Estudando para a 1ª fase da OAB: esgotar uma disciplina de uma vez ou estudá-la por etapas?

Quarta, 8 de janeiro de 2014

foto (3) Na última segunda publiquei o nosso Guia de preparação e cronograma de estudos para a 1ª fase do XIII Exame de Ordem e uma dúvida interessante surgiu entre alguns candidatos: porque o conteúdo das disciplinas foi apresentado de forma intercalada? Por que não se poderia esgotar disciplina por disciplina? O professor Rogério Neiva, para mim o maior especialista em Concursos Públicos hoje, escreveu há algum tempo atrás um texto muito bacana sobre a metodologia adequada de estudo para concursos ou exames: estudar uma disciplina até esgotá-la ou intercalar os estudos entre as diversas disciplinas.

Vou publicar agora  um trecho da visão dele sobre esta questão:

"Desde já saliento que considero o mais adequado estudar várias matérias ao mesmo tempo. E para tanto levo em conta alguns fundamentos.

O primeiro argumento é muito simples. Considero que estudar de forma modular, ou seja, estudar uma única matéria de modo a esgotá-la, para em seguida passar para outra, tende a ser mais chato do que variar as matérias ao longo da semana.

Inclusive acredito que isto impacta na concentração, pois o novo, que seria a matéria distinta, em função da variação, pode ter uma influência em termos dopaminérgicos, ou seja, liberação de dopamina. E dopamina consiste num neurotransmissor importante para o mecanismo atencional.

É bem verdade que é possível que, estudando apenas uma única matéria por vez, e avançando no domínio desta, possamos nos empolgar e nos evolver mais. Porém, aí entra a lógica da subjetividade, ou seja, levar em conta que ?cada um é cada um?. Esta compreensão, inclusive, nos faz questionar as abordagens achistas-universalizantes dos ?especialistas? em preparação para concursos sem especialização.

O segundo argumento envolve a lógica da neuroplasticidade. Segundo este conceito, quanto mais o nosso cérebro é demandado, mais tem capacidade de dar respostas. Assim, considero que estudar matérias diferentes ao mesmo tempo implica em proporcionar estímulos diferentes às nossas estruturas cognitivas.

Além disto, considerando que construir memórias significa criar redes neurais, ao estudar matérias distintas, tendemos a estar transformando os conceitos correspondentes em novas redes neurais distintas.

Um último argumento importante é que ao estudar todas as matérias ao mesmo tempo podemos avançar de forma equilibrada, inclusive de modo a fechar todas as matérias do o programa do edital ao mesmo tempo. Se o candidato usa o Sistema Tuctor e segue o que o software sugere, com toda a certeza matemática ele irá terminar numa mesma semana todas as matérias do programa.

Inclusive este modelo também contribui com o desenvolvimento de uma visão sistêmica do conteúdo do edital, o que é importante nas provas.

Portanto, considero que o estudo de todas as matérias ao mesmo tempo é melhor que o estudo seqüenciado. Estudar todas as matérias ao mesmo tempo significa adotar um modelo de grade simultâneo-concomitante, sendo que estudar de forma sequenciada consiste no modelo de grade sucessiva-modular."

Fonte: Blog do professor Rogério Neiva

Um ponto importante da abordagem dele, apesar das respostas técnicas, está exatamente na SUBJETIVIDADE, ou seja, as características do estudante determinam de forma preponderante como ele vai reagir a uma determinada metodologia de estudo.

Por exemplo: quando eu passei no Exame de Ordem usei a metodologia do estudo integral, ou seja, eu esgotava disciplina por disciplina. À época não fiz cursinho para a 1ª fase, então pegava meus livros de resumo jurídico, lia tudo, fazia minhas anotações e depois resolvia dezenas de questões de provas anteriores. Na minimo umas 100 ligadas àquela disciplina.

Intelectualmente, para mim, era mais confortável estudar assim. Havia um sentido de unidade e coerência com o que era estudado. Meu único erro, à época, era o de não fazer um resumo consistente (o resumo do resumo, no caso) e não dedicar os finais de semanas para revisões.

De uma forma ou de outra, tirei 54 pontos na 1ª fase (a prova tinha então 100 questões), o que resolveu a minha vida (em Exame de Ordem, metade é 100%).

Esse foi o meu perfil de estudo, e deu certo.

Vamos considerar alguns detalhes da natureza do Exame de Ordem para justificar o estudo disciplina por disciplina:

1 - A prova não é interdisciplinar. Cada disciplina é abordada individualmente;

2 - O conteúdo da prova é dogmático, ou seja, preponderantemente reprodução do texto legal. Não de forma literal, diga-se de passagem, mas com alterações na redação dos enunciados ou a inclusão de pequenas histórias para dar um sentido prático ao problema.

Tal tipo de abordagem é estudada de forma mais completa com um curso ou com a leitura de uma doutrina específica.

3 - O volume de doutrina a estudar é menor do que a de qualquer outro concurso público. Uma olhada não muito atenta ao material didático voltado para o Exame de Ordem evidencia essa assertiva. As doutrinas são grandes resumos, sem maiores aprofundamentos. Pode parecer uma abordagem rasa, mas ela decorre da própria lógica da prova. O mercado oferece o que é adequado. Concursos mais complexos demandam um maior volume de estudos, mais tempo e mais dedicação.

Em média, os examinandos começam a se preparar com 3 ou 4 meses de antecedência, algo impensável para qualquer concurso público. O fator concorrência é determinante neste sentido.

Se estivéssemos falando do estudo para um concurso, sequer se cogitaria sugerir o estudo completo disciplina por disciplina, pois o volume de contéudo seria grande demais para ser esgotado de uma vez só.

Dessa forma, imaginar o estudo estanque no Exame de Ordem, dadas suas particularidades, faz sentido, pois a mecânica da prova permite.

Entretanto, no nosso o nosso Guia de preparação e cronograma de estudos para a 1ª fase do XIII Exame de Ordem foi feia a opção de apresentar o estudo por alternância de disciplinas, por acharmos que ele também é apropriado como também é mais adequado com o a disponibilização das aulas.

Ademais, essa metodologia, ao longo do processo de preparação, permite não só que um estudante tenha uma visão ampla do Direito, visto como um todo e apenas separado por razões metodológicas, como também visa evitar a saturação no estudo continuado em um só tema, o que pode implicar em uma redução na capacidade de apreensão do conteúdo (exatamente como apontou o Dr. Rogério Neiva em seu recente texto), a DEPENDER das características do estudante.

O gosto do próprio estudante deve prevalecer! Afinal, estudar não é uma ciência exata: cada indivíduo tem sua própria forma de absorver o conteúdo.

Ademais, o estudo disciplina por disciplina prescinde de um cronograma: afinal, não seria necessário fazer um se o candidato resolve estudar uma disciplina por vez.

A pergunta essencial a ser respondida por quem vai estudar é: qual método propicia a melhor formação da memória profunda? Ou seja, qual método de estudo é o melhor e fixa de forma mais adequada o conteúdo na cabeça.

Esse é o ponto!

O processo em si exige a alimentação, ou tomar contato com o conteúdo, entendê-lo, que é o processo de assimilação, estabelecer a fixação do conteúdo, que é a retroalimentação (releitura, resolução de exercícios) para reforçar o processo de assimilação.

Este é um tema cuja abordagem é muito mais ampla, pois envolve, por exemplo, a criação de microciclos de estudos, fragmentação de conteúdo, estruturação da carga de disciplina e mais uma longa abordagem.

De toda forma, sim, o estudo até o esgotamento da disciplina, no caso do Exame de Ordem, pode ser adotado. O importante é ter a consciência de que a metodologia usada, seja ela qual for, está sendo eficiente. E eficiência pode ser medida de forma prática. Após umas 2 semanas do estudo de determinada matéria, tente resolver uma série de exercício vinculados a ela. Se o desempenho for bom, satisfatório, sua metodologia é eficiente. Do contrário, a forma de estudar precisa ser repensada.

Com a adoção da metodologia correta, as probabilidades de sucesso aumentam drasticamente.