Educação online modificará processos de aprendizagem em todo o mundo

Quinta, 10 de maio de 2012

Por David Brooks, do New York Times

Internet provoca tsunami em universidades americanas

Educação online não é novidade. A Universidade de Phoenix deu início ao seu programa de graduação online em 1989. Quatro milhões de estudantes universitários americanos tiveram pelo menos uma aula online durante o outono de 2007.

Mas, ao longo dos últimos meses, algo mudou. A elite que dita o ritmo das universidades abraçou a internet. Não há muito tempo, cursos onlines eram só experiências interessantes. Agora, a atividade online está no cerne de como essas escolas vislumbram seu próprio futuro.

Na semana passada, Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) anunciaram o investimento de US$ 60 milhões para oferecer cursos online. Dois professores de Standford, Andrew Ng e Daphne Koller, montaram uma empresa, Coursera, que oferece cursos interativos em Humanidades, Ciências Socias, matemática e engenharia. Entre seus parceiros estão as Universidades de Stanford, Michigan, Penn e Princeton.

Muitas outras universidades de elite, incluindo Yale e Carnegie Mellon, estão trabalhando agressivamente na internet. John Hennessy, presidente de Stanford, resumiu a visão emergente em um artigo escrito por Ken Auletta, no New York Times: "Há um tsunami se aproximando."

O que aconteceu com o mercado de jornais e revistas está prestes a acontecer com a educação superior: uma reordenação via web.

Muitos de nós veem a mudança com inquietação. Será que a aprendizagem online diminuirá o contato direto entre pessoas, relação que define a experiência universitária? Será que ela vai impulsionar os cursos funcionais de Administração e marginalizar temas de difícil digestão online como a filosofia? A navegação online substituirá a leitura aprofundada?

Se alguns professores "estrelas" podem palestrar para milhões de pessoas, o que acontece com o resto do corpo docente? O padrão acadêmico será tão rigoroso quanto o de hoje? O que acontecerá com estudantes que não têm motivação intrínseca suficiente para se manter grudados ao laptop depois de uma hora? Quanto será perdido da comunicação - gestos, humor, contato visual - quando você não está de fato em uma sala com professores e estudantes passionais?

As dúvidas são justificáveis, mas há mais razões para se sentir otimista. Em primeiro lugar, a aprendizagem online dará a milhões de estudantes o acesso aos melhores professores do mundo. Milhares de estudantes já tiveram aulas de contabilidade com Norman Nemrow, da Brigham Young University, aulas de robótica com Sebastian Thrun, de Stanford, e Física com Walter Lewin, do MIT.

A aprendizagem online pode estender a influência das universidades americanas pelo mundo. Somente a Índia pretende construir dezenas de milhares de universidades na próxima década. Os currículos das universidades americanas poderiam permear essas instituições.

Pesquisas sobre aprendizagem online sugerem que ela, de modo geral, é tão eficaz quanto a da sala de aula. É mais fácil adaptar a experiência do aprendizado ao ritmo pessoal do aluno e a suas preferências. A aprendizagem online se mostra especialmente útil no ensino de idiomas e no ensino supletivo.

O fato mais importante e paradoxal que delineia o futuro da aprendizagem online é este: um cérebro não é um computador. Nós não temos espaços em branco em discos rígidos à espera de dados para serem preenchidos. Pessoas aprendem a partir de pessoas que amam e lembram-se de coisas que despertam emoções. Se você pensa em como o aprendizado de fato acontece, vai identificar muitos processos distintos. Há informação sendo absorvida. Há reflexão sobre a informação à medida que você relê e pensa sobre ela. Há reorganização da informação à medida que você a testa em discussões ou tenta relacioná-la com informações contraditórias. Por fim, há síntese, à medida que você tenta organizar o que aprendeu em um argumento ou em um artigo.

Educação online ajuda os alunos com o primeiro passo assim como Richard A. DeMillo de Georgia Tech argumentou, a educação online transforma a transmissão de conhecimento em uma mercadoria barata e globalmente disponível. Mas também força as faculdades a concentrarem-se nos demais processos de aprendizagem, onde está o real valor. Em um mundo virtual, faculdades tem de pensar seriamente sobre como estão lidando com a comunicação distribuída pela web e transformá-la em aprendizagem - o que é um processo social e emocional complexo.

Como mesclar informações online com discussões cara a cara, tutoriais, debates, orientações, escritos e projetos? Como construir capital social capaz de desenvolver comunidades de aprendizagem vibrantes? Educação online pode colocar as instituições de ensino superior em uma posição mais alta na cadeia de valor - para além da transmissão de informações, rumo a coisas mais elevadas.

Em um mundo online misto, um professor local pode optar não só por um material de leitura, mas montá-lo a partir de um conjunto de fontes, de todo o mundo, que vão fornecer diferentes perspectivas. O professor seria então mais responsável por tutoria e debates e menos por aulas expositivas. Clayton Christensen, da Harvard Business School, observa que será mais fácil quebrar as divisões acadêmicas, combinando leituras de cálculo e química ou apresentações de literatura e história em um único curso.

Os primórdios da web democratizaram radicalmente a cultura, mas agora estamos vendo uma luta pela qualidade na mídia e em outros lugares. As melhores universidades americanas deveriam ser capazes de se tornar referência na web.

Minha aposta é de que será mais fácil ser uma universidade péssima na internet, mas também será possível que as escolas e alunos mais comprometidos sejam melhores do que nunca.

Fonte: Estadão

Um trecho do texto acima me chamou a atenção: "Pesquisas sobre aprendizagem online sugerem que ela, de modo geral, é tão eficaz quanto a da sala de aula. É mais fácil adaptar a experiência do aprendizado ao ritmo pessoal do aluno e a suas preferências."

A aula online exige mais da atenção e permite a autogestão dos estudos, isso é um fato. O ponto é saber o quanto isso influencia no processo de aprendizagem como um todo.

Esse movimento é interessante porque está sendo encabeçado pela elite educacional norte americana. Não é pouca coisa, pois as melhores universidades do mundo, sem nenhuma margem para dúvidas, estão entrando no mundo educacional online.

Fortes razões pedagógicas devem embasar essa decisão estratégica.

Eu confesso que tenho minhas dúvidas, em especial quando o assunto é graduação, mas diante de um futuro inevitável, está na hora de rever conceitos, ainda mais em função dos atores envolvidos no projeto.

Sim, é inevitável, e quem não se adaptar vai ficar pelo caminho...