Sexta, 1 de julho de 2016
Nós sabemos que na prova da OAB, seja na 1ª ou 2ª fase, nervosismo e a apreensão tomam conta dos candidatos. Afinal, muito está em jogo ali, na hora da verdade.
Na 2ª fase então, o momento derradeiro, a preocupação em fazer dar tudo certo cresce significativamente, pois fazer a peça e responder as 4 questões não é brincadeira para os fracos. Tudo, absolutamente tudo, é tratado com a maior seriedade e preocupação.
Mas certas pessoas tem um chip diferente na cabeça e funcionam em outra frequência, em outra sintonia. Os temores dos pobres mortais são vistos sob outro prisma, e a interpretação da realidade ganha contornos líricos.
O mundo é visto de forma diferente.
Imaginem, ou ao menos tentem imaginar, um candidato que ali, na hora da verdade, resolver escrever parte da sua peça prática em versos.
Sim! O examinando Rafael Clodomiro ousou fazer isso.
E mais! Não só ousou como também foi aprovado!
Sim! Surge um mito!
Rafael não foi gaiato: ele tem mesmo a poesia no sangue. Inclusive tem uma página no face que trata exatamente de poesia e Direito, o Poerídica!
Evidentemente, fomos entrevistar o poeta do Exame de Ordem! Confiram:
1 - Todo poeta tem alguma coisa de louco. Na hora que você resolveu responder em verso sua prova você tinha ciência do tamanho da ousadia ou não quis nem saber?
R: Poeta "realmente" gosta de viver no mundo da lua. Porém, desde que me formei em Direito, o meu lado poeta acompanhou o mundo jurídico, e assim manteve um equilíbrio entre emoção e razão. Como poesia é ousadia, é liberdade, sabia sim do risco de que estava correndo, mas, meu lado poeta (lado Direito) falou mais alto, prevaleceu.
2 - A ideia surgiu na hora ou você tinha em mente fazer isso antes da prova?
R: Já pensava sim fazer uma petição em versos. Inclusive, a minha intenção inicial era essa, uma Ação inteiramente poética (do endereçamento à assinatura). Porém, considerando o tempo de prova (que seria pouco tempo para escrever uma peça inteira em versos) e o número de linhas da resposta (que também seria pouco devido ser feito em versos), acabei contendo esse meu desejo principal, e apenas fiz uma poesia dentro da fundamentação da peça.
3 - Como surgiu esse gosto pela poesia?
R: Sou poeta desde os 12 anos, desde que descobri por meio de livros que existe uma forma de se expressar tão bela, tão simples e tão autêntica através de versos. E assim fui um "poeta normal" que escrevia sobre "temas comuns" até cursar Direito, até quando fiz minha primeira poesia jurídica "Quem somos nós para não fazer Direito?" que declamei na minha formatura.
4 - Como é o "Poerídica"? O qual é o objetivo do site, o que você tenta expressar através dele e qual seu objetivo com isto?
R: Poerídica é uma forma que encontrei de manifestar o amor que sinto pelo Direito através de poesias jurídicas. É um projeto cultural que traduz as lições do Direito usando a linguagem poética, ou melhor, com a devida licença poética. E assim, através da Poerídica, mostro a verdadeira face que acredito que o Direito apresenta: como uma disciplina da convivência harmoniosa, de luz, de consciência respeitosa e de amor. Ou seja, pra mim, o Direito é poesia, é aquilo te liberta e da indiferença te distancia.
Poerídica é, portanto, uma forma que encontrei de manifestar o amor que sinto pelo Direito através de poesias e músicas jurídicas.
5 - Foi seu primeiro Exame de Ordem? Como foi lidar com ele emocionalmente? Os poetas sofrem de uma forma distinta ou sentem medo como os demais mortais?
R: Sim, meu primeiro Exame. E decidi por fazer esse Exame após 3 anos formado, quando considerei que estava no momento certo para seguir essa carreira. Os poetas sentem com facilidade e intensidade todas as emoções, inclusive, o medo, não foi diferente não nesse ponto, rs
6 - Fale sobre o futuro. O que você tem em mente para a carreira?
R: Pretendo assim continuar com o trabalho em relação às poesias jurídicas e ainda este ano, lançar um livro sobre essa relação amorosa do Direito com a Literatura (Poesia), meu sonho é seguir essa carreira juridicamente de escritor e de poeta, e além, disso a de "advogado poeta" no ramo cultural, do Terceiro Setor, o qual é o tema da minha monografia de conclusão do Pós-Graduação em Gestão Pública Municipal na Escola de Contas e Gestão do TCE-RJ.
Confiram abaixo o relato do poeta do Exame de Ordem ao comemorar sua aprovação:
Caros amigos! É com imensa alegria (e com poesia) que comunico a minha aprovação no último Exame da OAB. Aqui no JusBrasil já vinha postando alguns poemas jurídicos, e também através da minha página Poerídica, pratiquei bastante o meu lado juridicamente poeta.:-) Certamente, posso dizer que isso me deu muita confiança para fazer poesia na prova.
O XIX Exame de Ordem Unificado, na matéria de Direito Constitucional, enunciou para a peça prático-profissional um caso sobre a morosidade do Congresso Nacional que ainda regulamentou o art. 7º, inciso XXIII, da Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. E visando essa regulamentação, determinado partido político, com representação no Congresso, queria ajuizar a medida judicial objetiva apropriada.
Sendo assim, a peça cabível que o examinador da FGV aceitaria era uma ADO, Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão.
Bom, foi isso que eu escrevi, uma ADO, só que um pouco diferente, né. Enderecei, qualifiquei o legitimado e estruturei a peça corretamente, porém, quebrei a formalidade quando poetizei na Fundamentação da Ação. No tópico ?Do Direito? não contive minha alma de poeta e ali escrevi alguns versos sobre o direito em questão.
4,2 foi a nota que o examinador me deu na peça. Aí vocês poderiam pensar: ?Será que ele te tirou 0,8 porque você fez poesia onde não devia?? rsrs certamente não foi por isso (e que bom!). Os décimos que perdi foi por descuido de citar alguns artigos.
Então, desse modo podemos concluir que fazer poesia não é descuido! É sim algo muito importante para esse mundo que precisa mais de lirismo e sentimento.
Vamos poetizar o Direito! \o/ Continuarei assim (mais do que nunca) manifestando o amor pelo Direito através de poesias jurídicas?