Estratégia de estudo para o Exame de Ordem: delimitando virtudes, deficiências e estabelecendo prioridades

Quinta, 10 de janeiro de 2013

Como conseguir acertar 50% da prova objetiva da OAB?

Perguntinha mágica, básica e fundamental.

A pedra angular, o Alfa e o Ômega, o Santo Graal do examinando!

Em internetês: #ComoFaz?

Pois é...como faz?

A resposta imediata e óbvia é uma só: senta a bunda na cadeira e estuda. Bem....se fosse simples assim a reprovação seria exceção e não regra!

"Sentar a bunda na cadeira" é uma ideia condensada de todo o necessário para um candidato lograr seus objetivos. Analisando-se a arte de estudar poderemos ver uma série de desdobramento daquilo que chamam de "sentar a bunda na cedeira".

Não vou, claro, tratar de tudo, pois a meta-preparação para concursos é um tema muito amplo. Vamos aqui pegar apenas um desdobramento da preparação para o Exame de Ordem, com algo prático e efetivo.

Sim! Efetivo mesmo, pois já recebi relatos de candidatos que se valeram de algumas metodologias sugeridas aqui no Blog e colheram bons resultados. E se serve para uns, serve para todos.

O foco está em identificar as razões do insucesso em uma prova. Geralmente eu publicava este texto próximo da prova da 2ª fase, mas me convenci de que o acompanhamento do desempenho deve ser algo constante. E deve não só por mostrar os pontos fracos do candidato como também em razão do que se tornou a prova da OAB: uma máquina de moer.

A ideia do texto é ajudar no processo de identificação de deficiências e, paralelamente, servir de guia para o examinando definir com precisão o conteúdo a ser estudado.

É especialmente útil para candidatos que já reprovaram mais de uma vez, assim como também a proposta é perfeitamente válida para quem vai entrar no jogo agora.

Vamos pontualmente analisar 

1 - DIAGNÓSTICO

Por que o candidato sempre fica no zona limítrofe, acertando 37, 38 ou 39 pontos?

Aqui queremos descobrir a AMPLITUDE do potencial do candidato diante a prova da OAB.

Então eu pergunto: você já fez uma avaliação estatística de desempenho no Exame?

A ideia por detrás desse tipo de análise nasceu depois que me lembrei de um documentário sobre o ex-secretário de defesa norte-americano, Robert McNamara.

Antes de ser executivo da Ford e secretário de defesa em várias administrações nos Estados Unidos, McNamara trabalhou como estatístico no Departamento de Defesa americano. Durante os bombardeios no Japão, já no fim da 2ª Guerra Mundial, McNamara descobriu uma proporção entre a altura de voo dos bombardeiros e a eficiência de destruição dos alvos.

Ele mostrou sua descoberta para o general-comandante e este determinou um drástica redução na altura de voo no momento dos bombardeios, visando aumentar a eficiência da destruição.

Após algumas operações, um dos pilotos perguntou quem havia sido o idiota que teve esta ideia, pois um de seus companheiros havia sido alvejado e morto em combate, assim como muitos outros. O general respondeu: "este é o risco do soldado. Veja agora o quanto nós aumentamos a eficiência na destruição do inimigo. Isso reduzirá o tempo de guerra e assim, ao fim, menos dos nossos morrerão."

Ou seja: um aumento no risco aumentou a eficiência e o resultado final pôde ser alcançado com uma maior brevidade.

Bom, não estou contando aqui o efeito das duas bombas atômicas, mas os bombardeios convencionais mataram muitos mais japoneses do que elas propriamente analisadas.

A questão de fundo, e é o que nos interessa, está relacionada com a TOMADA de decisão com base no descortinamento dos fatos, dos métodos e de seus resultados.

O general tomou uma decisão estribado em informações. A proposta aqui é vocês, examinandos, determinarem o rumo dos estudos com base em uma LEITURA do desempenho REAL de vocês antes, bem antes da prova.

Tomando ciência de uma baliza correta, o examinando não desperdiça seu tempo nos estudos e não foca naquilo que não irá lhe agregar muito valor durante o processo de aprendizagem.

A vantagem e seus benefícios são incomparáveis.

Certamente o candidato tem um desempenho melhor em algumas disciplinas, sendo que em outras seu desempenho deixa a desejar.

Mas quais? Em que proporção?

Essa pergunta é FUN-DA-MEN-TAL para se desenhar uma solução!! Sem uma clara noção de suas virtudes e deficiências a dificuldade em se buscar soluções é imensa.

Pior, seus esforços serão direcionados na base do empirismo e do achismo: "acho isso", "devo fazer aquilo", sem um fundamento claro do que ser feito. Assim o examinando perde tempo e foco, a receita correta para colher uma reprovação.

Se você já fez 3, 4 ou 5 provas certamente terá um mar de dados para traçar seu desempenho estatístico por disciplina, e assim obter um diagnóstico de desempenho. Se não fez, está começando o jogo agora, poderá fazer simulados ou provas anteriores e colher os dados de desempenho.

Como montar o diagnóstico?

Primeiro separe as provas, uma por uma, e em cada veja quais e quantas questões foram destinadas pra cadas disciplina.

Você vai encontrar as seguintes disciplinas, por ordem de IMPORTÂNCIA (a ordem de importância é determinada pelo número de questões cobradas em cada disciplina):

Primeiro Grupo

Direito Civil,

Direito Processual Civil

Direito do Trabalho

Direito Processual do Trabalho

Direito Penal

Direito Processual Penal

Segundo Grupo

Direito Constitucional

Direito Administrativo

Direito Empresarial

Terceiro grupo

Direito Tributário

Direito Internacional

ECA

Direito Ambiental

Direito do Consumidor

Direitos Humanos

4 - Disciplina especial

Ética Profissional

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Em cada prova você terá de determinar os percentuais atingidos em cada disciplina. Pode parecer um trabalhinho muito chato (e é um trabalhinho chato mesmo!) mas ele é fundamental para você SE CONHECER.

Não o despreze!

É impossível achar uma solução sem antes identificar o problema. O preço a pagar até finalmente achar a aprovação pode ser caro demais (já vem sendo caro demais, não é?).

Vejamos um exemplo!

Em uma determinada disciplina, nas últimas provas, foram cobradas 7 questões. Vamos fazer uma análise hipotética do desempenho de um também hipotético candidato nas últimas provas:

VII Unificado - 7 questões / 3 acertos - 43% de aproveitamento

VIII Unificado - 7 questões / 4 acertos - 57% de aproveitamento

IX Unificado - 7 questões / 2 acertos - 28% de aproveitamento

Média percentual total de acertos - 42%

Isso deve ser feito com todas as disciplinas em todas as provas passadas.

(NOTA: é fácil fazer um cálculo percentual. Considerem, por exemplo, que 8 (ou 6, ou 3 ou qualquer outro número)  representa 100%. A partir daí faça uma regra de 3 simples: se 8 é igual a 100% (das questões de determinada disciplina em uma prova, X (que representa o número de acertos) é igual a Y (o percentual de acertos daquela disciplina percentualmente)

8 - 100%

X - Y%

Pode parecer preciosismo meu "ensinar" a fazer uma regra de três aqui, mas é só para ajudar na agilização do processo.)

Ao concluir o trabalho, prova por prova, você terá um quadro do seu desempenho, e também informações muito úteis para iniciar uma reflexão.

Aqui você pode constatar duas coisas:

1 - As disciplinas cujo desempenho é sempre ruim, ou seja, estão sempre abaixo dos 50% de acertos, tal como no exemplo acima;

2 - As disciplinas em que vocês se julgam bons, mas não são.

Essa descoberta, essencial como fator de autoconhecimento, permite a escolha do caminho para a adoção da solução mais adequada.

E qual seria ela?

2 - ESTRATÉGIA

E agora, com o diagnóstico, é possível traçar a melhor estratégia para conseguir a aprovação na 1ª fase.

E como defini-la?

Vamos considerar que vocês já possuam um LASTRO. O lastro seria aquele volume de conhecimento já apreendido e absorvido, o resultado dos seus estudos até agora. E é esse lastro, ao longo de várias provas, que sempre te conduziu ao resultado de sempre: 37, 38, 39 pontos.

Estudar TUDO não é uma solução adequada visando a obtenção daqueles pontinhos finais. O ideal é estudar certo.

Do diagnóstico, você irá definir com precisão exatamente quais disciplinas deverão ser estudadas.

Primeiro você vai atacar as disciplinas sempre consideradas como boas, mas cujo diagnóstico mostrou-se negativo.

Aqui temos dois detalhes:

1 - Ser bom em uma disciplina no Exame de Ordem significa gostar dela e, ao menos, ter acertado 80% das questões nas provas anteriores. Menos de 80% não representa ser bom em determinada matéria.

2 - Dessas disciplinas escolha aquelas que fazem parte dos dois primeiros grupos apontados aqui no post. Descarte as disciplinas dos demais grupos (exceto Ética).

DESCARTEM também dos seus estudos o Direito Civil e o Direito Processual Civil, exceto se estas forem disciplinas de predileção e você goste delas. São muito extensas para receberem, agora, sua atenção.

Quanto a Ética Profissional, todo candidato tem de acertar pelo menos 80% delas na prova, independente de gostar ou não delas. Elas representam 30% do necessário para a aprovação (se atingir 40 pontos). E, pelo pouco volume de conteúdo que representam, devem ser integralmente absorvidas.

PRESTE ATENÇÃO!!! Você NÃO vai estudar TUDO dos grupos mencionados logo acima! Você vai reforçar SOMENTE as disciplinas em que você se julga bom e que fazem parte dos grupos.

A meta aqui é estudar o que já gosta, reforçando o conhecimento em áreas estratégicas, pois certamente o estudo será mais rápido e eficiente; afinal, há predileção pelo(s) tema(s).

Claro! Se o diagnóstico apontar para isso. Se o desempenho nestas sempre foi bom, não há porque agora priorizá-las.

O segundo passo, mais importante ainda, é dar atenção para as disciplinas, também dos dois primeiros grupos em que o desempenho sempre foi péssimo.

Aqui, exatamente aqui, você conseguirá extrair a maior parte dos pontos restantes para os 50%.

"E devo estudar todas as disciplinas em que sou ruim?"

NÃO!

A sugestão de estudo aqui é tópica, estratégica, visando um resultado específico em função do TEMPO!

Escolham apenas 2 disciplinas desses dois grupos para estudar. Se vocês arrancarem na prova ao menos umas 6 questões de ambas atingirão o objetivo.

Prestem atenção no que eu acabei de escrever: ""A sugestão de estudo aqui é tópica, estratégica, visando um resultado específico em função do TEMPO! Escolham apenas 2 disciplinas desses dois grupos para estudar. Se você arrancar na prova ao menos umas 6 questões de ambas atingirá seu objetivo.""

Se, e somente se o tempo for AMPLO, o estudo deve ultrapassar essas duas disciplinas ruins. Se isto for possível e depende do timing de cada candidato, o rol de disciplinas ruins deve ser ampliado.

Não é o objetivo abraçar o mundo e virar doutor em Direito. Você quer passar, apenas isso! O esforço visa combinar o fator tempo com o fator otimização dos estudos.

Atacando disciplinas importantes que historicamente você sempre foi mal, com certeza um extra na pontuação será obtido.

E esse extra no dia da prova fará a diferença, junto com o reforço nas disciplinas cuja crença de ser bom revelou-se infundada.

Tudo não passa de uma solução com base na análise de LACUNAS no conhecimento. É uma estratégia de estudo pontual.

3 - ESTUDANDO

E como estudar as disciplinas eleitas para essa reta final?

Vou repetir aqui a fórmula de estudo que costumo recomendar. Lembrem-se que o estudo é um processo global, exigindo uma série de etapas para o candidato efetivamente ficar preparado.

O Estudo para o Exame de Ordem pode ser estruturado da seguinte forma, sem no entanto pretender excluir nenhum outro ou considerar este como o melhor:

1 - Leitura da doutrina (específica para o Exame) ou acompanhamento de uma aula acompanhado da leitura SIMULTÂNEA ou logo POSTERIOR da legislação correlata na medida da evolução da leitura ou aula (na aula online o aluno pode parar a aula, ler o que quiser, e depois continuar do ponto onde parou. Isso representa uma imensa vantagem em termos de estudo que a aula presencial ou satelitária não podem acompanhar). Aqui o candidato estabelece os vínculos entre os conceitos, as teorias e a norma;

2 - Elaboração pequenos resumos ao término de cada tópico do livro que está sendo estudado. A elaboração de resumos, feitos DE CABEÇA, não só ajuda a delimitar o que não foi apreendido com a leitura inicial como é uma importantíssima etapa de fixação do conteúdo. Se você lembra, o conteúdo, ao menos naquele momento está fixado;

3 - Revisão do conteúdo estudado dentro de um período em específico, de preferência, como estamos em uma reta final, logo após esgotar a doutrina da disciplina escolhida. Essa medida atende à preocupação em se avançar no estudo do conteúdo sem perder a informações previamente estudadas. Ou seja, avançar nos estudos sem esquecer o que ficou para trás. É uma ação basilar.

Todo estudante almeja a chamada "memória profunda", ou a fixação definitiva de uma informação em sua memória. Tal processo não acontece por milagre, uso de técnicas mirabolantes ou sistemas mágicos. É preciso ler, compreender, reforçar o conteúdo e disponibilizá-lo com constância, seja dando aulas (para si mesmo até), elaborando resumos sem efetuar nenhuma consulta ou resolvendo exercícios.

A revisão tem o fito de evocar um conteúdo anteriormente estudado e reforçar a fixação deste no cérebro.

4 - A resolução de exercícios é a última etapa desse processo, e ela é FUNDAMENTAL. Primeiro porque ela se enquadra como um processo ao mesmo tempo de revisão do conteúdo, de desafio ao raciocínio, em razão da adaptação do conhecimento a um problema hipotético, ajudando no desembaraço mental, como também representa uma etapa de adaptação ao sistema de enunciado da banca, e tal adaptação é VITAL!

Note que o processo de estudo não pode ser trabalhado de forma estanque - Você deve se inteirar da doutrina, confrontá-la com a lei, elaborar resumos e resolver exercícios. Essas etapas, distintas entre si, mas consideradas como um processo global, certamente produzirão ótimos resultados como método de aprendizagem.

Não incorra no erro de optar por apenas uma dessas abordagens em detrimento das demais. Pode ser que um candidato tenha sido aprovado apenas escolhendo uma sistemática, mas é muito provável que isso represente uma exceção, e não a regra.

Não vou vender nenhum tipo de ilusão: traçar o diagnóstico das reprovações será, sem dúvida, um trabalhinho MUITO chato.

Muito chato mesmo: repetitivo e enfadonho.

Mas as descobertas e constatações dessa avaliação serão extremamente reveladoras, e, bem além disso, valiosas.

Compensa passar um tarde descobrindo as virtudes e deficiências no conhecimento. É muito pouco tempo gasto comparando com o tempo (e dinheiro) a serem gastos após mais uma reprovação por dois ou três pontos.

Não perca tempo e faça o diagnóstico.

Assim, muito provavelmente, a próxima edição do Exame de Ordem será a edição da APROVAÇÃO!