Exame da OAB: primeira na 5ª edição, UFES cai para 19º lugar

Quarta, 9 de maio de 2012

O 6º Exame Unificado da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) apresentou uma variação curiosa em relação à edição anterior. Primeira colocada em percentual de aprovação na 5ª aplicação da prova, a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) caiu para a 19ª posição na lista divulgada nesta terça. Por outro lado, a Universidade Federal da Paraíba, que havia ficado com a 17ª posição na última prova, subiu para o segundo lugar.

6º Exame da OAB: veja o ranking com as 50 melhores e as 50 piores universidades

Segundo o advogado Maurício Gieseler, editor do blog Exame de Ordem, não há uma causa específica para as variações bruscas que costumam aparecer de um ranking para o outro nos exames da OAB. "No caso das instituições particulares, podemos especular que a pressão para que os alunos se saiam bem na prova influencie no resultado", opina. Gieseler aponta ainda que nos dois últimos exames houve um aumento na aprovação de alunos. "Não dá pra dizer se os alunos, de modo geral, estão mais preparados de uma prova para a outra. É mais fácil concluir que a prova foi facilitada", argumenta.

Dos 29 candidatos da UFES que prestaram as provas nesta edição, 20 foram aprovados, o que representa, proporcionalmente, 68,97%. Na classificação anterior, que garantiu o primeiro lugar à universidade, a taxa havia sido de 80,60% - 54 dos 67 inscritos passaram.

A USP (campus de São Paulo) aparece em 12º, seis posições abaixo em relação ao último exame. Contudo, a unidade de Ribeirão Preto da universidade, que participou pela primeira vez da prova, aparece na 8ª colocação.

Primeiro lugar no 6º Exame de Ordem da OAB

A aprovação de 88 dos 102 candidatos (86,27% proporcionalmente) deu à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, o primeiro lugar no ranking no 6º Exame da OAB. Na última edição, a instituição havia ficado na 5ª posição, com 76,12% de aprovados (de 67 alunos, 51 passaram).

O diretor da Faculdade de Direito da UFJF, Marcos Vinicio Chein Feres, credita o bom desempenho a políticas de longo prazo. "Buscamos a mudança da mentalidade no ensino. Os conteúdos não podem ser prontos, devem estimular o estudante a buscar conhecimento. Damos as ferramentas para que ele possa desenvolver suas competências", explica.

Fonte: Terra

O legal em uma entrevista é que falamos até não poder mais e o repórter só usa duas frases.

Coisas do ofício...

Mas vamos a abordagem mais completa dentro do contexto da entrevista, da forma como me foi perguntado:

Há muita variação no ranking de um exame para o outro. Nas últimas duas provas, a UFPB subiu da 17ª para 2ª, a UFV subiu de 11ª para 3ª, a UFES caiu de 1ª para 19ª. As posições mudam, muitas vezes, drasticamente. Como o senhor avalia isso? Pode ser indicado algum motivo para essa variação? O que pode influenciar esse resultado?

Resposta: De fato as variações bruscas de desempenho das faculdades são curiosas e não possuem de plano uma explicação clara ou coerente. Poderíamos colocar como elementos geradores dessas variações a pressão das instituições por um melhor desempenho de seus acadêmicos e uma recente alteração nos percentuais de aprovação nas duas fases do Exame de Ordem.

Há, e isso é inegável, uma competição entre as faculdades de Direito em razão dos resultados publicados pela OAB. Nas redes sociais é perceptível a exaltação de professores e alunos em razão do bom desempenho, como também ações de marketing de instituições privadas aproveitando-se das estatísticas. A "concorrência" neste caso assume um aspecto mais regionalizado. Esse fenômeno é relativamente recente, coisa de 2 ou 3 anos apenas, mas já está maduro o suficiente para provocar reações no mercado.

Recentemente estive no Conselho Federal da OAB acompanhando a entrega do Selo OAB de Qualidade e o bom desempenho na prova foi muito valorizado, tanto por instituições públicas como privadas.

A competição é por prestígio, no caso das públicas, e pelos lucros, no caso das instituições privadas. É muito difícil afastar a conclusão de que todas as instituições, de uma forma ou de outra, estimulem e auxiliem seus alunos no sentido desses se prepararem com mais afinco.

É comum hoje que faculdade se associem a cursos preparatórios, ou mesmo criem os seus próprios, visando treinar seus acadêmicos para enfrentar o desafio do Exame de Ordem. O curioso nisso é que, supostamente, a faculdade já deveria deixar o candidato pronto, mas essa visão deve ser superada, pois os percentuais de reprovação da OAB mostram que a prova tem características específicas e demanda uma preparação à altura.

A pressão pode assumir facetas cíclicas. Em um momento mais intensa, em outro mais tênue considerando todas as instituições, gerando, por fim, essas variações estatísticas.

Por outro lado, os percentuais de aprovação finais do Exame, nas últimas duas edições, passaram por uma mudança. Agora, na última 1ª fase, aproximadamente 46% dos candidatos logram a aprovação, e metade destes conseguiram a aprovação final após superarem a 2ª fase. Antes disso, havia uma variação no grau de dificuldade da prova, ora mais difícil na 1ª fase, ora na 2ª. A média de aprovação final após essa mudança passou de 16% para 24%. Pode parecer pouco, mas em termos de níveis de aprovação históricos é uma grande evolução.

Talvez, e aqui meramente especulo, a alteração no grau de dificuldade da prova, um pouco mais abrandado agora, guarde correlação com essas variações entre uma ou outra instituição, mas a percepção do fenômeno fica bem menos óbvia.

Houve, em sua opinião alguma surpresa no ranking?

Apesar das alternância de desempenho entre as instituições, o ranking é ainda dominado por IES Públicas, e isso não representa nenhuma novidade. Curiosamente, ou não, são estas instituições que possuem os processos seletivos de ingresso mais difíceis e/ou disputados.

No geral houve uma melhora mais ou menos homogênea no desempenho das IES. Temos menos faculdades agora que reprovam mais de 90% dos seus egressos, mas isso pode ser reflexo da leve redução do grau de complexidade da prova.

O exame da OAB notoriamente reprova muitos alunos. O senhor vê alguma mudança nesse sentido?

É difícil dizer que houve uma mudança de fato no Exame apesar da alteração, como já mencionado dos percentuais finais de aprovação.

Precisaríamos de mais duas edições do certamente para apontarmo, com segurança se vivenciaremos uma melhora real e duradoura nos percentuais de aprovação. Hoje podemos dizer que sim, melhorou um pouco, mas não podemos dizer que essa melhora será permanente.

O Exame de Ordem existe desde 1994, mas só foi completamente unificado entre 2009 e 2010, e sob este aspecto ainda é um certame imaturo. Falhas ocorrem e alterações no seu provimento de regência ainda são comuns e recentes. Tecnicamente é uma prova que precisa de uma maior evolução e, mesmo assim, talvez ainda estejamos longe de sua faceta final. O Governo Federal, com seu plano de expansão do ensino superior, pretende ampliar o atual número de universitários, dos aproximadamente 6 milhões hoje para 10 milhões em 2020. Dados do INEP, divulgados no ano passado, mostraram que em 2010 o curso de Direito foi o mais procurado pelos vestibulandos apesar de toda a fama do Exame da OAB.

A pressão gerada pelo número de universitários e pelo estrondoso número de faculdades de Direito no Brasil no mercado (mais de 1200 IES) da advocacia, em uma proporção maior do que o próprio mercado consegue absorver, impacta hoje diretamente na prova e, seguramente, impactará no futuro.

Seguindo esta lógica, o grau de dificuldade do Exame de Ordem e mesmo o seu formato ainda são variáveis em aberto.

O Exame de Ordem não tem alternativa: vai ser sempre difícil! Mais ou menos difícil, mas sempre será.