que repercute diretamente na idéia de eficiência.

Um primeiro conceito importante para a análise da pergunta consiste na necessidade de compreender a diferença entre a mera leitura e aquela que tem o sentido de estudo. Neste sentido, sugiro texto que trata exatamente deste tema (clique aqui para ler Leitura e Estudo: há diferença?)

Para a compreensão da leitura enquanto processo cognitivo, voltado à apropriação intelectual de informações, segundo o neuropsicopedagogo português Prof Vitor da Fonseca, tal atividade ?? implica em processar letras que têm categorizações fonológicas específicas para serem decodificadas e compreendidas. De um processo de captação visual, o cérebro tem em seguida de categorizar formas de letra com sons, por meio de processos auditivos complexos a fim de inferir significações cognitivas contidas em palavras que compõe um texto? (Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 153).

Ou seja, na leitura há um processo de decodificação e categorização, o qual implicar em maior mobilização cognitiva, se comparada com a atividade de assistir aulas. E mobilização cognitiva, por sua vez, tende a proporcionar maior eficácia e intensidade da apropriação da informação com a qual se teve contato.

Outro aspecto relevante é que a leitura exige maior capacidade de abstração do que a aula. Como assim? Qual a diferença entre assistir um filme e ler um livro retratando a mesma estória? No filme é bem verdade que há alguma interação e interpretação por parte daquele que assiste. Porém, no livro a estória é totalmente construída na cabeça do leitor. Isto significa maior mobilização cognitiva.

o abstrato exige mais, em termos intelectuais, que o concreto. Basta considerar que a emblemática construção sobre os estágios de evolução da inteligência segundo Jean Piaget ? um dos pais das ciências da aprendizagem, têm na capacidade de abstração um traço distintivo-evolutivo.

Dessa maneira, não tenho dúvida em afirmar ? e sem a pretensão do monopólio da verdade absoluta, quea atividade de leitura tende a imprimir maior consistência à apropriação intelectual da informação. Contudo, também exigir maior custo de mobilização cognitiva e tempo. Inclusive, sobre este dilema entre o custo de mobilização cognitiva e a eficácia da apropriação intelectual, sugiro o texto no qual analiso se vale a pena fazer resumos (clique aqui para ler Consistência dos Estudos x Tempo: um dilema de custo-benefício)

O mencionado custo cognitivo significa inclusive  tempo, um dos recursos mais valiosos ao longo do processo de preparação.

Não obstante, também é preciso refletir sobre os estilos cognitivos e os estilos de aprendizagem. Apesar de haver alguma confusão ou falta de clareza sobre estes conceitos, os estilos cognitivos guardam relação com a forma de captura de determinados estímulos, sendo que os estilos de aprendizagem se relacionam com a forma de processarmos as informações ou estímulos captados.

Outro aspecto a se considerar consiste na existência de alguma limitação de natureza orgânico-cognitiva. Por exemplo, para aqueles que contam com distúrbios de aprendizagem como a dislexia, talvez não exista muito espaço para refletir sobre a resposta, pois as restrições para a leitura tendem a ser significativas.

Diante de todas as considerações apresentadas, indago: já sabe o que vale mais a pena? Estudo bibliográfico ou aulas?

Independente da resposta, ou seja, da sua resposta, ainda que se conclua que a estratégia mais eficiente corresponde às aulas, estas, por si só, podem não ser suficientes para a aprovação. Ou seja, é natural a necessidade de adoção de outras estratégias agregadas (clique aqui para ler Basta Assistir Aulas para passar no concurso?)

Além disto, apesar da pergunta objeto do presente texto estar centrada numa análise comparativa das aulas com a leitura, em seu sentido tradicional, atualmente existem vários outros recursos cognitivos que podem ser adotados, compreendidos como mecanismos de apropriação intelectual de informações. Neste sentido podem ser destacadas as interações em fóruns, chats, twitter, twitttam, videocasts e blogs.E no caso, vale lembrar que a adoção dos recursos digitais exige alguns cuidados (clique aqui para ler Preparação para Concursos e as Armadilhas da Web).

Portanto, procure refletir sobre os caminhos e atitudes mais adequadas para que tenha na prova, em termos intelectuais, aquilo que precisa, ou seja, as informações e conhecimentos solicitados pelo examinador. Mais do que uma solução eficaz, busque uma resposta eficiente.

E bom estudo, por meio da leitura e/ou das aulas!

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Fonte: Blog do professor Rogério Neiva