E agora? Qual será o futuro de Eduardo Cunha, o inimigo do Exame de Ordem?

Segunda, 18 de abril de 2016

Ontem, durante a votação da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o site Sensacionalista soltou uma piada que reflete bem o perfil de Eduardo Cunha:

Ar condicionado do plenário foi desligado porque frieza de Cunha já congela o ambiente

Cunha foi atacado por muitos parlamentares, atacado de forma direta e agressiva, e, ainda assim, permaneceu imperturbável. Muitos atribuem a ele a responsabildiade pela condução e articulação do processo de impeachmet, tal sua capacidade de influenciar seus pares. Ontem mesmo li uma notícia dando conta que o impeachment começou a ser desenhado com ele venceu a eleição para presidente da Câmara. Não só ele aceitou o pedido de abertura do processo como também, seguramente, articulou nos bastidores.

É de surpreender o fato de que ele não tenha conseguido derrubar o Exame de Ordem. Para quem não sabe, desde agosto de 2011 o Exame virou alvo do deputado, quando a Ordem articuloiu para retirá-lo da comissão do Novo CPC. Em várias oportunidades atacou o Exame, sua taxa de inscrição, a própria OAB e dirigentes da instituição.

Levou a tentativa de acabar com a prova para o Plenário em pelo menos, se não me engano, 4 oportunidades (fracassando em todas), articulou audiências públicas contra a prova e se aliou aos movimentos que pedem o fimda prova.

Hoje a prova está na berlinda na Câmara dos Deputados, pois um aliado dele, o deputado Ricardo Barros (PP/PR), apresentou na CCJ da Câmara parecer favorável ao fim da prova. Esse parecer ainda está pendende de votação. Talvez, com a saída de Cunha, o jogo vire na CCJ em favor da OAB, mas um novo elemento entrou em jogo: o pedido de impeachment apresentado pela Ordem em março passado. Com isto, a OAB ganhou a antipatia dos governistas, e isto certamente pesará contra o Exame em eventual votação.

Aliás, ainda no dia da apresentação do pedido pela Ordem, parlamentares governistas dirigiram-se a Eduardo Cunha pediram que fosse colocado em pauta para votação o projeto de lei que visa acabar com o Exame de Ordem. A Revista Exame relatou este fato:

"Apesar de defender a bandeira, Cunha disse que não vai deixar que o assunto seja usado como retaliação dos governistas à entidade. ?Se for por conotação política, eu prefiro não votar?, respondeu. ?Não é por retaliação que vou me deixar usar por isso?, emendou."

Com a apresentação do pedido de impeachment, a OAB que já protagonizava um antagonismo com o Cunha e uma série de outros parlamentares ligados ao deputado, agora angariou a fúria da base governista, ficando em uma posição bastante fragilizada no congresso. Curiosamente, Cunha não se aproveitou da oportunidade e poupou a OAB.

Claro! O fez em função do contexto, e não de sua vontade de acabar com a prova.

A verdade é que o quadro político mudou significativamente, e não é mais possível antever o futuro da prova. Cunha continua sendo um antagonista da Ordem? Aliás, Cunha estaria acabado, pois pesam contra ele muitas acusações de corrupção, além de já ser réu de um procesos de corrupção no STF.

Ao menos sob o prisma político, a força do polêmico deputado ainda se faz sentir: ele poderia ser poupado da cassação por seus pares, "agradecidos" em função dele ter conduzido, em boa medida, o processo de impeachment:

Cunha entrega o impeachment e pode receber 'anistia' em troca, conforme noticiou o Correio Braziliense de hoje:

Um movimento de deputados contentes com a aprovação da continuidade do processo de impeachment de Dilma Rousseff estuda fazer uma espécie de anistia em agradecimento ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que permitiu o início do andamento da denúncia por crime de responsabilidade. De acordo com o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), ?essa grande maioria? dos votos à cassação da petista seria favorável a ignorar as denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro e falsa declaração aos colegas de Congresso.

Ele diz que há um entendimento de que Cunha foi fundamental para o avanço do processo. O presidente da Câmara responde a inquéritos no Supremo Tribunal Federal e já é réu sob acusação de receber US$ 5 milhões de propina de lobista de estaleiro que obteve um contrato de US$ 1,2 bilhão com a Petrobras.

Alvo de um processo no Conselho de Ética, Cunha pode ter o mandato cassado pelo plenário, situação em que perderia o foro privilegiado e estaria sob risco de ser preso pelo juiz da Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, assim como já aconteceu com três ex-parlamentares. Serraglio disse que a hipótese é discutida nos corredores da Câmara. Não seria uma anistia formal, mas apenas uma espécie de ?esquecimento do caso?. ?Acho que daqui a um mês, dois meses, ninguém vai querer saber de mais nada?, avaliou. Adversário de Cunha, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) disse que soube da mesma informação por meio de mensagens de celular que acabaram vazando na internet.

Para Alessandro Molon (Rede-RJ), o peemedebista seria ?premiado? com a blindagem por conseguir aprovar a cassação de Dilma. Integrante da tropa de choque do peemedebista, Paulinho da Força (PDT-SP) diz que, sem a ação do presidente da Câmara, ?não teria o impeachment?. Para ele, muitos deputados passarão a ver ?com maior simpatia? a ideia de não punir Cunha. Ele ainda não tem uma conta de quantos colegas apoiariam essa atitude. ?Não dá para fazer essa conta ainda?, afirmou. Serraglio disse que não sabe se apoiaria essa iniciativa. ?Não vou amaciar, mas eu sou muito pragmático. Tem que fazer uma avaliação de expectativa de resultados.?

O deputado Milton Monti (PR-SP) não acredita que Cunha será poupado. Segundo ele, a mesma pressão social do voto aberto para aprovar o impeachment de Dilma vai recair sobre a Câmara caso os parlamentares resolvam não punir o presidente da Casa. De acordo com Monti, qualquer presidente, menos um do PT, abriria o processo de impeachment porque a economia e a articulação política da petista estavam muito desgastadas. ?Isso não melhora a situação do Cunha?, conclui.

Um alto integrante do governo federal e interlocutor de movimentos sociais entende que é possível pressionar o Congresso com a ajuda até de defensores do impeachment de Dilma. Ele destaca que, nos movimentos anti-PT, existem os que são contra Cunha e até mesmo contra o PSDB.

Vitorioso

Para o cientista político David Fleischer, professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pode ser considerado o vitorioso dessa votação. ?Ele seria o grande vencedor, mas por pouco tempo. Tudo indica que ele deve cair. Provavelmente ele vai renunciar à presidência da Câmara para tentar salvar o mandato?, afirmou.

No entanto, Fleischer reconhece que, como um grande conhecedor do regimento da Casa, soube desempenhar o papel com muita habilidade. ?Ele atuou bem o modelo e está no ápice do cargo?, completou. O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), diz que ?dois terços da Casa votando contra Dilma não é vingança de Cunha?. Segundo ele, Cunha não terá condições de continuar na escala sucessória. ?O deputado não poderia assumir a presidência porque ele tem que renunciar. Ele já é réu. Aí o presidente do Senado assumiria e, se ele não tiver condição, assumiria o presidente do STF?, destacou. ?Assim que o vice-presidente Temer for o novo presidente, Cunha não será mais presidente da Câmara. Isso está garantido?, pontuou.

Fonte: Correio Braziliense

Cunha é, sem a menor sombra de dúvida, o deputado mais articulado do Brasil hoje, e tem "bala na agulha" para fazer muita coisa. Hoje, evidentemente, sua maior preocupação é a de sobreviver à turbulência política.

Vamos ver o que o futuro dirá.