Sexta, 15 de fevereiro de 2013
Recebi o depoimento abaixo via Facebook e, por questões óbvias, não identificarei a autora.
Leiam o relato dela:
"Olá Maurício!
Vou te contar minha história, não deu pra mandar foto. Eu ia mandar a foto de um ônibus que sai no carnaval da minha cidade, com o único objetivo de humilhar as pessoas, de fazerem os outros rirem da desgraça alheia.
Pois é, por eu não ter passado na OAB, escreveram a seguinte frase pra mim EU QUERO SER ARDVOGADA. Quem escreveu não sabe o que eu passei pra estudar, trabalhava o dia todo, estudava com dificuldade, eu e minha família comendo o que dava pra comer, vestindo o que dava pra vestir, passei de um tudo sozinha pra ter meu diploma e ser bacharel em Direito.
Mas porque zoarem tanto alguém por isso? Sempre fui a melhor aluna da faculdade, fiz a prova e me faltaram nove décimos na segunda etapa.
E estou sendo humilhada por ser bacharel.
Porque fazem de tudo pra diminuir quem é bacharel? É crime o ser? É vergonhoso? Trabalhei muito pra pagar minha faculdade, estudava de madrugada. Pra cursinho também, vários meses sobre os cadernos, livros. Não sou burra. Apenas não consigo vencer essa prova. Por enquanto.
É triste ser bacharel. É horrível. Sacrifiquei minha família pra estudar e hoje sou humilhada por ter um diploma. Estou arrasada. Acho que vou desistir. Já tentei de tudo, vários cursos caros e nada. O que eu faço com esse diploma agora? O quê?"
Bem-vinda ao mundo!
Pois é assim mesmo que as coisas são.
Quer ter reconhecimento? Apareça!
Quer respeito? Tenha uma posição de relevância!
Quer ser lembrado? Tenha gente que dependa de você.
Por que rir de um pessoa que está passando uma dificuldade? Tem um ditado que revela bem o âmago das pessoas: "pimenta nos olhos dos outros é refresco". Bem verdade...
Nós vivemos em uma sociedade de competição. Lembro-me uma vez que viajei pelo Rio Grande do Norte, estava indo para uma praia mais distante, e achei curioso ver várias faixas com os nomes completos de aprovados nos vestibulares locais. "Parabéns fulano por ter sido aprovado na faculdade tal em medicina" era o que dizia uma entre várias faixas. O taxista me falou que se tratava de uma espécie de "disputa" de prestígio" entre as famílias. Pensei no impacto disso em quem havia feito o vestibular mas não conseguiu a aprovação. Deve ter um gosto amargo não pode confeccionar a própria faixa.
No interior de São Paulo mora uma menina que é massacrada pelos pais porque não conseguiu passar ainda no Exame de Ordem. "Filho de fulano é isso, filha de ciclano conseguiu tal coisa" dizem seus pais, insatisfeitos com o fracasso temporário dela e absolutamente insensíveis com a situação. A pressão é imensa.
E, de tanto estudar, ela conseguiu passar na 1ª fase do IX Exame (que foi uma prova dificílima) e agora está quase neurótica com a 2ª fase, desesperada em passar de qualquer jeito e com o emocional em frangalhos.
O primeiro pensamento que surgiu na minha cabeça quando passei a acompanhar o drama desta menina foi: "que pais idiotas!". Mas depois pensei em como seria o círculo de relacionamentos deles, o ambiente social, as pressões sociais. Na cabeça deles o sucesso dela é uma necessidade por conta de um ambiente social em específico, e a pressão sobre a filha nada mais é do que o resultado de uma cultura familiar ou local de competição.
Na timeline do meu Facebook vejo quase todo dia fotos de cerimônias de colação de grau. Várias e várias fotos de alegria. É um momento importante e que deve ser comemorado, mas no Direito, ser bacharel é algo que só pode durar alguns meses.
Pois se não passar no Exame de Ordem....
O bacharel em Direito virtualmente não pode fazer nada. Não pode prestar consultoria jurídica, não pode assinar peças, não pode, em suma, advogar. Quando muito, viram "boys" de luxo, algo um pouco mais sofisticado do que um estagiário.
E dentro do ambiente profissional, se um bacharel não passa no Exame após algumas tentativas, a estigmatização vem, e vem forte. Lembro de uma conversa que ouvi uma vez em um restaurante daqui de Brasília: "Não passar na prova na 1ª vez não tem problema, na 2ª fica complicado e na 3ª não vai dar para segurar."
Essa é a realidade.
Há exceções, óbvio, mas em regra, entre quem não se conhece ou não tem lá grandes afinidades, um pequeno prazer mórbido pelo insucesso alheio aflora.
A história desse ônibus é emblemática! Aproveitam um momento específico do ano para fazer um humor um tanto quanto cruel. Afinal, como escrevi acima, pimenta nos olhos dos outros é refresco, e, por que não, motivo de zombarias.
Sim! É indiferente se você passa ou passou por dificuldades, se você é esforçada e se seu sonho é muito maior do que o sonho de quem não precisa bater um prego em uma barra de sabão para poder vencer na vida.
Está na dificuldade? Só terá reconhecimento e admiração se VENCER na vida. "Ah, saiu de baixo e chegou aqui! Que linda história de superação!!". Experimente sair de baixo, tentar subir na vida e tropeçar pelo caminho. A resposta dos outros não será nem um pouco amigável.
Muito pouco amigável...
Triste, mas é assim.
E faz o quê? Como vencer isso?
Só tem um jeito: endureça o seu coração!
Não espere compreensão, não espere tolerância, não espere respeito.
Não espere nada.
E não espere porque isso não deve ser importante para você.
"Ah mas eu vivo em sociedade!"
Todos nós vivemos, e é por isso mesmo que o coração deve ser endurecido, pois os outros, membros da tal sociedade, são os responsáveis pelas pedradas.
Crie uma casca para suportá-las.
Crie essa casca, escolha seu alvo e vá em frente. A alternativa a isso é o fracasso e o sofrimento.
Você foi boa aluna, passou por dificuldades. Não tinha direito o que comer, o que vestir. Não são razões boas o suficiente para você ter muita, mas muita vontade de mudar de vida? De superar o próprio passado? De ansiar por um futuro melhor?
São sim!
Reprovou? Estude mais! Reprovou de novo? Estude mais ainda, identifique as limitações, aprenda com os erros, tente outra vez!
O antes da prova, o depois e a metodologia de estudo
Como implementar e cumprir com um projeto de estudo de longo prazo
Guia de Preparação e Cronograma de Estudos para a 1ª fase do X Exame de Ordem
Endureça seu coração e lute pelo o que você acredita. Não espere por flores, compreensão e tolerância. Elas até podem aparecer, mas o contrário é o mais provável.
Se o ambiente é hostil, busque adaptação. Trata-se de uma regra de sobrevivência. E você, que já chegou no estágio da indignação, não está muito longe de criar sua própria carapaça e fazer frente às injustiças do mundo.
Nessas horas lembro-me de uma poesia bem conhecida, de Augusto dos Anjos. Afinal, este drama não é só seu e não é só da nossa época: ele é universal!
Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera - Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!
É difícil, quase sempre é, mas o desafio é possível, pode ser vencido. Creia nisso, adote uma postura de VENCEDOR (ou seja, enfrente a realidade sem maiores contemplações) e siga em frente.
Não há alternativa!