Sexta, 24 de fevereiro de 2012
Olá Dr. Maurício! Gostaria de fazer um desabafo. Esta será a 4ª vez que faço a 2ª fase do Exame de Ordem. Ocorre que quando estou fazendo a prova, ela pra mim é tão importante (nunca imaginei que chegasse até aqui), que meu coração dispara tanto que tenho a sensação que alguém está ouvindo, parece que tenho um bloqueio. Consigo identificar facilmente as peças, então eu fico eufórica com isso e deixo passar coisas que depois eu não acredito que li e não coloquei. Meu último exame li o artigo e achei que não se enquadrava no problema, então não coloquei, e foi somente por ele que reprovei. Me ajuda como devo me comportar, pois minha ansiedade me atrapalha demais.
Um grande abraço!
Muito bem, muito bem!
O problema aqui, sintetizando tudo, é simples de diagnosticar: medo.
E o medo faz com que você hiperestime o valor da prova, gerando essa mistura de euforia e ansiedade que ao fim leva-a ao fracasso.
Aliás, essa é uma condição mental similar a muitos candidatos: um frisson na barriga antes de entrar na prova, fruto de muitas expectativas e da ansiedade
É comum ver candidatos que fazem a 1ª fase umas 4 ou 5 vezes, mas não é tão comum ver candidatos que reprovam tanto na 2ª fase, isso em decorrência do fato da prova da 2ª fase aprovar percentualmente mais candidatos do que a prova da 1ª fase.
Ou seja: esse estado emocional representa uma barreira para a a provação.
Complicado, pois o conhecimento está lá, disponível e pronto para ser usado, mas o psique sabota o candidato.
Isso gera um ciclo vicioso, pois a prova acaba se tornando uma espécie de mito, uma quimera pronta a devorar o candidatos e seus pavores. Sua simples proximidade faz os joelhos tremerem.
Como lidar com esse quadro?
Vamos recorrer a um famoso mestre Jedi:
"Faça, ou não faça. Tentativa não há."
Um leitor mais sisudo já vai começar a pensar: "lá vem babaquice..."
Mas não é.
Trata-se de um fato: você tem de fazer a prova. Simples assim.
Há uma diferença sutil entre fazer e não fazer e passar e não passar.
Pergunta: você faz a prova para passar ou para simplesmente fazê-la?
Para passar, provavelmente será a resposta.
Mas fazer a prova para passar carrega consigo o peso da responsabilidade da projeção de um desejo: passar.
E isso gera ansiedade e, potencialmente, medo, pois detrás da prova há uma ambição, um desejo, uma necessidade.
Pergunta: é preciso desejar alguma coisa para consegui-la?
Em princípio sim, mas não necessariamente.
Você terá de fazer a prova. Isso vai acontecer. Que tal fazê-la apenas por fazer, sem desejar sua consequência (a aprovação). Se você a fizer bem feita, a consequência (aprovação) virá do mesmo jeito.
Ohhhhh......
Daí vem a lição do Mestre Yoda: simplesmente faça.
A sabedoria por detrás disso está em retirar a carga emocional da realização da prova.
Dá uma olhada e compare os preceitos da filosofia Jedi e Sith:
Filosofia Ortodoxa Jedi
Não há emoção; há paz. Não há ignorância; há conhecimento. Não há paixão; há serenidade. Não há caos; há harmonia. Não há morte; há a Força.
Filosofia Sith
Paz é uma mentira, só importa a emoção. Com a emoção, ganho força. Com a força, ganho poder. Com poder, ganho vitórias. Com as vitórias, minhas correntes se rompem. A força me libertará. Não há nada que não se possa fazer quando se tem o Poder.
Pedir para uma pessoa retirar a paixão, os sentimentos e os desejos de algo importante em sua vida é uma tarefa complicada. Mas considere: já se foram 4 provas em que o psique sabotou seu desempenho. Por que não mudar?
As emoções atrapalham o desempenho de atividads práticas, objetivas. Elas são boas para os relacionamentos, futebol, férias, família, etc e tal. Mas para as atividades profissionais, para o raciocínio e para a lógica, as emoções atrapalham.
O ponto é: coloque a prova dentro de sua real perspectiva: uma avaliação técnica.
Só isso.
Foque sua atenção nos aspectos técnicos.
Nada além.
A prova, na média, aprova mais de 50% dos aprovados na 1ª fase, que por sua vez aprova no máximo uns 30% (na média).
A 2ª fase é um obstáculo menor comparada com a prova objetiva.
Desmistifique-a!
Evidentemente o processo de desmistificação não ocorre em um estalar de dedos. Demanda reflexões sobre si mesmo, sobre a vida e sobre seus próprios objetivos.
Reflita, medite e procure seu caminho.
Eu acredito (e com conhecimento de causa!) que retirar qualquer ambição, qualquer desejo sobre o resultado da prova proporciona uma calma imensa ao candidato.
A diferença no desempenho, a partir daí, é notável.
Boas reflexões!