Estudar é internalizar informações?

Terça, 27 de setembro de 2011

Em certa ocasião, enquanto assistia uma aula, ouvi o professor afirmar que para aprender a matéria era preciso fazer muitos exercícios, de modo a ?internalizar? o objeto de conhecimento abordado. A convicção e ênfase com a qual a colocação foi realizada me chamaram a atenção. Fiquei totalmente convencido e sensibilizado, principalmente por conta da expressão ?internalizar?. Inclusive o professor fazia um movimento com uma das mãos fechada, como se estivesse empurrando algo.

E um detalhe interessante é que se tratava de uma matéria inerente ao campo das ciências exatas, a qual exigia, de fato, estratégias operatórias como a realização de exercícios.

Me convenci, ao menos naquele momento, de que aprender significava internalizar alguma coisa na minha cabeça. E internalizar com força, beirando à agressividade. Porém, por outro lado, tambémfiquei um pouco assustado, pois havia ali uma idéia agressiva e invasiva, do tipo, ?tenho que inserir forçadamente alguma coisa na minha cabeça?, como um movimento centrípeto.

Ao avançar na compreensão adequada dos fenômenos cognitivos, hoje tenho a clareza de que há um grande equívoco e impropriedade na referida colocação.

Podemos até trabalhar com a mencionada idéia num plano bem metafórico. No entanto, tenho dúvidas se essa seria uma boa visão do processo de aprendizagem.

É bem verdade que existem várias construções, teorias, modelos e filosofias para explicar o complexo fenômeno da aprendizagem humana, sendo que estas várias concepções são estruturadas a partir de distintas premissas paradigmáticas. Aliás, apesar destas inúmeras construções, infelizmente, no universo dos concursos públicos o tema geralmente é tratado de forma puramente intuitiva e empirista.

Mas o fato é que analisando a mencionada colocação do professor, na realidade, a expressão internalização não seria a mais adequada. A colocação mais adequada seria reforço de padrões neurais!

Como assim e qual a importância disto?

Não obstante as várias concepções sobre os fenômenos cognitivos, considerando o processo ora abordado, existem dois fatores importantes para a consolidação de memórias, principalmente as de longo prazo.

Por um lado, as nossas estruturas neuro-cognitivas trabalham com uma lógica de que aquilo que é relevante é mantido e o irrelevante é descartado, sendo que aquilo que é objeto de contato reiterado, ou seja, repetido, é considerado relevante.

Vale lembrar que memórias são padrões de comunicações entre neurônios, por meio da atuação de neurotransmissores. Ou seja, memória consiste num determinado padrão neural.

Considerando estas duas premissas, a repetição consiste em mecanismo de reforço deste padrão neural(clique aqui para ler o texto Basta assistir aulas para passar?).

Pense num conceito que você tem disponível intelectualmente com muita facilidade. Se faz algum tempo que está na trajetória de estudos para o concurso público, provavelmente é o caso do art. 37 da Constituição Federal (princípios constitucionais da Administração Pública). Quantas vezes você já teve contato com esta informação? Qual o nível de reforço do padrão de conexão neural correspondente ao armazenamento desta informação?

Outro aspecto relevante consiste na lógica associativa da memória. Ao evocarmos determinada informação que foi memorizada, mesmo ao tomarmos contato com uma nova informação que se relaciona a outra já memorizada, o padrão de conexão anterior é acionado, o que contribui com este reforço da conexão. (clique aqui para ler Estratégia de Aprendizagem e Memória Associativa).

Portanto, fique tranqüilo, pois você não precisa, invasivamente e de forma agressiva, empurrar nada para dentro da sua cabeça!

A presente compreensão é importante inclusive no sentido de se tomar consciência e entender o processo de aprendizagem e formação de memórias. Até mesmo para o estabelecimento de suas próprias estratégias de estudo, mas baseada em premissas verdadeiras.

Outro aspecto relevante consiste na neutralização da carga negativa que pode ser percebida, ainda que de forma inconsciente, adotando a visão da ?internalização?.

E isto é importante inclusive para se trabalhar o prazer em aprender. Dificilmente conseguiremos buscar prazer e satisfação naquilo que traz uma idéia de agressividade (clique aqui para lerPreparação para Concursos e Prazer em Aprender).

Assim, para passar em concursos públicos ou exames não é preciso fazer uma incisão na sua cabeça e introduzir, de forma invasiva e agressiva, absolutamente nada. Basta, com tranqüilidade e, se possível, de forma natural e prazerosa, reforçar padrões de conexões entre neurônios.

Fonte: Blog Tuctor 

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