Quarta, 29 de junho de 2016
Já escrevi aqui, e bem mais de uma vez, que o mercado NUNCA está errado. Os valores praticados são sempre valores sopesados entre diversos atores distintos, desconectados entre si, que avaliam a disponibilidade da mão-de-obra, a complexidade do serviço e, ao fim, estipulam os valores a serem pagos.
Como os sistema é poroso, ou seja, os valores são tornados públicos, o mercado estabiliza os preços e o ciclo se completa.
Se alguém oferece R$ 20,00 por uma diligência é porque esse valor encontra eco entre outros contratantes e também, é claro, entre os contratados. Estes, em regra, são jovens advogados (ou não tão jovens assim).
Seremos 1 milhão de advogados em agosto ou setembro deste ano!
Desta forma o sistema se estabiliza e os serviços são efetuados.
Sim! O mercado nunca está errado, mas isso não quer dizer que vocês não possam dizer NÃO para ele.
Pois é, o mercado pode ser afrontado, e, no caso, até deve.
Mas não vamos alimentar ilusões: a afronta ao mercado precisaria ser sistêmica para os valores ofertados serem majorados; entretanto, os agentes do mercado, como competem entre si, JAMAIS serão uníssonos em seus comportamentos. Isso significa dizer que uma solidariedade ampla e irrestrita entre jovens advogados dificilmente aconteceria, pois eles competem entre si pelas oprtunidades. Aliás, não há registro da corrência de tal solidariedade em qualquer lugar do país.
Evidentemente, o mercado não está nem aí para eventuais recusas. O "não" é facilmente superável porque os contratantes facilmente encontram os que dizem "sim" para propostas aviltantes e efetivam o serviço. A solidariedade entre os contratados, como dito logo acima, ou inexiste ou é muito tênue.
Possível nova proposta para o curriculum da graduação em Direito no Brasil é assombrosa!
O mercado, de uma forma meio simbólica, ri para quem diz não.
Mas o não, ainda assim, é importante. Importante para quem se recusa a se prostituir.
Esse não, no fundo, é uma mola. Porque quem recusa valores irrisórios fica, claro, sem o serviço e sem a remuneração decorrente decorrente dele, OBRIGANDO quem recusa a explorar nichos e situações que lhe ofereçam melhores contraprestações.
Quem diz não SAI da ZONA DE CONFORTO profissional.
Ela, a necessidade de comprar o "pão e o leite" dos meninos, continua lá. E nunca sairá de seu lugar. A necessidade de se mobilizar em busca de algo melhor gera mais stresss, mais dores de cabeça, mais agonia, e, também, abre as portas para outras oportunidades,pois gera mobilização, em regra derivada da necessidade e da indignação.
Por que o mercado da advocacia está tão mal das pernas?
Dizer não para quem avilta o serviço dos jovens advogados move o profissional para a frente, para a busca de mais treinamento, aperfeiçoamento, mais negócios e mais empenho.
Ninguém está dizendo que será fácil, mas saber dizer não para certas propostas deve ser visto como um incentivo e, acima de tudo, como uma manifestação de irresignação. Não contra o mercado, pois ele nunca está errado, mas sim contra si mesmo. Porque se alguém recebe uma proposta de R$ 20,00, é porque o mercado o vê como alguém que vale isto mesmo.
E ninguém vale R$ 20,00....exceto quem aceita.
Isso fere de morte a autoestima, o orgulho e a perspectiva de futuro.
Saiam da zona de conforto, aprendam a dizer não, e sigam em frente.
O mercado reconhece, cedo ou tarde, quem faz isso, e o recompensa pela atitude.
Ele, o mercado, sabe quem é quem.