Faculdades pagam ONGs e igrejas para captar novos alunos

Terça, 27 de setembro de 2011

Por Elvira Lobato e Antonio Gois, na Folha:

Surgiu uma nova figura no meio universitário: o intermediário entre as faculdades privadas e os jovens trabalhadores de menor renda que se tornaram o principal público-alvo de algumas instituições. Associações de moradores, líderes comunitários, ONGs e igrejas fazem parte da malha de captação de alunos. O fenômeno foi constatado pela Folha em bairros da periferia da Grande São Paulo. As entidades intermediárias são remuneradas de duas formas: pelos alunos - que pagam uma taxa semestral ou anual para ter o nome incluído no cadastro para bolsas de estudo - e pelas faculdades, que chegam a pagar R$ 100 por matriculado. As faculdades justificam a contratação da rede de intermediários dizendo que isso é mais eficiente e barato do que gastar com publicidade nas mídias convencionais.

Instituições de São Paulo como Uniban -recentemente adquirida pelo grupo Anhanguera -, Universidade de Guarulhos, UniRadial -ligada ao grupo Estácio de Sá-, Faculdade Sumaré e UniSant?Anna são algumas das que aderiram à prática. Não há um padrão na contratação dos intermediários. As faculdades mais agressivas recorrem a associações de moradores de comunidades carentes, contando que o futuro aluno poderá financiar 100% de seu estudo pelo Fies, do governo federal, ou por outras fontes de financiamento do governo de São Paulo ou privadas. A Uniesp, por exemplo, contatou José Cecílio dos Santos, 43, presidente da associação de moradores do Jardim Boa Vista, na região administrativa do Butantã (zona oeste). Neste ano, ele já encaminhou 200 candidatos para a faculdade, que remunerou a associação em R$ 100 por aluno matriculado. Além disso, a faculdade promete um notebook ao aluno que for aprovado no Fies.

Fonte: Blog Reinaldo Azevedo

Pensei um pouco sobre como definir essa prática, mas confesso que os termos não são exatamente publicáveis. Deixa para lá...

Não é preciso dizer que o vestibular para ingresso nessas instituições simplesmente não existe. Se não existe, não preciso também dizer que a "qualidade" desses alunos, como universitários, deve ser mínima. Afinal, quem não se esforça para entrar numa faculdade por vontade própria e pela via dos estudos não deverá ser um bom aluno.

Aliás, esforço para quê se o diploma ao fim do curso é praticamente uma certeza? Basta continuar pagando as mensalidades...

Há de se notar que essa prática é adotada não por ser mais eficiente que o marketing convencional, e sim porque o excesso na oferta de cursos superiores é maior do que a demanda.

Simples assim!

De acordo com o último Censo da Educação Superior, divulgado em 2009, 49 em 100 vagas do ensino superior do Brasil ficam ociosas.

Ao todo, 1.479 milhão das carteiras que poderiam ser ocupadas em cursos presenciais de universidades, centros universitários e faculdades permaneceram vazias no período analisado - vindo a representar 49,6% do total de vagas de ingresso.

O número de vagas ociosas teve um crescimento de 11,6% de 2007 para 2008. A explicação para essa "sobra" no caso das instituições particulares, é o fato de elas adotarem uma estratégia de fazer "estoque" de vagas, segundo Reynaldo Fernandes, presidente do Inep e Maria Paula Dallari Bucci, secretária de Ensino Superior do MEC. As instituições requerem ao MEC a abertura de um número superior de vagas ao que elas pretendem oferecer.

"O processo de abertura de cursos era muito lento", explica Maria Paula. E, por isso, havia o interesse em deixar aprovadas vagas antecipando-se à demanda. (Fonte: UOL)

Dentro dessa lógica, questiona-se qual a real preocupação de uma instituição de ensino que adota essa prática tem em formar seus acadêmicos.

O resultado dessa equação só pode ser catastrófico.

Por um acaso, atravesse um Exame de Ordem no caminho desse "idílio" da formação superior e veja o resultado.

Das faculdades citadas na reportagem, nenhuma delas aprova mais do que 16% dos seus egressos no Exame de Ordem, sendo que a média de sucesso é de apenas 5%. (cliquem AQUI e digitem o nome da instituição na busca do ranking das faculdades no IV Exame de Ordem Unificado). Há de se considerar que duas das instituições citadas não estão na relação.

Com o plano de expansão do ensino superior em curso, e o financiamento facilitado do FIES, está sendo armada uma bomba educacional (e social) para os próximos 10 anos.

A verdade é que o Brasil ressente-se profundamente do tradicional descaso com a educação, notadamente a de base. O número de vagas supera o número de brasileiros com a formação adequada para adentrar no ensino superior. Recentemente ganhou espaço na mídia a seguinte manchete, que fala por si mesma: Para recuperar falhas na educação, faculdades ensinam tabuada

Um universitário que precisa desse tipo de "reforço" só pode ser sinal de que a instituição que o abriga não tem a menor preocupação em selecionar aqueles aptos ao ensino superior. Na realidade, a preocupação se resume a viabilizar economicamente o negócio, o "business".

Um grande ?business? chamado educação superior e o desempenho no Exame da OAB

E a "culpa", ao menos na área jurídica, hoje é do Exame de Ordem. Se criarem exames de proficiência em outras carreiras de nível superior, estes exames, sem NENHUMA sombra de dúvida, também serão os vilões.

O universitário, em última instância, é livre para escolher a faculdade que bem entender. Mas também deve se responsabilizar pelas consequências de suas escolhas.

E o preço a pagar pela escolha errada sempre é elevadíssimo.