Terça, 8 de maio de 2012
Uma turma inteira na China foi fotografada recentemente estudando para o Gaokao - uma espécie de vestibular nacional no país - com uma ajuda bizarra: todos eles tinham diretamente na corrente sanguínea uma solução com aminoácidos, pendurada no teto. O objetivo era ficar acordado até tarde e poder estudar mais para as provas.
A foto foi amplamente difundida na web, gerando horror no Ocidente. Blogs chineses, entretanto, dizem que a cena não pode ser criticada por quem não vive a pressão do Gaokao.
Fonte: Page Not Found
A sequência de imagens acima é simplesmente chocante! Já ouvi muitas histórias sobre o uso inadequado da Ritalina - Drogas dos Concurseiros: Uma Ilusão de Eficiência Cognitiva! - e suas consequências deletérias no organismo, mas o uso de aminoácidos ou sei-lá mais o que desta forma é inaudito.
Claro que há o componente cultural e todas as suas facetas. Imagem mostra um uso desse "método" de forma ampla e com um aspecto, aparente, de natural aceitação, ficando difícil estabelecer uma crítica a priori do quadro.
Mas, de toda forma, não deixa de ser chocante e ao mesmo tempo revelador da pressão a que esses candidatos devem ser submetidos para passarem pelo vestibular deles, o gaokao.
Vejam o texto abaixo sobre a pressão de se submeter ao gaokao, o maior vestibular do mundo:
""O maior vestibular do mundo
A estudante Chen Ling Long, de 18 anos, fez parte do batalhão de 10,2 milhões de chineses que prestou em junho o exame nacional de admissão nas universidades, o maior vestibular do mundo. Chen e outros 6,3 milhões de aprovados se juntaram a uma população universitária que cresce a taxas recordes desde o fim da década de 90. "Você nunca esquece a sua pontuação", disse Chen ao Estadão.edu no refeitório da Universidade de Esportes de Pequim, onde cursa o 1º ano de Inglês.
Chamado de gaokao, o vestibular é visto pelos candidatos como um momento crucial, capaz de definir o sucesso no ultracompetitivo mercado de trabalho chinês. A aprovação no exame é um dos mais fortes símbolos de status social em um país que tem uma milenar tradição de valorização do estudo e da figura do intelectual. Dirigentes de vilas rurais que têm moradores aprovados no gaokao fazem questão de divulgar a informação aos visitantes.
O exame nacional é realizado nas mesmas datas, 7 e 8 de junho - em algumas regiões, também no dia 9 - e mobiliza a sociedade chinesa. Há um espírito coletivo de apoio aos candidatos. Em várias cidades, eles têm transporte público gratuito nos dias de prova e muitos taxistas trabalham como voluntários para transportar estudantes de graça. Alunos que esquecem documentos são levados de volta à casa em carros da polícia com sirenes ligadas, para retornar a tempo de realizar o exame.
Como virtualmente todos os inscritos no gaokao, Chen Long sabe de cor sua nota, 591 pontos em 750 possíveis. O resultado não foi suficiente para ela ser admitida na instituição de preferência, o Instituto de Tecnologia de Xangai, mas permitiu que ela entrasse na Universidade de Esportes de Pequim, a número 2 da sua lista. Isso ocorreu porque o exame divide as universidades, das de elite às de menor prestígio. O candidato pode escolher em ordem decrescente um número limitado de instituições e cursos de sua preferência em cada um desses níveis, aos quais terá acesso se atingir a nota de corte exigida.
Apesar de seu caráter nacional, o vestibular chinês não tem, desde 2003, provas idênticas em todo o território. Dezesseis regiões, de um total de 32, elaboram seus próprios testes, seguindo orientações dadas pelo Ministério da Educação. Chen, por exemplo, fez o teste em sua província de origem, Fujian, mas podia se candidatar a qualquer universidade do país, como todos os demais estudantes.
Os responsáveis pela elaboração dos testes ficam isolados durante um mês antes da realização do gaokao e estão sujeitos a pena de 7 anos de prisão caso revelem o conteúdo da prova a algum candidato ou a terceiros. Estudantes pegos colando no gaokao ficam proibidos de fazer o exame por um período de 1 a 3 anos. As autoridades também registram o fato no prontuário do vestibulando, que o acompanhará por toda a vida.
Outra característica do ensino superior chinês é a cobrança de mensalidades, mesmo em instituições públicas. A família de Chen paga anuidade de US$ 880 na Universidade de Esportes de Pequim, mais US$ 132 pelo dormitório, dividido entre seis alunos. Os pais de He Yang pagam 30 mil yuans por ano, o equivalente a US$ 4,4 mil, valor que supera a renda per capita do país. No International College, os professores do curso de Comunicação são estrangeiros e as aulas, ministradas em inglês. Os estudantes ficarão dois anos na China e completarão o curso na Universidade de Bedfordshire, Inglaterra, onde terão a opção de permanecer mais um ano para o mestrado. O ano na Inglaterra custará à família de He Yang US$ 29,4 mil.""
Fonte: Estadão
O texto é revelador quanto ao aspecto da pressão social. A imagem, repito, é chocante, mas dentro desse contexto e para a cultura dos chineses, somado com a valorização do gaokao, parece que faz sentido. Um sinistro sentido...
Interessante ver também a elitização das faculdades (Alô? Selo OAB?) e a necessidade dos candidatos em definirem tão cedo o próprio futuro. Faceta do país que em uma década desbancará os Estados Unidos como maior economia do mundo.
Neste caso, para os estudantes chineses, o fim justifica os meios.
Lá é na veia!!