"Estudar mais e reclamar menos", é essa a solução? Uma visão sobre a realidade das reprovações no Exame de Ordem

Terça, 13 de agosto de 2013

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O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil na Paraíba, Odom Bezerra afirmou nesta terça-feira (13) que um dos grandes problemas para o baixo desempenho dos alunos do curso de Direito no exame da Ordem na Paraíba e no Brasil é o numero exorbitante de cursos da graduação em Direito em todo o país.

Odom disse ainda que no caso especifico da Paraíba, a Ordem se reuniu com um representante do Conselho Federal para discutir a qualidade do ensino jurídico no estado:

?Esse é o primeiro ponto. Nós inclusive estivemos discutindo isso na Ordem dos Advogados. sexta-feira retrasada nós tivemos a presença de um conselheiro federal discutindo a qualidade do ensino jurídico de nosso estado. Dessa reunião, nós vamos retirar todas as informações prestadas e iremos levar ao Conselho Federal que por sua vez conversará com o Ministério da Educação. Então nós precisamos trabalhar cada vez mais por uma melhor qualificação das instituições. Nós não podemos ter unicamente empresas de ensino que se preocupe somente com o mercantilismo. Ela tem que se preocupar com a qualidade de ensino?, disse.

O presidente da OAB disse ainda que não cabe a Ordem dos Advogados a fiscalização com relação a qualidade dos cursos de Direito no Brasil pois é o Ministério da Educação que deve fazer essa fiscalização, e afirmou também que os alunos não deveriam questionar o nível da prova, e sim estudarem mais:

?Não cabe a Ordem dos Advogados do Brasil fazer a fiscalização pois nós já instituímos o exame de ordem. O problema não é só na Paraíba, mas no Brasil todo. O índice de aprovação é muito baixo, e não adianta dizer que a prova é difícil, que a prova é igual a concurso pra juiz, porque aonde está a diferença entre advogado e juiz na questão do saber? Nós somos iguais. Então temos que ter provas iguais também. A prova não é difícil,o que temos que fazer é melhorar a qualidade e os alunos estudarem também?, finalizou.

Fonte: PBAgora

Discordo parcialmente da visão do presidente da OAB/PB. A "culpa" não é exclusiva das faculdades, como também não pode ser integralmente creditada aos candidatos.

Não existe uma única causa responsável pela reprovação no Exame de Ordem. Há muito tenho a percepção de que as causa de reprovação são multifatoriais, e não são excludentes entre si. Isso compõe um quadro relativamente complexo e, infelizmente, sujeito a visões que visam explicar o problema da forma mais assimilável.

Existem bacharéis em Direito que são analfabetos funcionais? Sim, eles existem e eu comprovei isso pessoalmente ao analisar provas subjetivas de candidatos reprovados. Candidatos que não compreendem um problema e não conseguem colocar no papel uma ideia com começo, meio e fim.

O ensino jurídico fraco ajuda a reprovar? Com certeza! Talvez inclusive seja a causa preponderante de reprovações! Mais preocupante ainda é que a grande maioria dessas faculdades aplicam vestibulares risíveis e não reprovam nenhum acadêmico. Aliás, hoje, tentem reprovar um universitário para ver o que acontece. Estudante hoje (sem generalizar, claro!) é CONSUMIDOR e não ALUNO. Não se reprova consumidores! O estelionato educacional não é uma figura retórica: é uma realidade.

Existem candidatos que levam a faculdade nas coxas? Com certeza! Muitos travam com sua instituição um verdadeiro pacto de mediocridade: "eu finjo que ensino, você finge que aprende, e no final do curso eu te dou um diploma". No Exame de Ordem a grande maioria das faculdades não conseguem aprovar nem 5% de seus egressos.

Por outro lado, MUITOS, MUITOS, MUITOS alunos interessados e estudiosos têm somente como paradigma de aprendizagem a sua faculdade medíocre, pagam por isso achando que estão aprendendo e ao fim de tudo descobrem que foram ludibriados porque o sistema (o Exame) lhes revela finalmente a verdade: sua faculdade não valia nada!! São VÍTIMAS dessas faculdades e da precariedade da fiscalização do MEC.

A OAB e a FGV cometem injustiças com os candidatos? Eu acompanho de perto o Exame de Ordem desde a prova 2007.3 e não me lembro de NENHUM Exame que uma injustiça ou um critério de correção equivocado não tenha derrubado quem merecia passar. Mais do que isso, me lembro de MUITOS Exames cujas provas foram pensadas com o fito de derrubar de forma ostensiva os candidatos.

Preciso dar detalhes sobre o X Exame de Ordem, por exemplo? Não preciso falar nada, não é?

Critérios de correção errôneos, falta de atribuição de pontos, provas extensas e desproporcionais, repetição de questões de provas anteriores, padrões de resposta equivocados, enunciados lacunosos,  intervenções do MPF e mais um longo et cetera marcaram praticamente todas as edições do Exame de Ordem desde o tempo do Cespe, e em especial a gestão da FGV.

No resto, podemos contabilizar os peguinhas do tempo do Cespe em todas as provas objetivas, ou os enunciados para lá de extensos agora concebidos pela FGV, para reprovar o maior número possível de inscritos, sem contar a média por Exame de 8 a 10 questões passíveis de anulação por conta de problemas em seus enunciados ou alternativas.

Existem candidatos preparados e estudiosos que sucumbem ao emocional? Aos MONTES! Essa certamente uma causa relevante a contribuir com muitas reprovações. Apesar da advocacia ser uma profissão que lida com antagonismos e enfrentamentos diários (de forma civilizada), onde a a timidez não pode ter espaço, quem está saindo da faculdade ainda está verde, independente da idade, para lidar com esse tipo de situação. É natural sentir a pressão.

Aliás, lidar com a pressão da família e da sociedade (colegas de emprego, amigos e conhecidos) já foi alvo de várias postagens minhas. E foi alvo porque isso é REAL, isso ATRAPALHA DE VERDADE muita gente. Não é lenda e não é frescura: a maioria dos candidatos sentem a pressão, e boa parte sucumbe diante dela.

80% dos candidatos em um exame já reprovaram ao menos uma vez. As duas últimas provas reprovaram 85% dos inscritos. Quem não fica com medo? A minoria, por certo.

Existem pessoas inteligentes e capazes que simplesmente não conseguem se encaixar com a prova? Existe sim. Aliás, essa é uma das coisas mais curiosas em torno do Exame: gente inteligente, articulada, preparada que simplesmente não consegue passar. Como, se são inteligentes, articuladas etc e tal? Eu não sei, mas acontece! E falo com conhecimento empírico, por acompanhar ex-colegas de faculdade e pessoas cuja capacidade eu não duvido, além de Deus sabe quantos depoimentos de pessoas que recebi ao longo de 3 anos do Blog Exame de Ordem, já formadas, com mais um uma faculdade, articuladas, até mesmo adultos na maturidade e com grandes responsabilidades, as vezes até mesmo bem sucedidos na vida, que não passam na prova!!

Eu não saberia explicar, mas tem gente assim, e não são poucos!

Existem hoje, por baixo (estimativas da OAB), 2 milhões de bacharéis em Direto que não passaram na prova. Por que então não temos 2 milhões de inscritos no Exame? Não temos pois eles já desistiram de passar, foram vencidos após amargar várias reprovações.

PAGARAM para ter um diploma e sonhar com o exercício da advocacia, mas ao fim sucumbiram diante da realidade. É um exemplo muito perverso de concentração de riqueza: pagam 5 anos de faculdade, 5 anos de seu tempo, e ao fim só têm um canudo inútil na mão.

Isso é um problema social largamente ignorado.

É um verdadeiro escândalo! Escândalo silencioso, ignorado e, aparentemente, incapaz de comover a sociedade.

Infelizmente quem reprova tem de lidar com um processo de ESTIGMATIZAÇÃO.

Infelizmente quem reprova tem de ouvir um "você precisa estudar mais".

De toda forma, é importante que cada candidato tenha em mente essa realidade e reaja deforma correta a ela, seja lutando contra injustiças, seja blindando o emocional e projetando soluções práticas para seus próprios problemas sem se deixar afetar pela pressão do sistema sobre sua própria capacidade.