Educação universitária tradicional: Tsunami à vista?

Quinta, 19 de julho de 2012

O World Economic Forum se reuniu há poucas semanas em Nova Iorque (ler notícia, em inglês) para debater sobre o futuro da educação online nas universidades.

Chegaram a conclusões relativamente conhecidas para quem está lendo sobre isso constantemente, mas um pouco catastróficas para que for pego de surpresa. Eles acreditam que há um ?Tsunami? de mudanças vindo neste exato momento em direção à educação universitária tradicional e que esta será duramente afetada pelas tecnologias de informação e comunicação.

Algo mais ou menos parecido com o efeito dessas tecnologias sobre toda a indústria da mídia ao longo dos últimos 10 anos (cinema, música, televisão, jornal, revista, etc), que cada vez mais tem seu poder de impacto social limitado e consequentemente suas fontes de receitas de publicidade e distribuição diminuídas.

Eu não acredito nessas catástrofes repentinas, então acho que tudo vai migrar pouco a pouco para um novo patamar de padrões educativos ao longo dos próximos 10 a 15 anos. Obviamente, os países mais conectados e com sociedades menos burocratizadas e hierarquizadas chegarão a estes novos padrões mais rapidamente (principalmente América do Norte e norte da Europa, para ?variar?).

Para quem acompanha este blog, este post pode até parecer repetitivo, mas acho que valida o que vínhamos discutindo nas últimas semanas.

Bem, vamos às conclusões desse pessoal do WEF. Peguei o post original deles e fiz minha própria leitura sobre o assunto:

1) O processo já está em andamento: Essa mudança de padrão já foi iniciada e os jovens já estão naturalmente exigindo formas diferentes de aprender. A educação online já deixou de ser uma promessa e agora não é apenas aceita, mas também cada vez mais exigida pela sociedade.

2) A reputação está em franco crescimento: A reputação da educação online também está mudando, junto com as universidades que começam a oferecer experiências educativas de qualidade, algumas inclusive melhores do que as experiências puramente tradicionais.

Há um medo, porém: de que os conteúdos mais bacanas ? jogos ou vídeos, por exemplo ? se tornem mainstream (super adotados) rápido demais, fazendo com que a pluralidade de opiniões e formas de mostrar um assunto se torne limitada pela complexidade dos novos formatos (Imagine, por exemplo, quando quando as empresas de videogames começarem a entrar mais forte no mundo da educação? Quem vai poder competir com eles?)

E há uma grande oportunidade também: de que a educação online facilite o passo para a educação personalizada, onde cada aluno pode ter seus problemas individuais trabalhados, independentemente de sua idade ou aptidões.

Mas afinal, o que vai acontecer com as universidades? Sofrerão muita pressão nos preços, claramente, segundo eles. As pessoas não vão mais pagar simplesmente pela informação ou pelo diploma (como já discutimos). Pagarão por outros motivos que ainda não estão totalmente claros: Rede de contatos? Acesso direto ao mercado de trabalho (através de estágios)? Qualidade dos laboratórios, viagens e exercícios práticos?

Aquelas universidades caras e de elite continuarão existindo, pois sua reputação e recursos ?intermináveis? permitirão que elas se adaptem ao novo ambiente educativo de uma maneira ou de outra.

O maior problema acontecerá com aquelas universidades menores, com poucos recursos ou pouca capacidade de adaptação. Elas acabarão perdendo seus alunos para aquelas universidades grandes que façam os cursos ficarem mais baratos ou para aquelas menores que façam um bom trabalho na educação semipresencial.

Para mim este futuro está bastante claro. E para você, ainda não?

Nota adicionada em 17/Julho/2012: Ontem recebi um video-debate incrível justamente sobre este assunto (está em inglês). Salman Khan (do Khan Academy) and John Hennessy (presidente da Universidade de Stanford) debatem sobre o futuro da Educação Online. No debate, a palavra Tsunami é coincidentemente usada para descrever esse momento mágico de redefinição da educação mundial.

http://allthingsd.com/20120628/sal-kahn-and-john-hennessy-on-online-education-the-full-d10-interview-video/

Fonte: A Educação no Século XXI

Imaginem uma sala de aula tradicional, com seus 30 ou 40 alunos por professor. Ela tem um custo "Y" e proporciona um retorno "X" para a faculdade.

Agora imaginem um professor em São Paulo, por exemplo, tendo sua aula transmitida para todo o Brasil, com uma turma de 600 alunos. Ela terá um custo um pouco maior do que uma instituição tradicional, mas sua receita será multiplica imensamente por conta do elevado número de alunos.

Naturalmente, como acontece em todo o processo de massificação, o preço pela venda do ensino, como se trata de uma turma de massa, cai unitariamente, sendo mais barato para os alunos estudarem virtualmente.

Hoje existem, ao certo, 3 grupos educacionais (listados na bolsa inclusive) capazes de implementar tal estrutura: Kroton, Anhanguera e Estácio. São os maiores grupos educacionais do Brasil e os três, sem a menor dúvida, irão engolir as instituições menores, em especial por conta exatametne do uso da tecnologia e do preço menor.

Tal projeção não está no campo da adivinhação ou da futurologia: vai acontecer porque é o óbvio.

E a sobrevivência das instituições menores dependerá em uma boa medida da especialização e da excelência em alguns poucos cursos. Do contrário, enquanto negócio, irão sucumbir.

Não é difícil imaginar que todos (classes A, B, C e D), em um breve futuro, terão tablets tal como hoje todos possuem celulares. O custo do hardware sempre cai com o passar do tempo. Além disso, coma sofisticação da transmissão de dados (olha a rede 4G aí, por exemplo) ver uma aula online com qualidade e preço baixo não será nenhum drama.

Enfim, um novo paradigma se aproxima. É só uma questão de tempo, uma ou duas décadas no máximo.

Como isso se refletirá nos novos alunos? Como ficará a questão da formação de turmas? Do estabelecimento de experiências? Da troca de conhecimento? Do uso das tecnologias para produzir e conduzir a pesquisa acadêmica? Teremos modelos híbridos ou puros de educação digital com a tradicional?

Há muito o que se pensar e planejar.

Uma coisa é certa: seja o que for, será inevitável, e quem se opuser será engolido por esse "admirável novo mundo".