Segunda, 28 de março de 2022
Qual o melhor método para OAB: intercalar disciplinas ou esgotá-las uma de cada vez?
Muitos têm essa dúvida, já outros sequer param para refletir sobre a questão.
Quando fui aprovado na OAB usei a metodologia do estudo integral, ou seja, eu esgotava disciplina por disciplina. À época não fiz cursinho para a 1ª fase, então pegava meus livros de resumo jurídico, lia tudo, fazia minhas anotações e depois resolvia dezenas de questões de provas anteriores. No mínimo umas 100 ligadas àquela disciplina.
Intelectualmente, para mim, era mais confortável estudar assim. Havia um sentido de unidade e coerência com o que era estudado. Meu único erro, à época, era o de não fazer um resumo consistente (o resumo do resumo, no caso) e não dedicar os finais de semanas para revisões.
De uma forma ou de outra, tirei 54 pontos na 1ª fase (a prova tinha então 100 questões), o que resolveu a minha vida (em Exame de Ordem, metade é 100%).
E isso faz sentido? Metodologicamente é aconselhável?
Vamos considerar a natureza da prova objetiva para elaborarmos uma resposta:
1 - O conteúdo da prova é dogmático, ou seja, preponderantemente reprodução do texto legal. Não de forma literal, diga-se de passagem, mas com alterações na redação dos enunciados ou a inclusão de pequenas histórias para dar um sentido prático ao problema.
Tal tipo de abordagem é estudada de forma mais completa com um curso ou com a leitura de uma doutrina específica.
2 - O volume de doutrina a estudar é menor do que a de qualquer outro concurso público. Uma olhada não muito atenta ao material didático voltado para o Exame de Ordem evidencia essa assertiva. As doutrinas são grandes resumos, sem maiores aprofundamentos. Pode parecer uma abordagem rasa, mas ela decorre da própria lógica da prova. O mercado oferece o que é adequado. Concursos mais complexos demandam um maior volume de estudos, mais tempo e mais dedicação.
Em média, os examinandos começam a se preparar com 3 ou 4 meses de antecedência, algo impensável para qualquer concurso público. O fator concorrência é determinante neste sentido.
Dessa forma, imaginar o estudo estanque, disciplina por disciplina, faz sentido, pois a mecânica da prova permite.
Essa metodologia, ao longo do processo de preparação, permite não só que um estudante tenha uma visão ampla do Direito, visto como um todo e apenas separado por razões metodológicas, como também visa evitar a saturação no estudo continuado em um só tema, o que pode implicar em uma redução na capacidade de apreensão do conteúdo.
O professor Rogério Neiva, especialista na preparação para concursos, tem um posicionamento quanto ao tema:
"Desde já saliento que considero o mais adequado estudar várias matérias ao mesmo tempo. E para tanto levo em conta alguns fundamentos.
O primeiro argumento é muito simples. Considero que estudar de forma modular, ou seja, estudar uma única matéria de modo a esgotá-la, para em seguida passar para outra, tende a ser mais chato do que variar as matérias ao longo da semana.
Inclusive acredito que isto impacta na concentração, pois o novo, que seria a matéria distinta, em função da variação, pode ter uma influência em termos dopaminérgicos, ou seja, liberação de dopamina. E dopamina consiste num neurotransmissor importante para o mecanismo atencional.
É bem verdade que é possível que, estudando apenas uma única matéria por vez, e avançando no domínio desta, possamos nos empolgar e nos evolver mais. Porém, aí entra a lógica da subjetividade, ou seja, levar em conta que "cada um é cada um". Esta compreensão, inclusive, nos faz questionar as abordagens achistas-universalizantes dos "especialistas" em preparação para concursos sem especialização.
O segundo argumento envolve a lógica da neuroplasticidade. Segundo este conceito, quanto mais o nosso cérebro é demandado, mais tem capacidade de dar respostas. Assim, considero que estudar matérias diferentes ao mesmo tempo implica em proporcionar estímulos diferentes às nossas estruturas cognitivas.
Além disto, considerando que construir memórias significa criar redes neurais, ao estudar matérias distintas, tendemos a estar transformando os conceitos correspondentes em novas redes neurais distintas.
Um último argumento importante é que ao estudar todas as matérias ao mesmo tempo podemos avançar de forma equilibrada, inclusive de modo a fechar todas as matérias do o programa do edital ao mesmo tempo.
Inclusive este modelo também contribui com o desenvolvimento de uma visão sistêmica do conteúdo do edital, o que é importante nas provas.
Portanto, considero que o estudo de todas as matérias ao mesmo tempo é melhor que o estudo seqüenciado. Estudar todas as matérias ao mesmo tempo significa adotar um modelo de grade simultâneo-concomitante, sendo que estudar de forma seqüenciada consiste no modelo de grade sucessiva-modular.
É bem verdade que podemos adotar uma solução híbrida. Ou seja, eleger um primeiro bloco de matérias que, após concluídas, terão seus lugares na grade tomados pelas que virão na seqüência. Neste caso é interessante adotar uma lógica de prejudicialidade e de relação conceitual. Por exemplo, antes de estudar Direito Administrativo estudar Direito Constitucional.
Considerando estas informações, avalie o que é mais eficiente para você. E procure tomar o caminho que traga melhores resultados."
Mas aqui prevalece o gosto do próprio estudante. Afinal, estudar não é uma ciência exata: cada indivíduo tem sua própria forma de absorver o conteúdo.
A resposta final, vista como uma pergunta, é: qual o método que propicia a melhor formação da memória profunda? Ou seja, qual método de estudo é o melhor e fixa de forma mais adequada o conteúdo na cabeça.
Esse é o ponto!
O processo em si exige a alimentação, ou tomar contato com o conteúdo, entendê-lo, que é o processo de assimilação, estabelecer a fixação do conteúdo, que é a retroalimentação (releitura, resolução de exercícios) para reforçar o processo de assimilação.
Este é um tema cuja abordagem é muito mais ampla, pois envolve, por exemplo, a criação de microciclos de estudos, fragmentação de conteúdo, estruturação da carga de disciplina e mais uma longa abordagem.
De toda forma, sim, o estudo até o esgotamento da disciplina, no caso do Exame de Ordem, pode ser adotado. O importante é ter a consciência de que a metodologia usada, seja ela qual for, está sendo eficiente. E eficiência pode ser medida de forma prática. Após umas 2 semanas do estudo de determinada matéria, tente resolver uma série de exercício vinculados a ela. Se o desempenho for bom, satisfatório, sua metodologia é eficiente. Do contrário, a forma de estudar precisa ser repensada.
Com a adoção da metodologia correta, as probabilidades de sucesso aumentam drasticamente.