Governo do Equador fecha 14 universidades por baixa qualidade acadêmica

Sexta, 27 de abril de 2012

As autoridades da Secretaria Nacional de Educação Superior do Equador fecharam 14 universidades do país, seis delas em Quito, por não terem melhorado a qualidade de seu ensino acadêmico.

Inicialmente, 26 instituições catalogadas com uma nota "E" por não terem passado nos exames por descumprimento de requisitos previstos pela Lei Orgânica de Ensino Superior.

Em uma segunda avaliação, realizada 18 meses mais tarde, foram canceladas as licenças das 14 universidades que não atingiram os objetivos estipulados pela legislação.

Na Universidad Autónoma de Quito, onde estudam cerca de 8.500 pessoas, as autoridades colocaram um cartaz avisando que as aulas haviam sido suspensas "por falta de qualidade acadêmica".

O titular da pasta de Educação do Equador, René Ramírez, explicou que os alunos que se encontrarem no último ano poderão terminar seus respectivos cursos na instituição em que estão, mas os demais terão de trocar de centro de ensino por meio de um "plano de contingência".

Fonte: UOL

Em um primeiro momento até dá vontade de achar tal decisão sensacional, um verdadeiro combate ao estelionato educacional. Não seria por menos, pois o presidente do Equador e artífice dessa intervenção, Rafael Corrêa, curiosamente chama as mais novas instituições de ensino, em sua maioria surgidas na década de 90 (tal como no Brasil, quando iniciou a 1ª onda de expansão do ensino superior) de ?universidades de garagem?.

As universidades reprovadas na avaliação inicial do Governo Equatoriano atendem a um total de 69.500 alunos, e com o fechamento de 14 destas um expressivo número de universitários terão de ser realocados. Segundo Corrêa as faculdades fechadas ?estão enganando seus estudantes, porque não oferecem os elementos mínimos para garantir a excelência acadêmica?.

O governo equatoriano, na verdade, está tentando impor uma radical agenda de reformulação do ensino superior, baseada em um sistema meritocrático, pois o termo "universidade de garagem" foi cunhado em função de uma triste realidade: não só os processos seletivos de ingresso nas instituições superior estão viciado pelo famoso QI (quem indica) como a estrutura de ensino oferecida aos estudantes na maioria das instituições é de péssima qualidade. Isso incluia professores com apenas meio expediente de trabalho, ensino online e concentração de alunos em apenas uma área - Administração.

Eis o ponto chave: permitiu-se a abertura e expansão indiscriminada de faculdades sem atentarem para a qualidade das instituições autorizadas e depois, face ao quadro de mediocridade, resolvem radicalizar e fechar várias instituições, prejudicando os alunos.

Soluções radicais são problemáticas e nem sempre eficientes, afora deixarem vários "mortos e feridos", em geral inocentes, durante o processo. Mas, para o bem ou para o mal, é uma tentativa de resgate do sistema.

E no Brasil?

No momento estamos vivendo a 2ª onda de expansão do ensino superior, um passo ambicioso de incluir o país dentro dos critérios internacionais de escolarização de sua população. Regras de financiamento flexibilizadas, aumento do número de faculdades e virtualização do ensino superior formam os ingredientes dessa fórmula.

Entretanto, é uma sistemática cuja preocupação com a qualidade não está em 1º plano.

Uma medida tal como ocorrida no Equador, aqui, seria impensável, em que pese, por exemplo, a OAB ter criado seu selo de qualidade e tachar abertamente a maioria das faculdades de caça-níqueis, dada a mediocridade da educação ofertada.

E isso em função da existência de um parâmetro de avaliação: o Exame de Ordem. As demais graduações, exceto o relativamente novo Exame de Suficiência em Contabilidade, não possuem critérios de mensuração da qualidade do ensino (o ENADE, por suas características, tem eficácia avaliativa limitada) mas provavelmente compartilham o quadro negativo do universo do ensino jurídico.

A solução adotada pelo Equador em parte pode ser atribuída ao caráter intervencionista do Estado equatoriano na sociedade, pois Corrêa faz parte do "círculo revolucionário bolivariano", junto com seus colegas Hugo Chaves e Evo Morales, conhecidos por não serem muito afeitos à regras do Estado de Direito, mas também revela que o empresariado da educação superior, assim como no Brasil, têm seu foco apenas no lucro. POis o ensino é mais um negócio, inclusive com ações cotadas na bolsa de valores.

Business!

As perspectivas de médio e longo prazo são, certamente, preocupantes.

Um exército de futuro profissionais com diplomas, mas incapazes de serem úteis e com dificuldades de colocação profissional em função da péssima qualidade do ensino ofertado. Esse é um quadro futuro praticamente inevitável.

Quem viver verá.

Com informações do UOL.