Jovens advogados começam a se insurgir contra as novas regras para publicidade do Código de Ética da OAB

Quinta, 18 de junho de 2015

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Ontem tive a oportunidade de participar da reunião ordinária da Comissão dos Jovens advogados da OAB, quando uma série de pautas de interesse foram debatidas. Entre elas, os possíveis rumos da questão da publicidade dos serviços advocatícios que está sendo votado dentro das deliberações sobre o Novo Código de Ética da OAB.

Fui questionado sobre o texto que publiquei no último dia 15 - Alô OAB, a jovem advocacia QUER a liberação da publicidade nas redes sociais! - e, para minha satisfação, um auditório LOTADO foi uníssono contra a atual proposta que será posta em votação.

Todos os jovens advogados presentes entenderam que a atual proposta imporá uma SÉRIA restrição ao desenvolvimento de suas recém-iniciadas carreiras. A proposta é extremamente rigorosa, verdadeiramente restritiva e não está em conformidade com o espírito de nosso tempo.

A impressão de todos os jovens advogados ontem presentes ao evento é que a internet é vista como uma espécie de "inimigo da advocacia" que precisa ser contido através de uma nova regulamentação.

Isso não é aceitável.

E não é por uma razão muito simples.

Podemos dividir a humanidade em três grupos: os excluídos digitais, os imigrantes digitais e os nativos digitais.

Os excluídos são as pessoas que não conseguem se adaptar à computação, novas tecnologias e à internet. Este grupo é composto, majoritariamente, por pessoas idosas. A revolução tecnológica para elas representa um choque cultural, e a modernidade é dificilmente assimilável.

Os imigrantes, grupo do qual eu faço parte, são aqueles que nasceram antes do advento da atual era tecnológica mas conseguiram, de forma plena ou parcial, ingressar neste novo mundo digital. Eu, quando criança, via televisão na sala, com um único aparelho na casa toda (era luxo ter mais de um), uma TV Telefunken de tubo que durou anos e anos. Meu primeiro contato com computação foi aos 6 anos, quando ganhei um Atari 2600 (fiquei viciado no videogame, é claro).

Meu primeiro computador foi um TK 90, mais uma curiosidade do que efetivamente um computador.

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Só na adolescência, se não me engano, em 96, que ganhei meio primeiro computador de "verdade" um Compaq Presário, com chip Pentium e, a partir daí, passei a usar a internet de fato (que começou sua popularização ali por volta de 93/94).

Ou seja, eu era jovem (a ainda sou!!!) quando a onda da computação começou, e embarquei nela.

E hoje, a quase totalidade dos jovens advogados são nativos digitais, ou seja, não passaram por um processo de transição, como eu, mas sim nasceram já dentro da era da internet, dos celulares e da tecnologia. Eles estão totalmente integrados com essa realidade. Não se trata de terem se acostumado ás novas tecnologias, mas sim de vê-las como a coisa mais natural do mundo.

A era da internet é a realidade deles, como se internet sempre tivesse existido.

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E, de repente, vem um Código de Ética que renega a realidade sob a qual eles foram criados.

O atual também renega, mas o faz de uma forma indireta e mais suave, pois foi pensado sem levar em conta o advento da informática, ainda incipiente. Entretanto, a nova proposta refuta explicitamente o uso da internet, impondo uma série de restrições ao uso da rede que simplesmente não faz sentido no mundo atual e, pior de tudo, QUEBRA AS PERNAS dos nativos digitais. E quebra no sentido de lhes retirar uma parcela explorável do mercado da advocacia e um ambiente completamente dominado pela percepção deles.

Eles serão os maiores afetados coma aprovação da proposta da forma como está, pois para eles o uso da WEB é algo absolutamente natural e, por que não, indispensável no dia-a-dia.

Isso é justo? Isso reflete o sentimento de toda a classe ou só de uma parcela dela?

A verdade é uma só: existe não só um desconhecimento desta realidade como também um recusa em se permitir que os espaços sejam ocupados de forma mais rápida e intensa por quem nasceu e sabe pensar a web.

Há uma nítida CISÃO de interesses aí!

Normal, claro, visões e antagonismos sempre vão existir em qualquer grupo ou entidade, e na OAB não seria diferente. Os atuais conselheiros são os que mandam hoje na entidade e deliberam sobre a visão deles a respeito do atual contexto.

Mas os jovens advogados, hoje, tem um imenso potencial de votos. Hoje eles decidem uma eleição!

Começamos uma ideia de mobilizar a jovem advocacia Brasil afora para demonstrar nosso descontentamento com o atual cenário, e há uma forte vontade de se fazer sentir o peso do CUSTO POLÍTICO em quem votar a favor desta proposta.

A parte do Novo Código de Ética voltada para a publicidade é NOCIVA para os advogados imigrantes digitais!

Da forma como foi formulada não pode ser aprovada.