Evasão na Graduação a Distância vai a 42%. Falta de disciplina é a maior justificativa para as desistências

Sexta, 20 de setembro de 2013

graduação a distÂncia

A evasão nos cursos de ensino superior a distância no país em 2011 atingiu 42%, o que representa um crescimento de 8,1 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Os dados são da pesquisa "Mapa do Ensino Superior" elaborado pelo Semesp, sindicato das instituições de ensino superior privado de São Paulo.

Esse percentual pode ser ainda maior se forem desconsiderados os alunos de pedagogia, que representam 30% dos estudantes de ensino a distância e cuja taxa de desistência é bem baixa. A maior parte deles é professor da rede pública e precisa do diploma para atender a uma exigência do governo.

"Os alunos alegam que o principal motivo da desistência é a falta de disciplina para estudar. Muitos iniciam um curso de EAD [ensino a distância] achando que é fácil, mas não conseguem se adaptar", disse Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp.

Também chama atenção o fato de que em 2010 o índice de evasão nos cursos a distância era de 33,9%, semelhante ao do presencial, que foi de 33,2%. Porém, essa semelhança não se manteve em 2011. Nos cursos em que os alunos frequentam diariamente as salas de aulas, a taxa de desistência foi de 35,9% e na modalidade em que o curso é ministrado pela internet o percentual saltou para 42%.

"É um alerta para os grupos de ensino sobre a metodologia aplicada nesse tipo de curso", disse o diretor do Semesp. Na maior parte desses cursos, as aulas são todas ministradas pela web. Há um modelo em que os alunos vão aos polos uma ou duas vezes por semana. Segundo Capelato, a taxa de evasão neste segundo formato é menor.

O modelo ideal a ser adotado no ensino a distância é um dos maiores debates no setor. A carioca Estácio já adota cursos a distância 100% online. A Anhanguera criou neste segundo semestre um curso neste mesmo formato, que é oferecido em paralelo àqueles em que há aulas uma vez por semana nos polos. Já na Kroton, o maior grupo do setor, há aulas presenciais duas vezes por semana.

O diretor do Semesp defende o modelo pedagógico adotado nos Estados Unidos. Lá os cursos são oferecidos tanto no formato presencial quanto a distância. O aluno pode, por exemplo, assistir a algumas aulas a distância e a outras na sala de aula. (BK)

Fonte: Gestão Educacional

Eu não tenho a menor dúvida de que o ensino pela internet será preponderante como modelo educacional em um lapso de tempo razoável, talvez em 5 ou, no máximo 10 anos. É o sistema mais barato, pois prescinde de grandes infraestruturas, com prédios, bibliotecas (serão todas digitais), funcionários etc. E, claro, em uma sala presencial tem-se um professor e 50 aluno, e no ensino a distância tem-se um professor e mil, dois mil alunos. É outra realidade.

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Mas colocando as facilidades de lado, o sistema esbarra em um fator complicado de gerir: a cultura. Essa alta desistência é, nada mais, nada menos do que um traço cultural, um elemento de nossa própria sociedade: falta de disciplina nos estudos.

Não por acaso, como elementos paralelos que comprovam meu ponto de vista, nós preferimos gastar mais com roupas do que com educação - Classe C gasta mais com vestuário que com educação dos filhos - ou mesmo a quase ausência do hábito de leitura dentro da própria graduação - Universitários brasileiros leem apenas de 1 a 4 livros por ano - ambos reflexos da pouca importância dada aos estudos.

Claro, para fechar essa conclusão, temos o pior dos dados - No Brasil, 38% dos universitários são analfabetos funcionais - demonstrando que os problemas no ensino são resultado da falta cênica de investimentos e também, em especial, uma falta de preocupação do próprio conjunto da população com o tema.

Isso, meus caros, é um traço cultural.

Assim sendo, a taxa de evasão, altíssima, impacta de forma tão severa no ensino a distância. A disciplina é filha do interesse e da dedicação. Sem isso, este modelo de ensino tende a enfrentar dificuldades.

Aqui uma comparação interessante: O próprio Portal Exame de Ordem, e o CERS, são sistemas de ensino 100% a distância, e, apesar do pouco tempo de existência, sõa modelos de sucesso na educação via web, em pleno e amplo crescimento. Voltado para o Exame de Ordem e para concursos públicos, ambos conseguem um público significativo do mercado e este público demonstra muito interesse no modelo de ensino.

Qual a diferença?

Quem estuda para concurso ou o Exame tem um objetivo muito claro, e sabe das dificuldades a serem enfrentadas, como uma prova muito difícil, como o Exame da OAB, ou a concorrência feroz no campo dos concursos: estudar é a UNICA opção, e o estudo online e suas facilidades são vistos como uma vantagem neste processo.

Este é um case em específico.

Já a graduação é diferente, o clima é diferente e os objetivo também o são. O objetivo é o de se formar, e o esforço para tanto, diluído ao longo de 4 ou 5 anos é bem menor, considerado etapa por etapa.

Ademais, a graduação a distância priva o estudante (ainda em formação!) do contato com os colegas e professores, e isso também, certamente, contribui para a alta evasão verificada no estudo.

A internet ajuda, e muito. Mais do que ajudar, ela é revolucionária e mudou muito o mundo nos últimos 20 anos, mas por si só não é a solução para todo e qualquer problema, em especial na área da educação.

Vivemos uma era de MOOC"s (Curso Online Aberto e em massa, do inglês Massive Open Online Course (MOOC)) com as grandes faculdades de todo o mundo disponibilizando as aulas de seus melhores professores GRATUITAMENTE na rede, em um processo de transferência de conhecimento sem precedentes na história, mas que pode não ser integralmente aproveitado por todo o conjunto dos universitários brasileiros EXATAMENTE por problemas de ordem cultural.

A solução, obviamente, está na base, no ensino fundamental, e em políticas públicas educacionais eficientes. Logo, por corolário lógico, a solução para esta nova fronteira educacional levaria algum tempo para ser implementada CASO o Estado brasileiro acorde para a realidade e implemente uma política educacional consistente.

Nesta semana o MEC publicou os dados preliminares da graduação no Brasil no ano de 2012 - Censo da Educação Superior 2012: Direito tem o 2º maior contingente de alunos no ensino superior - e a expansão verificada tem efeitos estritamente quantitativos.

Não tenho a menor dúvida dos sérios problemas mascarados por esses dados, em especial do ingresso nas faculdades de estudantes despreparados, mal-formados e em muitos casos desinteressados.

Mais um exemplo? Faculdades ensinam até tabuada para aluno poder acompanhar a graduação

O sistema hoje, paradoxalmente, é includente, mas inclui para justificar a si mesmo, e não para educar de fato.

Justificar a si mesmo nada mais é do que garantir aos grupos educacionais o LUCRO às custas de financiamentos fáceis e descomplicados (vide FIES) e universitários com uma péssima bagagem educacional.

Todo problema tem uma explicação, inclusive a alta evasão na graduação a distância.

Só não vê quem não quer.