Sexta, 22 de janeiro de 2021
Vejam o gif abaixo. Ele é um trecho de uma filmagem das mais importantes: cientistas capturaram visualmente a forma como o cérebro cria memórias, filmando MOLÉCULAS à medida em em elas se transformam em pensamentos.
Fonte da imagem: Reprodução/Gizmodo
Uau!
E como é que um pensamento é formado?
Como vocês sabem, nosso cérebro é um gigantesco emaranhado de neurônios. Na realidade são aproximadamente 86 bilhões de neurônios, o que é algo impressionante. E essas células todas não correspondem ao total de células de compõem a massa encefálica, mas algo em torno de 50% do total, segundo a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da UFRJ, que há poucos anos conseguiu determinar com uma maior precisão o total dessas células no cérebro.
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Imaginem então o número de sinapses que interligam tudo isso aí. Será que dá para fazer ao menos uma estimativa?
Dá, e parece que são aproximadamente 100 trilhões delas, formando o órgão mais complexo da natureza: o nosso cérebro. A imagem abaixo mostra, mais ou menos, a complexidade de uma ínfima parte desse colossal sistema biológico:
Curiosamente, enquanto o genoma humano possui 3 bilhões de bases nitrogenadas (as ?letras? do DNA), o cérebro possui 85 bilhões de neurônios. Cada célula humana abriga cerca de 20 mil genes, mas o número de sinapses em um cérebro beira os 100 trilhões.
Poderíamos dizer que é uma mágica tudo isso funcionar tão perfeitamente.
Pois bem, os neurônios comunicam-se entre si através das sinapses. Na ponta de cada sinapse nós temos os dentritos, que agarram-se uns aos outros, mais ou menos da mesma forma que uma mão agarra outra.
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Aí vem o ponto: há uma forte crença entre os cientistas (crenças, e não fato cientificamente comprovado....ainda) que as memórias surgem quando são formadas conexões estáveis e DURADOURAS na sinapse, quando um neurônio fica em contato um com os outros.
A primeira imagem deste post, na verdade, foi formada quando cientistas da Universidade Yeshiva (EUA) colocaram marcadores fluorescentes em algumas moléculas envolvidas no processo de criação de memórias. Com isto, conseguiram vê-las "viajando" no cérebro de uma cobaia, em tempo real e em neurônios vivos.
Dois vídeos abaixo mostram isso:
First-Ever Footage of a Brain Thinking
The Molecular Basis of Memory: Tracking mRNA in Brain Cells in Real Time
Tem um texto explicando o processo com um pouco mais de propriedade sobre o tema:
E como foi feito o experimento?
Os cientistas estimularam, primeiramente, os neurônios do hipocampo da cobaia, local onde são feitas e armazenadas as memórias nos animais superiores (aves, peixes, anfíbios, répteis e mamíferos), para depois acompanhar as moléculas fluorecentes (marcadas), identificáveis como os pontos fluorecentes do vídeo (mRNA de beta-actina). Ao final do processo, as moléculas viajam pelas ramificações do neurônio, os dendritos ? e lá se formam as memórias.
O Dr. Robert Singer comentou sobre o experimento:
"Fizemos a observação de que os neurônios ativam seletivamente a síntese de proteínas e, em seguida, a desativam. Isso se encaixa perfeitamente em como acreditamos que as memórias são formadas. Estímulos frequentes ao neurônio tornariam o mRNA disponível em fluxos frequentes e controlados, fazendo com que a proteína beta-actina se acumule precisamente onde ela é necessária para fortalecer a sinapse."
Todo o processo foi documentado em dois artigos da Science.
Legal!
Aí vem a pergunta: com base nessa descoberta, dá para acreditar em "aprendizagem acelerada?"
Uma metodologia de estudo em específico, ou uma técnica, conseguiria "acelerar" o processo de viagem e fixação de uma memória observando o processo acima?
Eu duvido muito...
Vejam, a aprendizagem é, NECESSARIAMENTE, um processo neurofisiológico. Processo este construído ao longo de, literalmente, centenas de milhões de anos, exatamente quando os primeiros organismos unicelulares começaram e se unir e formar organismos multicelulares, quando o processo de diferenciação e especialização celular teve início.
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O pensamento e a formação das memórias obedecem, portanto, um padrão biológico, variando de espécie para espécie para espécie.
Sim, nós sabemos que existem pessoas mais ou menos inteligentes, com uma maior ou menor memória, mas "acelerar" o processo me parece meio complicado.
Aliás, não existem estudos que comprovem tais acelerações.
Existem drogas que influenciam o cérebro e podem influenciar o processo de estudo, tal como a Ritalina, mas ela, e nem nenhuma outra, alteram essa sistemática, exceto, talvez, para destrui-la, como como alguns estudos sobre o uso da maconha ou da cocaína por um bom período de tempo apontam.
Existem variadas formas de estudo, e todas são customizáveis em função do perfil do estudante. O objetivo de toda elas, evidentemente, é o de SEDIMENTAR o conhecimento de forma perene no cérebro. Umas são mais ou menos eficientes do que outras.
Certas técnicas favorecem a memorização, outras, a compreensão do conteúdo.
Até onde sei, um maior domínio sobre um determinado objeto de estudo demanda um tempo MAIOR de estudo, exatamente para que as moléculas possam formar conexões nos dentritos mais estáveis. Estou falando da formação da memória profunda.
A memória superficial, ou de curto prazo, se estabelece porque a sedimentação das moléculas formadoras da memória não é intensa e duradoura o suficiente. Simples assim.
A ideia de "acelerar a aprendizagem" é equivocada porque não é possível acelerar a viagem e a sedimentação dessas moléculas no cérebro. Ou, talvez isso seja possível, mas com o uso de substâncias específicas que talvez já existam, ou não.
Mas, em princípio, vamos assumir que não é possível alterar a fisiologia do cérebro - muitíssimo menos com métodos de estudo - para produzir um resultado melhor na preparação para concursos ou o Exame de Ordem. Não há base cientifica que sustente essa ideia.
O que eu quero dizer com isto?
Que estudar é um processo que demanda tempo. Que aprender com segurança depende de dedicação e demuita leitura, sem "mágicas" cognitivas envolvidas.
Uma ou outra metodologia pode ser mais eficiente se comparada com outras no processo de formação da memória, mas nenhuma vai alterar a fisiologia da sua cabeça.
Não podemos, evidentemente, esquecer que o cérebro é um órgão que passa por uma "plástica."
Como assim?
A plasticidade cerebral é a propriedade do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos. Se alguém resolve aprender uma nova habilidade, como por exemplo jogar tênis, certas áreas do cérebro ligadas ao desenvolvimento neuromotor passarão por um processo de adaptação, e serão mais desenvolvidas, ao longo de determinado tempo, em comparação ao cérebro de uma pessoa que não pratica este esporte.
E, caso o estímulo deixe de ser oferecido, as áreas cerebrais envolvidas no processo tendem a retornar ao estado anterior.
Logo, a plasticidade cerebral está vinculada ao processo de REPETIÇÃO DE ESTÍMULOS.
E é não só uma propriedade do cérebro como algo muito estudado por cientistas. E, certamente, faz parte da natureza e da fisiologia deste órgão.
Existem outras facetas, evidentemente, deste maravilhoso órgão, mas isto não vem ao caso aqui.
O importante é que vocês entendam uma simples verdade: NÃO existe mágica nos estudos.
Absorver o conhecimento depende de uma estratégia de estudo, de tempo, de dedicação. A base funcional disto tudo está PRESA à própria fisiologia e lógica de funcionamento do cérebro.
Sem milagres!
Com informações do GizModo.